Em 1909, é realizado em Paris, uma Conferência Geral do POSDR
Era dezembro de 1908, quando o jornal “Proletari” passou a ser editado em Paris. Desde sua chegada a Genebra, em 1905, Lenin reorganizaria o jornal, tornando-se o órgão dos bolcheviques, onde ele cuidaria para que o mesmo chegasse à Rússia; pois, a derrota na primeira revolução não conseguiu reduzir suas energias, sua constante vontade de luta.
Ao começarem a propagar conceitos que discordavam da filosofia marxista, Lenin passa a escrever em Paris, o livro: “Materialismo e Empiriocriticismo”, em defesa da filosofia de Marx e Engels. Ao terminar de escrever, ele o publica com o pseudônimo de V. Ilin. Então, escreve a Gorki: “você deve compreender e compreenderá naturalmente que quando um homem do Partido vê que é errônea e nociva certa propaganda, tem a obrigação de intervir contra ela”.
Paris
Paris era o centro dos exilados russos, e é para onde Lenin e sua esposa se transferem, vivendo no subúrbio da capital francesa por três anos e meio, até junho de 1912, no prédio da Rua Marie Rose, 4 onde mais tarde é organizado um Museu Lenin.
As condições de vida em Paris eram muito difíceis, para se atualizar, Lenin percorria quase toda a cidade de bicicleta, onde ia à Biblioteca Nacional ler revistas, jornais e livros. O que fez, certa vez, ser atropelado por um automóvel, felizmente ele nada sofreu, mas sua bicicleta ficou destruída. Tendo processado o dono do automóvel, escreveu então à sua mãe: “era um visconde, que o diabo o carregue.”
Dirigente bolchevique declarou guerra a I Guerra Mundial
Lenin sempre viveu modestamente. Recebia um pequeno salário como presidente do partido bolchevique, estava em uma situação financeira muito grave. Tudo era dificuldade para ele; tinha como principal meio de subsistência seus livros. Gorki emprestou muito seu apoio financeiro, e simpatizantes ricos ajudavam o partido e aos seus membros. O conjunto de sala contava apenas com um par de cadeiras e uma pequena mesa
Junho de 1909: Conferência Geral do POSDR
Em junho de 1909, é realizado em Paris, uma Conferência Geral do POSDR, onde seria discutido o problema do liquidacionismo – movimento menchevique que pretendia a liquidação das organizações ilegais do partido, cassando, assim, o seu trabalho clandestino. Lenin, então, apresenta um relatório contra, onde, através do “Proletari”, ataca corajosamente os que queriam liquidar o Partido.
Sua luta por um partido revolucionário forte tem uma forte resistência de Trotski que defendia o liquidacionismo. Lenin o estigmatiza como “Judas Trotski”.
A Estrela
Em 1910, Lenin escreve para o jornal “A Estrela”, em São Petersburgo e para a revista “Pensamento”, em Moscou, mais de 50 artigos. Pois tem início uma reanimação do movimento operário na Rússia.
Em agosto desse mesmo ano, ele toma parte ativa no VIII Congresso da II Internacional que se realizou em Copenhague; onde fez várias conferências sobre o movimento operário internacional. Após o Congresso, foi a Estocolmo encontrar-se com sua mãe, sendo essa a última vez que a viu, pois ela vem a falecer em julho de 1916, em Moscou.
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Em 1911, ainda em Paris, ele funda uma escola do Partido, destinada a ensinar aos operários o trabalho clandestino. “Sem teoria revolucionária não pode haver movimento revolucionário”.
Mobilizações operárias sacodem a Rússia de 1912
Começa o ano de 1912 na Rússia, uma forte mobilização do movimento operário. No entanto, a unidade dos trabalhadores seria abalada da luta contra o czarismo, pelos liquidadores do POSDR. Lenin além de vários bolcheviques toma medidas para a convocação de uma Conferência do Partido, na Checoslováquia, em janeiro de 1912, conhecida como a “Conferência de Praga”, onde consegue reconstruir o Partido e seu Comitê Central. Então retorna à Paris.
A situação dos trabalhadores, na Rússia era desesperadora: salários de fome, exploração desumana. A voz da minoria na Duma, não era ouvida, o que ia acumulando um descontentamento no povo.
No início de abril de 1912, às margens do rio Lena, na Sibéria, centenas de trabalhadores iam pacificamente conversar com os patrões, afim de reivindicar melhores salários e condições de trabalho, eis que a polícia czarista abre fogo, matando mais de quinhentos homens. Vários protestos ocorrem na Rússia, com muitas greves, manifestações e comícios, devido a esse bárbaro acontecimento.
