Ainda hoje, são encontradas famílias que mantém empregadas domésticas negras sem remuneração
O racismo é uma construção ideológica que tem por fim justificar a exploração de um segmento humano sobre o outro. Na Grécia antiga, os vencidos nas guerras eram obrigados a trabalho forçado e vendidos como escravos. Antes do nazismo, cientistas e ideólogos já tentavam transformar etnias e culturas em diferenças biológicas imutáveis e separar seres humanos em superiores e inferiores. Para, a partir daí, justificar que os superiores podem explorar, discriminar, escravizar e até eliminar os inferiores.
Os nazistas usaram métodos científicos para provar a inferioridades de etnias não brancas, reforçando, assim, o arquétipo da superioridade dos arianos, o que fomentou a eugenia nazista. Assim, por causa da formação genética, os negros seriam mais propensos aos crimes que os brancos.
Já na primeira metade do século 20, a visão racista da evolução social contou com diversos ideólogos, como Rosemberg e Alexis Carrel. Este último afirmou que a divisão de um país em classes não seria efeito do acaso nem das convenções sociais, mas teria uma profunda base biológica, que depende das propriedades orgânicas e mentais dos indivíduos. Concluiu dizendo que os povos modernos poderiam se salvar pelo desenvolvimento dos fortes e não pela proteção dos fracos.
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As teses racistas correram o mundo influenciando a política mundial, de 1930 a 1953. O Conselho Econômico e Social da ONU solicitou à Unesco um pronunciamento baseado em três questões fundamentais: o que é raça? Existe ou não fundamento científico para atitudes e políticas de preconceitos, discriminação e segregação? Quais os novos estudos que devem ser promovidos para aumentar nosso conhecimento sobre o assunto?
A Unesco organizou um comitê constituído de sete estudiosos do problema, dirigido pelo brasileiro Artur Ramos, para que se debatesse e respondesse, à luz da ciência, as referidas questões. O resultado é o que ficou no conhecido documento intitulado de "Declaração sobre Raça", que afirma que todos os seres humanos pertencem à mesma e única espécie, Homo sapiens, e que, em virtude da atuação de diversos fatores biológicos, ecológicos e históricos, formaram-se diversos grupos de populações de caracteres físicos distintos, geralmente chamados raças.
As semelhanças biológicas entre esses grupos de população são muito maiores do que as diferenças entre eles. A espécie humana tem em comum uma quantidade de genes muito maior do que os que evidenciam a diferenciação das populações. Entre os grupos humanos não existem diferenças inatas quanto às características mentais, à inteligência, ao temperamento. Não há conhecimento de males provocados pelos intercruzamentos raciais.
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A escravidão legal acabou em 1888, mas continuou de forma ilegal e tolerada até os dias atuais, sempre os brancos contra os negros, indígenas e estrangeiros. Ainda são encontradas famílias que mantém empregadas domésticas negras sem remuneração e sem direitos sociais. A Chacina de Unaí, assassinatos de indigenistas e jornalistas, a exemplo de Bruno Pereira e Dom Philips; de missionários, que lutaram por diversos tipos de exploração desumanas, terminam impunes.
A classe média, que na essência é prestadora de serviço, vem se degradando com o neoliberalismo e a globalização. Para dissimular a perda de status e tentar aparecer como superiores, elementos de cor branca, ofendem em públicos os negros de melhores posições sociais, reativando o racismo no Brasil e no mundo.
Pensadores modernos, especialmente os novos marxistas têm usados de todos os meios para divulgar campanhas e teses antirracistas e escravocratas. No contraponto do médico legista Nina Rodrigues (1862-1906), que defendeu a tese de que os países multiculturais como o Brasil não podiam progredir, o economista Mário Theodoro, organizador do livro “Uma história da cultura afro-brasileira”, afirma que o que impede o crescimento de uma nação é a ideia de que negros, índios e mulatos são inferiores aos brancos.
Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa