Um estudo realizado pelo Instituto Guaicuy, em parceria com o Instituto Olhar, demonstrou que cresceu muito a demanda de atendimentos de saúde relacionados a transtornos mentais nos municípios atingidos pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, no ano de 2019.
A pesquisa, que foi realizada entre junho de 2021 e fevereiro deste ano, analisou a situação em dez municípios localizados ao longo da Bacia do Rio Paraopeba. São eles: Curvelo, Pompéu, Abaeté, Biquinhas, Felixlândia, Martinho Campos, Morada Nova de Minas, Paineiras, São Gonçalo do Abaeté e Três Marias.
Em todos foi identificado o aumento de atendimentos relacionados a sofrimento mental. Em Três Marias, a demanda cresceu 97%. Já em Felixlândia, o aumento foi de 86%.
Ao Brasil de Fato MG, a coordenadora de saúde e assistência social do Instituto Guaicuy, Paula Junqueira Mota, explicou que, entre os motivos que levaram a esse quadro, está a falta de reparação integral aos atingidos.
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“O principal impacto do rompimento da barragem foi no trabalho e na renda dos atingidos e isso gera uma cadeia de outros danos, afetando também a saúde mental e a saúde física”, explica.
Com a contaminação das águas do Rio Paraopeba, devido ao rompimento, atividades comerciais antes desenvolvidas pelos atingidos precisaram ser interrompidas. Aqueles que tiravam seu sustento da pesca, da criação de animais, do plantio, de produções caseiras, entre outras atividades, passaram a conviver com a insegurança financeira.
Depressão, ansiedade, insônia e pânico
Paula conta ainda que existe entre os atingidos um relato generalizado de sofrimento psicossocial.
“São sentimentos e sensações referentes à tristeza, à insegurança e à própria revolta. Esses sentimentos podem levar a um quadro de transtorno mental”, explica.
Entre os transtornos mentais desenvolvidos pelos atingidos, aparecem com mais frequência depressão, ansiedade, insônia e pânico. Além disso, devido ao agravamento do quadro, o estudo também identificou aumento de consumo de álcool e de outras drogas.
Diversos impactos
Dermatites, surtos de diarreia e de outras doenças também são mais notificadas após o rompimento da barragem. Além disso, o estudo chama a atenção para o aumento dos casos de violência.
“Houve o aumento da violência doméstica, das violências comunitárias e de conflitos interpessoal e familiares”, explica Paula. A coordenadora ainda conta que existem estigmas e preconceitos. “Estigma também em relação ao produto vendido pelos atingidos”, completou.
Vale não presta assistência
Os atingidos que moram em áreas rurais e distantes dos equipamentos públicos de saúde, ainda precisam lidar com a dificuldade em conseguir atendimento. Devido à distância, à falta de transporte e aos custos de deslocamento, muitos não recebem assistência.
Passados três anos desde o rompimento da barragem, Paula informa que a mineradora Vale não tem dado assistência à população.
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“O único investimento que a Vale fez até hoje foi a disponibilização de instrumentos e materiais de formação para as unidades de saúde da família. Porém, foi relatado pelos próprios profissionais, que as informações disponibilizadas não contribuem para a demanda em si. Ou seja, o que é de necessidade não foi atendido”, enfatiza.
Próximos passos
Após o levantamento, que reuniu 170 entrevistas, análises de dados das bases oficiais de saúde e encontro com as comunidades e prefeituras para apresentar os resultados, o Instituto Guaicuy pretende utilizar as informações para a construção da Matriz de Danos.
O documento, construído em conjunto pelas assessorias técnicas independentes (ATI) e pelas comunidades atingidas, tem o objetivo de ajudar a mensurar os danos materiais e imateriais causados pelo rompimento. Além disso, a Matriz de Danos visa contribuir no processo de reparação integral.
O outro lado
Procurada pela reportagem, a Vale não respondeu até o fechamento desta matéria.
Edição: Larissa Costa