Revoltosos liberais de 1842 denunciavam relações Brasil/Inglaterra
Enquanto a Espanha vivia em conflito bélico com a Inglaterra, dede o século XVII, Portugal, embora submisso, mantinha relações contratuais e amistosas com aquele país.
Em 1703 a Inglaterra celebrou com Portugal um acordo de comércio denominado “Tratado de Methuen”, no qual a Inglaterra dava a Portugal a preferência na importação de vinhos e este se obrigava a adquirir tecidos da Inglaterra. Cinquenta anos de vigência desse tratado, em 1754, os produtores portugueses queixavam-se de que a pipa de vinho paga pelos ingleses no Porto a dez mil reis, era vendido em Londres por 70 mil reis. Tecidos, ferramentas e utensílios ingleses eram supervalorizados.
Em 1806, Napoleão invade Portugal e Dom João VI muda para o Brasil
Além disso, todos os bens destinados ao reino e à colônia, que tivesse passado por qualquer processo de transformação industrial, eram produzidos na Inglaterra. Nessas transações, a Inglaterra obtinha maiores saldos e com isso obtinha ouro e pedras preciosas do Brasil. Isso contribuiu para o desenvolvimento da revolução industrial da Inglaterra.
Portugal precisava da proteção da Inglaterra, com seu poderio naval, para navegar no Oceano Atlântico. O interesse da Inglaterra era a aquisição de produtos agrícolas de baixo valor, ouro, tabaco, algodão, açúcar de cana, couro de boi, carne de sol e pau-brasil para pigmento de têxtil.
Com ajuda dos ingleses, família real muda para o Brasil
No começo do século XIX a França expande seus domínios; entra em guerra contra a Inglaterra e exige que Portugal se mantivesse neutro e que os ingleses não se servissem de seus portos.
Em 1806, Napoleão decretou o bloqueio continental, proibindo os demais países de comerciarem com a Inglaterra, sob pena de serem invadidos. Portugal acabou sendo invadido por Napoleão, decretando o fim da dinastia de Bragança.
A Inglaterra conseguiu amparar a família real e a corte de Dom João VI a migrar para o Brasil. Esse fato contribuiu para aumentar a dívida de Portugal e sua dependência com relação à Inglaterra. O Brasil passa a ser uma colônia mais inglesa que portuguesa.
Incursões inglesas nas Minas Gerais
Logo de início, Dom João VI, em 1808, decretou a abertura dos portos do Brasil às nações amigas de Portugal. Os primeiros estrangeiros a excursionarem no interior do Brasil foram os ingleses.
O mineralogista inglês John Mawe foi recebido no Rio de Janeiro por Dom João VI e recebeu autorização para visitar as jazidas de diamante no Distrito Diamantino em Minas Gerais, onde permaneceu por mais de um ano.
Anglo Gold Ashanti é, hoje, símbolo da exploração do passado
Em 1920 o geólogo inglês Alexander Caldcleug percorreu toda a região central de Minas Gerais e de volta à Inglaterra levou tanta amostra de minerais que foi necessária uma tropa de doze burros para transportar a carga até o porto do Rio de Janeiro.
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Dom João VI trouxe para o Brasil o Alemão Barão de Eschwege, para desenvolver novas técnicas de mineração e fabricação de ferro, mas ele concluiu que faltava capital para formar companhias e tecnologia para explorar minerais no subsolo.
Independência nos moldes ingleses
A independência do Brasil, em 1822, foi nos moldes que a Inglaterra queria. Monarquia vitalícia, continuando a dinastia Bragança, e não uma república como nos demais países da América Latina.
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A Inglaterra foi a grande intermediária entre outras nações para o reconhecimento da independência do Brasil. Portugal exigia dois milhões de libras como indenização pela independência e a Inglaterra emprestou ao Brasil essa importância.
Em seguida, diversas companhias se formaram na Inglaterra visando a exploração subterrânea de ouro, a exemplo da Morro Velho, em Nova Lima e Gongo Soco em Barão de Cocais.
Teófilo Otoni
Os revoltosos liberais de 1842, liderados por Teófilo Ottoni, reclamavam das situações contratuais do Brasil com a Inglaterra. As mineradoras usavam mão-de-obra escrava e não pagavam devidamente os impostos.
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Passados 180 anos dessa queixa, podemos dizer que a Anglo Gold Ashanti faz o elo de ligação do passado com o presente e se beneficia da Lei Kandir, com isenção de tributos estaduais; extrai minerais com emprego de máquinas automáticas, no lugar de trabalho humano.
Ao invés de ferrovias e profissionais, emprega mineroduto que não proporciona rendas nos locais em que atua e levam junto com o minério nossas águas.
Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Elis Almeida