No domingo, dia 22 de maio, ocorrerá a I Romaria dos Povos, das Águas e do Meio Ambiente, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
O evento religioso será promovido pelos movimentos sociais Salve Santa Luzia e SOS Vargem das Flores, com a colaboração da Arquidiocese de Belo Horizonte, das paróquias “Bom Jesus e Nossa Senhora Aparecida”, “Santa Luzia” e “São Raimundo Nonato”, bem como da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais, da Pastoral Afro Brasileira, da Pastoral Ecumênica da PUC Minas e da ONG Solidariedade.
Será uma romaria inter-religiosa, em defesa da cultura, da luta do povo preto de Santa Luzia e região, e contra as ameaças de destruição socioambiental do Rodoanel Metropolitano de Belo Horizonte sobre as comunidades tradicionais e quilombolas.
Atividade ocorre no domingo, 22 de maio
O projeto do Rodoanel prevê que esta rodovia de grande porte vai perpassar 13Km do território de Santa Luzia, há apenas, 200 metros do Cemitério dos Escravos, 3km do quilombo de Pinhões e 5Km do quilombo Manzo Ngunzo Kaiango. Haverá impactos também nos quilombos de Nossa Senhora do Rosário de Justinópolis, em Ribeirão das Neves, Arturos, em Contagem, Mangueira, em Belo Horizonte e Pimentel, em Pedro Leopoldo.
A Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é signatário desde 2004, estabelece que obras de infraestrutura a até 10Km de comunidades tradicionais, demandam a adoção de um protocolo de Consulta Prévia, Livre e Informada (CPLI). Além de não ter realizado as consultas prévias sobre o Rodoanel, o governo Romeu Zema (Novo) promoveu, no último dia 8 de abril, a flexibilização da Consulta Prévia, Livre e Informada em Minas Gerias, por meio de uma resolução conjunta publicada pelas secretarias estaduais de Desenvolvimento Social e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, colocando, assim, as comunidades tradicionais mineiras, em situação de vulnerabilidade e risco.
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Frente as várias irregularidades identificadas no projeto do Rodoanel, bem como o seu grande potencial poluidor e degradador, afetando o meio ambiente, comunidades quilombolas, sítios arqueológicos e bairros urbanos periféricos, o deputado federal Rogério Correia (PT) e a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), protocolaram representações na Procuradoria-Geral do Ministério Público de Minas Gerais e no Ministério Público Federal.
No dia 5 de abril de 2022, a Academia dos Juristas Católicos Humanistas de Belo Horizonte e a Comissão Arquidiocesana Justiça e Paz da Arquidiocese de Belo Horizonte, fizeram uma Manifestação de Apoio a representação dos deputadas, em defesa das comunidades tradicionais.
Abraço Simbólico
A Romaria dos Povos, das Águas e do Meio Ambiente, é a segunda atividade desenvolvida pelos movimentos Salve Santa Luzia e SOS Vargem das Flores, no Cemitério dos Escravos, contra o Rodoanel. No dia 2 de novembro de 2021, foi realizado o Abraço Simbólico ao Cemitério dos Escravos durante a Ação de Graças da tradicional Missa Afro, realizada pela Pastoral Afro da paróquia São Raimundo Nonato, em memória dos escravizados ali enterrados.
Passos dos primeiros negros escravizados
Desta vez, com a romaria pretende seguir os passos dos primeiros negros escravizados que foram enviados da antiga Sesmaria das Bicas para a região em que hoje se encontra o quilombo de Pinhões. Será uma travessia mística, por uma estrada cheia de histórias, e reunindo os vários credos religiosos contra um projeto rodoviário, que é compreendido por vários religiosos e ativistas, como sendo de Racismo Ambiental, por colocar comunidades étnicas em situação de degradação socioambiental.
A abertura da romaria ocorrerá às 8 horas no Cemitério dos Escravos, na estrada rural Dâmaso José Diniz, junto a capela de Nossa Senhora da Conceição, em terras da antiga Sesmaria das Bicas, em Santa Luzia. Logo após a benção inicial, a romaria seguirá pela MG-020 até a capela de Nossa Senhora do Rosário, no quilombo de Pinhões, com previsão de chegada às 10 horas da manhã, para a celebração de uma Missa Conga, realizada pela Pastoral Afro da Paróquia São Raimundo Nonato.
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Durante a Romaria ocorrerão três paradas de 5 minutos, para a reflexão contemplativa e o descanso. A primeira parada será em frente a Capela de Nossa Senhora da Conceição, no entroncamento da estrada Dâmaso José Diniz com a MG020. A segunda parada ocorrerá no encontro do Rio das Velhas com a MG020. E a terceira parada ocorrerá na praça do quilombo de Pinhões. Após a Missa Conga, haverá um almoço, com gastronomia quilombola luziense, na Capela de Nossa Senhora da Conceição, na comunidade de fé dos Fechos, promovido pela ONG Solidariedade.
Presença de lideranças religiosas
Já confirmaram a participação na romaria e na missa conga, os seguintes líderes religiosos: Dom Vicente Ferreira, que é bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte; Babalorixá Erisvaldo Pereira do Santos, da Casa de Axé Ogum Traz Alegria; Pastora Irani Junia de Oliveira Santos, pastora da Comunidade Evangélica Caminho da Vida, de Contagem; Pe. Jotaci Brasiliano, da Pastoral Afro Brasileira; Pastor Flávio Lages, da Igreja Presbiteriana Jardim Alvorada de Belo Horizonte e membro da Pastoral Ecumênica da PUC Minas; Frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais; e Maria Goreth Costa Luz, que é Rainha Estrela Guia da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário do quilombo dos Arturos, em Contagem. Outras lideranças religiosas estão em fase de confirmação da participação na romaria.
Por fim, o movimento Salve Santa Luzia convida todos e todas a participarem da I Romaria dos Povos, das Águas e do Meio Ambiente. É recomendado que todos usem calçados confortáveis para a caminhada de 6 km, que estejam bem agasalhados para se protegerem do frio dos primeiros instantes da manhã e que levem água e guarda-sol para se protegerem do calor do período do final da manhã.
Glaucon Durães da Silva Santos é doutorando em Ciências Sociais pela PUC Minas, conselheiro municipal do Patrimônio Cultural de Santa Luzia, membro do movimento Salve Santa Luzia e leigo da paróquia Bom Jesus e Nossa Senhora Aparecida, Forania de Santa Luzia
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* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Elis Almeida