Agora, o foco da privatização é o Zoológico de BH, que foi colocado à venda em um pacote
Não é de hoje que o raio privatizador tem sido acionado em Belo Horizonte. O foco da vez é o Zoológico, que foi colocado num pacote com o Jardim Botânico, o Aquário e o Parque Ecológico da Pampulha. A Prefeitura de Belo Horizonte parece estar empenhada em vender todos os locais públicos que oferecem lazer à população.
Conceder esses locais para a esfera privada é decretar quem pode acessá-los e quem não pode, já que a cobrança de ingresso, ou o aumento no valor dos já existentes, poderá ser a primeira medida a ser implementada pelas empresas – que são, obviamente, voltadas totalmente para o lucro.
A população belorizontina é uma das que mais sofre com os efeitos da crise econômica. Nossa gasolina é a sexta mais cara do país, enquanto o valor da cesta básica atinge 59% do salário mínimo e a tarifa do transporte coletivo está entre as cinco maiores do território nacional. Já estamos em um contexto de extrema pobreza, que nos trouxe de volta ao mapa da fome e do desemprego.
Diante disso, o lazer já é, cada dia mais, uma realidade para poucos. Privatizar o que resta de acesso à cultura, à natureza, ao descanso e ao desenvolvimento é contribuir para um cenário de agravamento da desigualdade social e do sofrimento mental. O lazer é um direito de todos e de todas. O lazer também educa, ensina e contribui para a saúde psíquica da população.
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Vale ressaltar que os zoológicos não possuem como única função o entretenimento do público. No zoológico de Belo Horizonte, há 41 espécies de animais em extinção, conforme apontou a Fundação Zoo-Botânica. Ressalta-se ainda que, embora existam pessoas que insistem em questionar a existência de zoológicos, os locais operam para recuperar e cuidar de animais maltratados pelo tráfico ilegal.
Como exemplo de atuação na preservação de espécies ameaçadas, o zoológico de Belo Horizonte é o único local da América do Sul que abriga um grupo reprodutivo de gorilas. Já o aquário, preserva e expõe 60 espécies de peixes, além de possuir uma belíssima representação do Rio Francisco, um dos rios mais importantes do país.
Pacote à venda
No caso do “pacote” da Pampulha que a prefeitura colocou à venda, há, ainda, um agravante por se tratarem de espaços de interesse social, de preservação ambiental e de espécies, de pesquisa científica e entretenimento. Ou seja, a fauna e a flora estarão à mercê da iniciativa privada.
Por essas e outras razões, é que se deve agir com muita transparência antes de tomar a decisão de entregar os espaços públicos à iniciativa privada. Ainda que estejamos sob a égide de governos grotescos que exaltam a privatização e os acordos selados com bilionários para salvar o planeta, devemos nos lembrar onde a privatização da Vale do Rio Doce nos levou. Milionários e bilionários não estão interessados em trabalhar em prol da população, mas sim manter seus privilégios e suas fortunas às custas do meio ambiente.
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Tanto a Serra do Curral quanto o Zoológico, e outros espaços públicos de Belo Horizonte, estão sob a mesma ameaça do raio privatizador. A natureza está sendo entregue às empresas sem nenhum pudor. Não parece haver uma preocupação com o futuro, que se estabelecerá em um cenário piorado de todas as tragédias que já vivenciamos hoje. Rompimentos, deslizamentos, enchentes, ecossistema desestabilizado por conta de espécies em extinção, epidemias e a qualidade do ar e da água cada vez mais comprometida.
Pedro Patrus é vereador pelo PT em Belo Horizonte.
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa