Minas Gerais

CONTRADIÇÃO

“Não precisava de aumento”, diz eletricitário sobre reajuste na conta de luz em Minas Gerais

Enquanto a população pagará 5% mais caro, Cemig teve lucro recorde em 2021

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
No caso de propriedades rurais, o aumento é de 6,23% e, para comércios e indústrias, será cobrado 14,31% a mais - Foto: Ana Carolina Vasconcelos

Com o preço dos alimentos e do gás de cozinha nas alturas, a população mineira agora tem algo a mais para se preocupar. A partir desta quarta-feira (22), a conta de luz em 774 municípios de Minas Gerais encareceu mais de 5%.

O aumento foi informado pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), na terça-feira (21), após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciar as novas tarifas. Com a mudança, clientes residenciais irão pagar 5,22% a mais. No caso de propriedades rurais, o aumento é de 6,23% e, para comércios e indústrias, será cobrado 14,31% a mais.

Conta cara e lucro recorde

Em nota, a Cemig afirmou que, devido aos repasses feitos pela empresa em 2020 e 2021, "o reajuste teve seu impacto diminuído” e que, por isso, “beneficiou mais de 8,9 milhões de clientes da companhia”.

Porém, na avaliação de Emerson Andrada Leite, coordenador geral do Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (Sindieletro-MG), o aumento não era necessário.

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“Economicamente, a Cemig não precisava desse aumento neste momento. A empresa financeiramente está muito bem e isso é demonstrado pela alta lucratividade que apresentou mesmo durante a pandemia, em um período de retração da economia”, afirma.

Dados apresentados pela Cemig demonstram que em 2021 a empresa teve lucro recorde, de quase R$ 4 bilhões. Isso representa um crescimento de 31% em relação ao ano de 2020.

Dados da Aneel também demonstram que, no final de 2021, atendendo mais de 7 milhões de consumidores, a Cemig possuía a segunda maior tarifa média com impostos do país. Cobrando cerca de R$ 1,17 por quilowatt-hora, a empresa ficou atrás apenas da Enel, do Rio de Janeiro. 

Política de preços

Para Emerson, esses dados são reflexo da política de preços, adotada por governos ultraliberais, no mercado de energia.

“A gente vê isso também no preço do gás e da gasolina. Eles [governos ultraliberais] se utilizam de um momento de crise e de fragilidade da sociedade para poder transferir riqueza da população mais pobre para a parcela mais rica, que é o mercado financeiro internacional”, explica.

Se privatizar vai aumentar mais

Emerson afirma ainda que a estratégia de desmonte e as ameaças de privatização da Cemig também contribui para esse cenário.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instaurada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para investigar possíveis irregularidades na gestão da Cemig, demonstrou em seu relatório final que o governo de Romeu Zema (Novo) vem implementando na empresa uma política de  desinvestimento, de precarização e uso partidário.

“A direção da Cemig, que solicitou o aumento da tarifa, é a gestão nomeada pelo governador que tem o propósito de preparar a empresa para entregá-la ao mercado financeiro. Como ele [Zema] não conseguiu privatizar, ele está tentando entregar, por meio do desmonte, as estruturas da empresa”, enfatiza.

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Para o sindicalista, o aumento no valor da tarifa se insere no centro dessa estratégia. Uma vez que, voltada para os interesses do mercado, a prioridade da Cemig passa a ser o lucro, cobra-se mais da população pelo acesso à energia.

“Um dos movimentos é o aumento exorbitante da lucratividade da empresa, em prejuízo da população. A Cemig multiplicou seus lucros, enquanto a população mineira está ficando desprovida de direito até da alimentação básica”, diz.

Edição: Larissa Costa