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Nasce Fidel, a infância do comandante – parte 1

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Fidel sempre foi despreocupado em sua infância - Foto: Reprodução
“O traço mais importante do caráter de Fidel é que ele nunca aceitaria uma derrota”, disse seu irmão

No início do século 19, a maioria dos países da América Latina já havia lutado e conquistado sua independência. Apenas Cuba e Porto Rico, permaneciam sob o domínio do colonialismo espanhol.

A longa luta de Cuba por sua independência começa em 10 de outubro de 1868. No início, o exército de libertação contava com cerca de 38 homens, formado pelo fazendeiro Carlos Céspedes, de 50 anos. No entanto, em apenas dois dias, após o chamado pela independência, o exército passa a contar com 4 mil homens. Um mês depois, aumenta para quase 12 mil homens.

Antonio Maceo, um escravo negro liberto, torna-se comandante militar dos rebeldes. Com excelente tática e muito audacioso, ele combate incansavelmente e bravamente os soldados espanhóis por dez anos, mas ele e sua tropa não foram capazes de expulsar os espanhóis do poder.

Em 11 de abril de 1895, José Martí, renomado poeta e patriota cubano chega à Província de Oriente com alguns homens para continuar a luta pela independência cubana. Mas, infelizmente, um mês depois ele é morto em uma batalha e torna-se o herói nacional de Cuba, o símbolo de um grandioso desejo de liberdade de seu povo.

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Como sempre, querendo impor sua força e colonialismo disfarçado, os EUA simpatizaram com os rebeldes com interesse de estabelecer sua própria influência em Cuba, vista como uma zona estratégica para a defesa do Canal do Panamá. Em fevereiro de 1898, um navio de guerra estadunidense, o Maine, explodiu na baía de Santiago, perto de Havana. Os espanhóis foram acusados pelos EUA, que declaram guerra contra a Espanha e a independência Cuba, exigindo que os espanhóis deixassem a ilha.

Os EUA saíram vitoriosos dessa guerra, que durou três meses, contra os espanhóis. No Tratado de Paris, assinado em dezembro de 1898, a Espanha renunciou a Cuba e cedeu Guam, Porto Rico e as Filipinas aos EUA.

Cuba passou a ser um país “independente” em 1902, mas os EUA insistiam para que a nova nação concordasse com um plano conhecido como a Emenda Platt, que daria aos EUA o direito perpétuo de manter bases militares em Cuba, bem como o direito de intervir nos assuntos do país sempre que considerasse necessário. Essa emenda permaneceu em vigor por 32 anos, um período no qual os EUA frequentemente reivindicaram seu direito de intervir.

E nasce Fidel

Pois bem, no dia 13 de agosto de 1927, nasce Fidel Castro, na plantação de cana-de-açúcar de seu pai, perto de Birán, no litoral da Província de Oriente. Seu pai, Angel Castro, espanhol, nascido no noroeste da Espanha, foi para Cuba com o exército espanhol, durante a guerra contra os EUA.

Após o fim da guerra, ele preferiu tentar a sorte e enriquecer em Cuba, não retornando para a Espanha. Foi trabalhador braçal para a United Fruit Company, uma empresa estadunidense. Resistente e astuto, Angel em 1926 havia adquirido mais de 9,3 mil hectares de cana-de-açúcar.

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Angel, em seu primeiro casamento com uma professora cubana, teve dois filhos, Lídia e Pedro Emílio. Mas, ao mesmo tempo, mantinha um romance com uma camponesa cubana que trabalhava como cozinheira de sua família. Após a morte de sua primeira esposa, ele se casou com ela, cujo nome é Lina Ruz González. Eles já tinham três filhos, antes de se casarem: Angela, Ramón e Fidel. Após o casamento, o casal ainda teve mais três filhas e um filho, Raúl, este muito chegado ao irmão mais velho.

Infância na fazenda

Fidel sempre foi despreocupado em sua infância. Alto e forte, passava suas tardes correndo e cavalgando pelos vastos campos da fazendo de seu pai, junto a seus irmãos e irmãs. Era um menino selvagem e turbulento, cheio de energia, como bem recordavam os trabalhadores da plantação.

Gostava de nadar com os amigos em um rio próximo da fazenda, sua grande paixão era o mar. Ia sempre ao porto, onde passava horas com os pescadores e, encantado, escutava suas histórias sobre lutas com tubarões e baleias.

