Minas Gerais

Coluna

A grande revolução socialista de outubro de 1917

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Um líder com capacidade de explicar ideias profundas em termos simples - Foto: Reprodução
Em fevereiro se forma um Governo Provisório

Era o início de 1917, as várias derrotas ocorridas nas frentes de batalha, a desordem econômica e a fome punham escancarado a senilidade do czarismo. Havia um grande descontentamento em todas as camadas da população.

Em Petrogrado, ministros eram nomeados e demitidos em questão de dias. Tropas inteiras se negavam a cumprir as ordens e abandonavam as trincheiras. Com isso, os alemães avançavam e tomavam grande parte do território russo. Milhares de soldados eram mortos. Esse era o quadro da Rússia czarista.

Janeiro: soldados, camponeses e operários unidos

Em 9 de janeiro de 1917, com a comemoração do aniversário do “domingo sangrento”, houve várias manifestações em muitas cidades contra a guerra. As armas passaram a ser voltadas contra o czarismo. Lenin, ainda em Zurique, observava meticulosamente, pouco a pouco, o desenvolvimento do que acontecia em seu país.

Logo no início de fevereiro, o Partido Bolchevique surge da clandestinidade, e organiza uma grande greve em Petrogrado, onde farão parte, mais de duzentos mil operários. Em passeata, o povo vai às ruas da capital aos gritos de “Abaixo a autocracia! Abaixo a guerra! E pão!”.

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Soldados e camponeses se unem aos operários. O governo tenta sufocar a revolução que começava, mas já era impossível fazê-lo.

Fevereiro: Governo Provisório

No dia 22 de fevereiro, o “Pravda”, volta a circular, após ter sido fechado. Nicolau II renuncia, indo para sua casa de campo nas redondezas de Petrogrado. O czarismo, finalmente cai. Termina assim o reinado dos Romanov, que durou três séculos. A Rússia começa a respirar o ar da liberdade.

Em todo canto são formados sovietes de deputados operários, soldados e camponeses, órgãos do poder popular.

Lenin envia um telegrama aos bolcheviques, que expunha os desafios que se colocavam para o partido em consequência da revolução. Era seu desejo retornar à pátria, passando pela França e Inglaterra e pela Suíça via Estocolmo, usando de passaporte falso e peruca.

Seu plano dissipou, pois ao lado dos sovietes, com a renúncia do czar, formou-se um Governo Provisório. Tal governo enviou aos seus representantes no exterior, listas com os nomes de bolcheviques, incluindo de Lenin, para que fosse recusado o visto de regresso.

Março: cartas de longe

Em março Lenin planeja sua volta. Escreve as famosas, “Cartas de Longe”, onde adverte que somente a primeira etapa da revolução havia sido completada, e que não se devia confiar no Governo Provisório e não se podia permitir que a burguesia se firmasse no poder.

Tornava-se imperiosa a passagem de todo o poder aos sovietes.

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Ele, então, lança um apelo aos operários de seu país: “haveis realizado prodígios de heroísmo proletário ontem, ao derrubar a monarquia czarista. Num futuro mais ou menos próximo tereis de realizar novos e idênticos prodígios de heroísmo para derrubar o poder dos latifundiários e dos capitalistas”.

Após muito trabalho e troca de informações entre socialistas suíços e socialistas e autoridades alemãs, Lenin e um grupo de bolcheviques, por ele organizado, consegue sair de Zurique, de trem, via Berlim-Estocolmo-Petrogrado.

Abril: retorno

Às 23 horas de 3 de abril de 1917, Lênin chega à estação Finlândia, em Petrogrado, após quase dez anos longe de sua pátria. Milhares de operários e operárias, com bandeiras vermelhas, o aguardavam na estação. Lenin sobe em um carro blindado, que serve de palanque, e discursa exortando à luta pelo poder dos sovietes, por uma nova revolução, a revolução socialista.

No dia seguinte a sua chegada, Lenin lê, em uma reunião de bolcheviques as “Teses de Abril”, documentos notáveis, que eram um plano concreto e preciso da passagem da revolução democrática burguesa, de fevereiro, para a revolução socialista. Ele mostra que o Governo Provisório apenas defendia os interesses dos capitalistas e latifundiários, e que a guerra com a Alemanha continuava sendo anexionista e de exploração.

Ele diz: “nenhuma apoio ao Governo Provisório! Todo poder aos sovietes!”.

Programa

Seria necessário que estes se convertessem em sovietes bolcheviques, e assim o poder pacificamente passaria aos operários, soldados e camponeses. Propôs ainda a fusão de todos os bancos do país em um único Banco Nacional, o controle operário sobre as fábricas e o confisco das propriedades dos capitalistas e latifundiários, sem indenização, com entrega das terras aos camponeses.

O Comitê Central do Partido deveria organizar e educar politicamente as massas. Portanto, durante todo o mês de abril, Lênin fala em muitos comícios nas fábricas, e vários desses, sendo organizados por soldados e marinheiros.

