Não é segredo para nenhum brasileiro que manter a casa, alimentação e tudo o que envolve a vida no dia-a-dia está cada vez mais difícil. As reformas, planos e alterações legislativas aplicadas desde 2016 pelos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro promoveram uma deterioração nas condições de vida da população.
As compras do mercado já não rendem o mesmo; a gasolina então, está para hora da morte, aumentando o custo de todo tido de transporte e, por consequência, de outros produtos e serviços. Tudo isso num cenário de desemprego, insegurança e falta de direitos.
Maior aumento é em itens comuns a mesa dos trabalhadores
Mas não é só a ‘sensação’ que invade os trabalhadores - e seus bolsos! Os dados provam que o país vai de mal a pior. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou em 10,06% em 2021, confirmando este como um dos anos de maior inflação desde 2015.
Inflação penaliza mais pobres
O resultado imediato da alta inflação é o aumento no custo médio da cesta básica. De acordo com pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre fevereiro e março deste ano, os itens que tiveram aumento de preço em todas as capitais do país são: feijão, óleo, pãozinho, farinhas de trigo e mandioca, tomate, açúcar, manteiga e leite.
Cortamos carne de boi, agora é só frango na cozinha
Infelizmente, itens muito comuns na mesa da família brasileira. O acréscimo para alguns alimentos chega até 15% em apenas um mês.
Elexsandra Nogueira dos Santos, 43, é Assistente Administrativa, em emprego estável, com direitos e carteira assinada. Ainda assim, a família sente – e muito! -, o aumento do custo de vida. “A gente hoje não consegue comprar nada. Você deixa R$ 100 no mercado e não leva nada”, lamenta.
Mãe de três filhos, entre 6 e 17 anos, Elexsandra conta que precisou trocar o óleo de cozinha pela banha de porco, ‘mais em conta’. A carne de boi está fora da mesa da família, substituída pelo frango. “A gente faz invenções com o frango na cozinha. É o mesmo franguinho, mas diferente a cada dia. Exige mais criatividade em casa para driblar a inflação”, relata.
E o salário está mesmo mínimo
Assim como Elexsandra, a maioria dos brasileiros está vivendo um “empobrecimento”. Reajustado em janeiro deste ano, o salário mínimo teve um acréscimo de 10,16%, valor da inflação de 2021 medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, aumentou somente para cobrir gastos, não tendo aumento real no salário.
A isso junta-se a política de retirada de direitos, desmonte das políticas públicas e a precarização do mercado de trabalho, e o trabalhador chega a sofrer uma diminuição real no salário. No trimestre encerrado em janeiro, a renda média foi de R$ 2.489, perda de 9,7% em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com o IBGE. A perda representa R$ 266 em rendimento médio habitual (renda descontada a inflação).
Renda média caiu 9,7% em 12 meses
Bruno Lazzarotti Diniz Costa, pesquisador da Fundação João Pinheiro, explica que a perda de capacidade de consumo – o “empobrecimento” -, alcança grande parte dos brasileiros, e afeta principalmente os mais pobres. Isso por que os principais produtos que sofreram alteração são energia, alimento e transporte, que aumentaram ainda mais do que a inflação, e se concentram nos itens que compõe o consumo dessa parte da população.
O sociólogo exemplifica: “A alimentação representa cerca de 10% do salário de uma pessoa que ganha cerca de R$8 mil. Já para um trabalhador que recebe R$1.200, o gasto pode chegar a 60% de toda a remuneração”.
De acordo com estudo realizado pelo Dieese, o salário mínimo necessário para garantir qualidade de vida às famílias brasileiras seria de R$ 6.394,76, 5 vezes o salário atual definido pelo governo, de R$ 1.212,00.
Precarização e Desemprego
Fruto da Reforma Trabalhista, de Michel Temer, e da Previdência, de Jair Bolsonaro, a ‘pouca e lenta’ recuperação do mercado de trabalho se dá basicamente por posições precárias. Ou seja, menos formalizadas, menos protegidas em termos de previdência e outros direitos, pior remuneradas e mais instáveis, a exemplo dos motoristas de aplicativos.
Mesmo nos setores formais do mercado de trabalho, a maioria dos reajustes e acordos salariais tem sido incapazes sequer de repor as perdas inflacionarias. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que em 2018, 9% das categorias negociaram salários abaixo da inflação. Três anos depois, o número já é de 47%.
Brasil tem mais de 12 milhões de desempregados
O cenário fica ainda mais grave quando se voltam os olhares para o desemprego. O Brasil fechou o último ano com mais de 12 milhões de desempregados, sendo 30% estavam em busca de uma vaga há dois anos ou mais, o que representa a maior taxa de desemprego de longo prazo desde 2012, de acordo com o IPEA.
“Todas estas frentes de ataque provocam uma deterioração aguda das condições de vida da população, em especial dos mais pobres. A consequência é como se a vida das pessoas em algum momento deixa de ter piora de grau e, a partir de um certo limite, a vida entra em colapso”, observa Bruno.
Ele aponta que é grande o peso do desmonte das políticas públicas, como saúde e educação, e principalmente políticas de assistência social, como merenda escolar, Bolsa Família e outros. “Sem o apoio que garantia um padrão de vida, ainda que pobre, a pessoa não tem mais condição de pagar moradia, transporte para o trabalho, conta de luz e acaba indo para a rua”, observa Bruno.
Em pesquisa realizada pelo IPEA em 2020, 221.869 brasileiros viviam nas ruas naquele ano, um aumento de 140% desde 2012. Para o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), cerca de meio milhão de brasileiros podem estar morando nas ruas hoje, especialmente por falta de condições financeiras para pagar moradia.
Gasolina cara, tudo caro
Desde o início do governo Bolsonaro, a gasolina e o gás de cozinha subiram cinco vezes mais que a inflação oficial medida pelo IPCA no período, enquanto o diesel subiu quatro vezes, informa um levantamento feito pelo Dieese.
Desde janeiro de 2019, início da gestão Bolsonaro, a gasolina teve reajuste de 116%, ante uma inflação de 20,6% no período. No gás de cozinha, a alta foi de 100,1%, e no diesel, de 95,5%. O aumento do combustível tem efeito direto na economia inteira, uma vez que é necessário o transporte para os produtos comercializados no país.
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A explosão do preço da gasolina é resultado da política de Preço de Paridade de Importação (PPI), que vem sendo pratica pela Petrobras desde 2016. Foi uma das primeiras medidas tomadas pelo governo de Michel Temer e vem sendo continuada por Jair Bolsonaro. A partir dessa política, a estatal reajusta os preços dos combustíveis no país de acordo com a variação do preço do petróleo no mercado internacional, que é estipulado em dólar.
Edição: Elis Almeida