Seu amor pela aventura combinou com sua forte veia de rebeldia. Aos seis anos, Fidel pediu ao pai para ir à escola, no entanto, seu pai não via necessidade de dar ao filho uma instrução, já que nem ele, nem sua mãe tiveram. No início, Angel recusou o pedido do filho, mas a persistência do menino Fidel cansou seu pai, que o matriculou em uma escola pública local.

Os colegas de escola de Fidel eram de famílias pobres da região. Iam para a escola, de modo geral, descalços e humildemente vestidos e, por muitas vezes, com fome. Essa experiência de Fidel, com essas crianças o ajudou e o sensibilizou quanto à injustiça econômica e o influenciou na sua visão política futura.

No ano de 1942, aos 15 anos, Fidel começa o curso secundário em Havana. Ele frequentou a elegante Escola Preparatória Belém, dirigida por jesuítas, uma das melhores escolas secundárias de Cuba. Ele se tornou um brilhante estudante, um excelente orador e esportista, e foi campeão de beisebol e atletismo, sendo eleito em 1944 como o melhor atleta cubano do curso secundário. Em sua fotografia no armário dos formandos de 1945, abaixo dela, estava escrito: “não duvidamos que ele encherá o livro de sua vida com páginas brilhantes”.

Desde cedo, era rebelde

Sua rebeldia, ainda na escola secundária, despontou com evidência. No seu primeiro ano, Fidel foi desafiado por uma luta corpo a corpo com um estudante mais velho e bem maior que ele. Fidel apanhou tanto que mal conseguiu ficar de pé. Devido a essa humilhação sofrida, no dia seguinte, Fidel atacou novamente seu adversário e, mais uma vez, foi espancado. A briga foi separada pelos que assistiam ao confronto. No terceiro dia, mais uma vez, eles lutaram até a exaustão. Dessa vez, o outro rapaz já estava farto de brigar. Seu irmão Raúl, há alguns anos disse que “o traço mais importante do caráter de Fidel é que ele nunca aceitaria uma derrota”.

No entanto, em alguns aspectos, Fidel nunca perdeu as características de rapaz do campo. Preferia as caminhadas com os amigos aos bailes da escola e não dominou inteiramente as convenções sociais de seus colegas bem-educados da cidade. Era conhecido pelo seu charme tranquilo e descansado, que tornava elegante até mesmo suas excentricidades.

Movimento estudantil

Em 1945, após concluir a escola secundária, ele ingressou na Universidade de Havana, onde a característica que marcava a vida universitária de Cuba era a violência das atividades políticas de seus estudantes, com eleições sempre decididas aos socos e com armas de fogo. Havia o domínio de grupos violentos, como o Movimento Revolucionário Socialista e a União Insurrecional Revolucionária.

Nesse violento e exaltado ambiente, a política tornava-se uma paixão para Fidel, que decidiu estudar Direito. Pouco dedicado aos estudos, mas com uma excepcional memória, ele se capacitou para ser aprovado com distinção na maioria dos cursos.

Ele não foi, portanto, um calouro comum. Suas qualidades dinâmicas tornaram-se evidentes para os colegas que o elegeram para a Federação Estudantil da Universidade, conquistando um grande círculo de partidários que o admiravam por sua desenvoltura, oratória e seu poder de comando.

Em 1947, uma aliança de grupos políticos com estudantes universitários, organizou uma expedição para invadir a República Dominicana, a fim de depor seu odiado ditador, o general Rafael Trujillo. Fidel e um grupo de estudantes treinaram durante três meses em uma ilha deserta infestada de mosquitos. Na hora que lançaram sua pequena frota invasora, a polícia cubana aparece de repente para detê-los. Fidel pula do barco e nada até a praia, e quase foi preso.

Ao voltar para a universidade, ele trama um fantástico plano para trazer até Havana, o sino de La Demajagua, que em 1868 com seu toque, anunciou o início da Guerra de Independência de Cuba contra a Espanha. Plano bem-sucedido pelos estudantes, que deram uma volta triunfante com o sino, em um carro aberto pelas ruas de Havana.

Tem início assim, sua trajetória para a conquista da triunfal Revolução Cubana, de 1959.

 

 

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG)

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* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

                              

Edição: Larissa Costa