Junho e julho: Congresso dos Sovietes e do POSDR

Do dia 3 a 24 de junho, é realizado o I Congresso Nacional dos Sovietes de Operários, Soldados e Camponeses. Onde Lenin convence a maioria dos participantes que somente a passagem do poder aos sovietes poderia tirar a Rússia do lamaçal em que se encontrava. Mais e mais operários, soldados e camponeses aderiam ao lado dos bolcheviques.

No dia 3 de julho, operários e soldados, saíram às ruas de Petrogrado, em uma manifestação pacífica, reivindicando a entrega de todo o poder aos sovietes. O Governo Provisório reprime com violência os protestos, prendendo muitos participantes e devastando a redação do “Pravda”. As cadeias ficaram lotadas de bolcheviques.

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Lenin então, volta à clandestinidade. Até o dia 7 de outubro, Lenin vive fora de Petrogrado. Alexander Kerensky, segundo e último primeiro-ministro do Governo Provisório, o declara fora da lei e promete uma soma elevada de quantia a quem o entregasse às autoridades.

Do início de julho até meados de agosto, Lenin vive em uma cabana às margens do lago Azlin, não muito longe de Petrogrado, onde escreve o livro, “O Estado e a Revolução”. Dirigindo-se depois, para Helsinque, na Finlândia. O VI Congresso do POSDR, é realizado ainda em julho onde se determina que a classe operária, impedida de assumir o poder pacificamente, deveria preparar a insurreição armada. Mensagem que foi dirigida pelo Comitê Central do Partido.

Agosto e setembro: “os bolcheviques devem tomar o poder”

Em 25 de agosto, o general Kornilov avança com suas tropas sobre Petrogrado na tentativa de reprimir a revolução, o Partido Bolchevique lidera as massas populares, liquidando em poucos dias, a contra ofensiva. Os operários estavam convencidos, na prática, de que apenas o Partido Bolchevique defenderia, seus interesses.

De Helsinque onde ainda estava, Lenin envia duas Cartas Históricas ao Comitê Central do Partido: a primeira era sobre os bolcheviques e a tomada do poder, e a segunda sobre  o marxismo e a insurreição. Em síntese, elas diziam: “Os bolcheviques podem e devem tomar em suas mãos o poder do Estado”. “É lá que está o nervo da vida, é de lá que virá a salvação da revolução”.

Em meados de setembro há um grande avanço da revolução. Lenin então sai de Helsinque para Viborg, também na Finlândia, na intenção de ficar mais próximo de Petrogrado, onde escreve vários artigos que são publicados no jornal bolchevique “A Via Operária”.

Com peruca e barba raspada, além de maquiado, se faz passar por operário de uma fábrica de armas, Lenin deixa Viborg e entra em Petrogrado, no dia 7 de outubro a fim de dirigir pessoalmente os preparativos da revolução.

Outubro: tomada do Palácio de Inverno

No dia 24 de outubro, os cossacos tentam fechar o jornal “A Via Operária”, mas são impedidos pela Guarda Vermelha.

A revolução que viria mudar o curso da história. Teve dois dias decisivos: 24 e 25 de outubro de 1917.

Sem dormir já há vários dias, Lenin expedia e recebia informações sobre a marcha da revolução. Às dez horas do dia 25 de outubro, em mensagem “Aos Cidadãos da Rússia”, Lenin anuncia: “inicia-se hoje uma nova etapa na história da Rússia, e esta terceira revolução russa deve conduzir, no final das contas, à vitória do socialismo”.

No começo dessa noite, ele ordena a tomada do Palácio de Inverno, último reduto da burguesia, onde lá se encontrava Kerensky e seus ministros. Dezoito mil bolcheviques, sob o comando de Podvóiski, em menos de duas horas tomam o Palácio. Seis pessoas morrem em combate.

Triunfava assim, a Revolução Socialista de Outubro, o maior acontecimento da história do século XX. Foi o triunfo de uma estratégia bem sucedida, em um país agrário e arrasado pela guerra, com 150 milhões de habitantes.

Lenin por John Reed

John Reed, em seu clássico, Dez dias que abalaram o mundo, assim descreve Lenin:

“Uma figura baixa e encorpada, com uma grande cabeça assentada sobre os ombros, calva e protuberante. Olhos pequenos, nariz arrebitado, boca larga e generosa, e queixo grosso com a conhecida barba de seu passado e seu futuro. Vestindo roupas esmolambadas, com as calças muito compridas. Sem nada de impressionante para ser o ídolo de uma multidão, mas amado e venerado como talvez poucos líderes na história tenham sido. Um estranho líder popular – um líder puramente por virtude do intelecto – com capacidade de explicar ideias profundas em termos simples. E combinada com sagacidade com a maior audácia intelectual”.

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG)

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* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Elis Almeida