Minas Gerais

RESISTÊNCIA

Escritoras negras se juntam em BH contra o racismo e o machismo no meio editorial

Grupo auto-organizado pretende criar estratégias coletivas para impulsionar a escrita negra e feminina

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
As entrevistadas reforçaram a importância de conhecer o trabalho das escritoras negras, o que as fortalece, além de inspirar outras mulheres - Foto: Daniele Fagundes

Escritoras mineiras reproduziram, no último dia 12, uma foto histórica na escadaria do Centro Cultural Banco do Brasil, em Belo Horizonte. Cerca de 200 mulheres se posicionaram para a fotografia, inspirada em "Um grande dia no Harlem", de Art Kane, que eternizou grandes artistas do jazz. Na ocasião, 20 escritoras negras também se reuniram para uma foto, o que foi o início de coletivo que pretende ampliar a visibilidade da escrita negra e feminina na cidade.

“A gente resolveu reunir as mulheres negras para fazer uma foto histórica também e, a partir daí, fomos trocando contato e conhecendo mais a produção uma da outra. E agora, estamos pensando estratégias para que nosso trabalho possa ser mais visto em Belo Horizonte”, relata a psicóloga e escritora Liliane Martins.

De acordo com ela, o coletivo pretende impulsionar a publicação de escritoras negras independentes e ser uma forma de diminuir os impactos do racismo no meio editorial. “Estamos muito animadas. A ideia é que a gente possa fazer saraus para expor o nosso trabalho, ou até mesmo um blog, uma feira de livros. A gente está crescendo, se conhecendo e refletindo”, relata.

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A professora, pesquisadora e escritora Thais Alessandra, que também participou desse pontapé auto-organizado por escritoras negras mineiras, complementa a ideia. “Estamos criando um movimento de expansão do nosso espaço na literatura. É uma forma de difundirmos nosso trabalho. Acho que esse aquilombamento traz para a gente muita potência”, afirma.

Racismo

Liliane explica que o racismo, por ser estrutural, está presente no mundo editorial assim como em outros setores da sociedade. “A gente vê isso na dificuldade de uma mulher negra lançar um livro”, comenta. A professora e escritora Madu Costa, concorda. "O mercado editorial é muito branco e machista, falta muito para ter equidade, sobretudo no atual governo", diz.  

A partir dessa percepção, as escritoras entendem que iniciativas que agrupamento somam forças para enfrentar essa realidade. “Temos a intenção de nos constituirmos como um grupo de resistência, não tenho dúvida que conseguiremos romper barreiras”, complementa Madu.

Trabalhos incríveis

As entrevistadas reforçaram a importância de conhecer o trabalho das escritoras negras, o que as fortalece, além de inspirar outras mulheres. Madu Costa, por exemplo, possui diversas publicações de livros infanto-juvenis com protagonismo negro, como “Meninas negras”, “Zumbi dos Palmares em cordel”, “Embolando palavras”, “Dandara Guerreira”, dentre outros.

Thais Alessandra, que também é comunicóloga, cineasta e pesquisadora, foi premiada pela Editora Trevo de São Paulo, em 2020, selecionada pela Coletânea Escrituras Negras II - As Marcas, em 2021, e pelo E-book Sinergia, em 2021. Sua publicação mais recente é chamada “Mulheres das Águas ll”, com contos, crônicas e poemas sobre orixás femininas.

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“Contribuições das religiões de matriz africana para uma psicologia afrocentrada” e “O racismo e os seus mecanismos de naturalização da perversão: mídia, recreação e epistemicídio” são alguns títulos de Liliane Martins.

Conheça mais

A foto "Um grande dia no Harlem", usada como referência, foi tirada em 1958 e reuniu 57 músicos em uma rua do Harlem, bairro do Estados Unidos. A ideia de reproduzir com escritoras marca o crescimento da literatura escrita por mulheres. A recriação da foto começou em uma ação em São Paulo, na Feira do Livro, e já aconteceu em mais de 20 cidades brasileiras.



 

Edição: Larissa Costa