Pravda
Em 22 de abril de 1912, é lançado o primeiro número do Jornal “Pravda” (A Verdade). Lenin passa a escrever para o jornal, onde assinala: “os operários desunidos não são nada; unidos são tudo”. De abril de 1912 a 1914, o “Pravda” publicou quase que trezentos artigos de Lenin.
Durante o ano de 1913, são realizadas diversas Conferências do Comitê Central, em Cracóvia e Poronin, com grande desempenho dos funcionários do Partido na consolidação do POSDR. Em abril, Lênin escreve vários artigos na Revista “Educação”, entre eles: “As Três Pontes e as Três Partes Constitutivas do Marxismo”.
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De abril de 1913 até o final de julho do mesmo ano, Lenin realiza várias Conferências em Genebra, Zurique, Berna, Paris, Leipzig e Cracóvia, sobre a questão nacional. Seus temas eram: plena igualdade de direito dos povos, direito à autodeterminação das nações e, principalmente, firme união dos operários em organizações, sob a bandeira do internacionalismo proletário.
1914: greve e guerra
Com as greves se sucedendo na Rússia no primeiro semestre de 1914, cerca de um milhão e meio de trabalhadores, aderiram a ela.
No entanto, em agosto de 1914, tem início a I Guerra Mundial. Onde de um lado defrontam-se Alemanha e Áustria-Hungria, contra Rússia, Inglaterra e França.
A I Guerra Mundial foi um rude golpe no socialismo internacional, pois, o marxismo acreditava que uma guerra assim, consolidaria o movimento operário em todos os países capitalistas. Os trabalhadores iriam se unir para se oporem à participação no conflito e se lançariam na guerra civil revolucionária. Nada disso pois, aconteceria.
Os socialistas alemães apoiaram os propósitos bélicos de seu país; Plekhanov rompe abertamente com Lenin. Lenin, no entanto, permanece firme em seus princípios, tendo os bolcheviques como o único grupo que o apoiou.
Guerra à guerra
Quando explode a I Guerra Mundial, Lenin e sua esposa, encontravam-se na Galícia, território Áustro-Húngaro, quando a Áustria declarou guerra à Rússia. A polícia austríaca então o prende, no início de agosto de 1914, sob a falsa acusação de espionagem a favor do Governo Czarista, ou seja, ele era um russo em território inimigo. Ele era resolutamente contra a Guerra. Com a intervenção de homens públicos socialistas austríacos, ele é solto três semanas após sua prisão, seguindo então para a neutra Suíça.
De Berna, na Suíça, Lenin observa o desenrolar da catástrofe, redige então, o manifesto: “A Guerra e a Social-Democracia na Rússia”, expondo os princípios bolcheviques acerca da guerra. Lenin exorta os povos a declararem guerra à guerra. O que era preciso, era não voltar as armas de irmãos contra irmãos, escravos assalariados de um país contra o outro, e sim voltar as armas contra os governos reacionários burgueses. Ou seja, que na Rússia, as armas fossem voltadas contra o Governo czarista reacionário, imperialista e opressor.
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Lênin exortava o rompimento com todos os oportunistas e a criação da III Internacional. Em uma carta destinada a Inessa Armand, ele escreve: “É este o meu destino. Campanha após campanha contra as cretinices políticas, as baixezas, o oportunismo”.
Ao final de 1915, ainda em Berna, na Suíça Lênin publica a obra: “O Socialismo e a Guerra”, tendo sido publicado em várias línguas, o que serviu de base ideológica à unificação dos internacionalistas revolucionários.
Imperialismo Fase Superior do Capitalismo
No início de 1916, ele e a esposa mudam-se de Berna para Zurique, também na Suíça. Em um exaustivo trabalho de 760 páginas de cadernos, com estatísticas de muitos países e longas passagens em inglês, francês, alemão, ele escreve: “O Imperialismo Fase Superior do Capitalismo”, mostrando que a partir do início do século XX, o capitalismo começaria um novo período de seu desenvolvimento, a fase do imperialismo. Com esse livro, ele foi o primeiro teórico marxista a descobrir a essência da nova época em que entrara a humanidade. Chega então, a conclusão de que, na época do imperialismo, a revolução socialista poderia triunfar, inicialmente, em apenas um só país capitalista, e não em todos ou na maioria dos países capitalistas, como pensavam os marxistas.
Da neutra Suíça, tendo aí residido, até o final de 1916, Lenin chega às vinte e três horas do dia 3 de abril de 1917 na estação Finlandski, em Petrogrado.
Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG)
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
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Edição: Elis Almeida