Minas Gerais

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O sítio do sossego

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Nesses últimos tempos, ele colocou uma bandeira do Brasil no alpendre e no muro. Mas nunca falou o porquê dessas bandeiras penduradas - Foto: Reprodução
Sua única companhia era um violão velho e muito mal tocado

Era assim todos os dias, há quase quarenta anos.  Casa, trabalho. Trabalho, casa. Ganhando o mesmo salário. Pegando o mesmo ônibus. Tomando o mesmo caldo de cana. Comendo o mesmo pastel de queijo. Era um pão-duro de carteirinha.

Os vizinhos o achavam muito esquisito. Aquela casa grande. Uma imensidão de tão grande. Nunca tinha recebido uma visita. Ninguém do bairro nunca entrara naquela casa. Na verdade, ninguém sabia onde aquele homem esquisito trabalhava. Não tinha nem telefone. Celular, jamais! Sábado e domingo ficava na toca sem colocar o nariz para fora.

Sua única companhia era um violão velho e muito mal tocado. Os vizinhos escutavam aqueles acordes desafinados. Parece que só tocava uma única música e um único acorde: samba de uma nota só!

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Saía de casa às 6:38, pela manhã, e voltava às 16:15, pela tarde. A rotina era sua mais fiel irmã de cada dia.

Nesses últimos tempos, ele colocou uma bandeira do Brasil no alpendre e no muro. Mas nunca falou o porquê dessas bandeiras penduradas.

Sua casa não era feia e nem bela. Dizem as más-línguas que era imunda.

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Um dia, os vizinhos viram uma placa no portão da casa com os seguintes dizeres: “vende-se o Sítio do Sossego, com piscina, dez carros antigos e um helicóptero”.  

Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte.

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Larissa Costa