Na sociedade comunista, plenamente desenvolvida, o Estado desaparece
Em 1875, Marx destaca pontos essenciais em seu artigo: “Crítica ao Programa de Gotha”, onde estabelece a diferença entre o socialismo e o comunismo.
Socialismo e comunismo
Segundo ele, a sociedade socialista é aquela em que o peso negativo do passado ainda é muito grande, a divisão social do trabalho ainda não foi superada, o Estado ainda subsiste, os homens ainda não sofreram uma transformação profunda, pois nela, a competição ainda exige que cada indivíduo receba a sua parte da riqueza social de acordo com a sua produtividade.
Rússia foi um dos países onde as ideias de Marx começaram a penetrar mais cedo
Na sociedade comunista, plenamente desenvolvida, o Estado desaparece. Para ele, os indivíduos, ir desfrutar de toda a segurança econômica, podendo enfim, libertar-se de certas formas primárias de egoísmo. A divisão social do trabalho é superada. E a comunidade humana põe em prática a máxima do socialista utópico Prosper Enfantn1: “De cada um de acordo com suas possibilidades, a cada um de acordo com suas necessidades”.
Prevendo revolução russa
No dia 1 de fevereiro de 1879, o diplomata inglês Mountstruart E. Grant-Duff2, depois de uma conversa com Marx, escreve para a Imperatriz Frederika da Alemanha: “Com alguma razão, ele espera breve o desabamento total na Rússia; acha que isso começará por reformas de cúpula e que o velho edifício, incapaz de suportar as mudanças, será levado à completa ruína”.
De fato, em 12 de fevereiro de 1870, nove anos antes, Marx, após haver lido o livro do ensaísta russo Flerovsky3 sobre a classe operária no país dos czares, escreve a Engels: “A situação atual na Rússia é insustentável. A emancipação dos russos apenas acelerou o processo de dissolução. Uma terrível revolução social é iminente”.
Anos mais tarde, em 27 de setembro de 1877, desta vez, Marx escreve a Sorge4: “Todas as camadas da sociedade russa se acham em decomposição, tanto econômica e moral como intelectualmente. Dessa vez a revolução está começando no Oriente. E é lá que se encontra o exército de reserva e o bastião (até aqui intacto) da contrarrevolução”.
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É bem verdade que a Rússia foi um dos países onde as ideias de Marx começaram a penetrar mais cedo e com enorme rapidez. “O Manifesto Comunista”, traduzido por Bakunin5, teve boa repercussão. Além disso, o primeiro volume de “O Capital” foi lançado em 1872, em tradução russa, é claro, que com a autorização da censura czarista, e apesar de ser um volume muito grosso, chegou a vender mais de novecentos exemplares em menos de dois meses.
O centro da vida de Marx, era, além de suas filhas, sua esposa Jenny. Ela o acompanhou com admirável coragem ao longo de toda a sua acidentada vida, sempre colaborando com ele, participando de todos os seus problemas e de todas as suas dificuldades. Marx presava muito as opiniões de Jenny, dando-lhe a ler seus manuscritos e a ouvia com atenção antes de publicá-los.
Morte da esposa e da filha
Após a morte da esposa em 2 de dezembro de 1881, vítima de câncer no fígado, Marx sofre um grande abalo, tendo sua saúde declinado. A família então, o envia para Alger a conselho médico. De lá, em 1 de março de 1882, ele escreve a Engels: “Aqui entre nós, eu lhe estaria mentindo se não confessasse que meu espírito vive atualmente em grande parte absorvido pela recordação de minha mulher, que foi a melhor parte de minha vida”.
Marx passa algum tempo em Paris, na companhia dos genro. Conversando com eles, descobriu influências de Bakunin em Lafargue6 e influências de Proudhon7 em Longuet. Irritado, escreve a Engels em 11 de novembro de 1882: “Longuet me parece como o último dos proudhonianos e Lafargue como o último dos bakuninistas. O diabo os leve”.
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Longe de tais influências e também para não se irritar mais, retorna a Londres, prosseguindo então com suas leituras. Chegou até mesmo a acompanhar as experiências de Deprez8 relativas à transmissão da eletricidade em longa distância, além de organizar uma cronologia da história da Alemanha, estudou também a história do antigo Egito. Por outro lado, não deixava de se atualizar com a política; o que de vez em quando se aborrecia com as deficiências dos socialistas. Sabendo das tolices que eram ditas ou praticadas em seu nome, galhofava com Engels: “O que é certo é que eu – Marx – não sou marxista”.
Mais um forte golpe surge na vida de Marx, além da morte de sua esposa, desta vez, sua filha Jenny Longuet vem a falecer em 11 de janeiro de 1883. Seu estado de saúde então, se agrava; surge uma inflamação em sua garganta que o impede de falar e de engolir. Surge, então, um abcesso em seu pulmão, que o leva a falecer, em 14 de março de 1883.
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Após a morte de Marx, Engels escreve a Bernstein: “Durante alguns anos, desaparecerão, com ele, da cena, seus pontos de vista elevados”. De fato, sua previsão se confirmou, pois as ideias de Marx ao se difundirem, sofreram também um processo de empobrecimento filosófico, até mesmo durante a época da Segunda Internacional, criada em 1889.
2º e 3º volume d´O Capital, pós morte
Em 1885, Engels publica o segundo volume de “O Capital”. Em 1894, o terceiro volume.
Após sua morte em 1895, Karl Kautsky se incumbe de prosseguir na organização dos escritos inéditos de Marx, com o objetivo de publicá-los. Então, em 1905, ele inicia a publicação sob o título de “Teorias sobra a mais valia”, o que mais tarde ira constituir o quarto volume de “O Capital”, segundo o plano de Marx; a análise histórica das teorias econômicas que tinham abordado, antes dele, as questões tratadas de maneira sistemática nos três primeiros volumes.
Revolução russa e fortalecimento do marxismo
O renascimento de suas ideias só foi possível no final de 1917, quando, enfim, um partido marxista conseguiu na Rússia, pela primeira vez na história, tomar o poder e firmar-se nele, através de seu líder Vladimir Ilitch Ulianov, mais conhecido como Lênin, que revigorou o marxismo.
Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, Conselheiro do Sindicato dos Economistas (SINDECON/MG) e ex-Coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG)
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Barthélemy-Prosper Enfantin (08.02.1796 – 01.09.1864), reformador social francês
Mountstuart Elphintone Grant Duff (21.02.1829 – 12.01.1906), político, administrador e autor escocês
Bervi-Flerovisky (1829 – 1918), ensaísta russo
Friedrich Adolph Sorge (09.11.1828 – 26.10.1906), comunista alemão que emigrou para os EUA, em 1852, desempenhando importante papel no movimento operário local. Foi o tio-avô do espião soviético Richard Sorge
Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (30.05.1814 – 01.07.1876), foi um tórico político, sociólogo, filósofo e revolucionário anarquista. Considerado uma das figuras mais influentes do anarquismo
Paul Lafargue (15.01.1842 – 26.11.1911), cubano, genro de Marx casado com sua segunda filha, Laura. Seu mais conhecido trabalho foi “ O Direito à Preguiça”. Aos 69 anos de idade ele e Laura morreram juntos num pacto de suicídio
Pierre-Joseph Proudhon (15.01.1809 – 19.01.1865), filósofo político e econômico francês, primeiro e grande ideólogo do anarquismo
Marcel Deprez (12.12.1843 – 13.10.1918), francês, frequentou a École de Mines de Paris, mas não concluiu o curso; realizou o primeiro experimento para transmitir energia elétrica a longas distâncias
Edição: Elis Almeida