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Revolução Cubana: o julgamento secreto de Fidel e sua primeira vitória

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No dia 2 de dezembro de 1956 o Granma chega a ilha com os guerrilheiros - Foto: Divulgação
Condenem-me. Não importa. A história me absolverá

Após sua prisão em agosto de 1953, Fidel é confinado em uma solitária em Santiago. Os demais prisioneiros foram julgados em setembro daquele ano, enquanto Fidel teve julgamento secreto em 16 de outubro de 1953. Apesar de seis jornalistas e dois advogados terem recebido permissão para assistir o processo, uma censura em âmbito nacional foi imposta sendo que poucas notícias vieram a público.

Seu discurso de duas horas que ele fez em sua defesa, mais tarde viria a se transformar em seu famoso manifesto, “A História me Absolverá”. Na conclusão afirma: “Sei que a prisão será repleta de ameaças, destruição e covardes ataques de ódio, mas não temo isso, como não temo a fúria do tirano desprezível que extinguiu a vida dos sete irmãos meus. Condenem-me. Não importa. A história me absolverá”.

Em 15 de janeiro de 1957 guerrilha tem sua primeira vitória militar

Fidel foi condenado a 15 anos. Raúl, seu irmão a 13 anos, e os outros companheiros receberam penas menores.

Fidel foi aprisionado na ilha de Pinos. Lá ficavam os prisioneiros que tinham permissão para fazerem exercícios, enviar cartas e terem livros nas celas. Fidel, na maior parte de seu tempo lia romances de Victor Hugo, Tolstói e Dostoiévisk, além de obras filosóficas de John Locke e São Tomás de Aquino. Enquanto estava aprisionado, ele ficou sabendo que sua mulher teria aceitado um emprego subvencionado por Batista; o que levou ao seu distanciamento de seu relacionamento, levando à ruptura final, tendo se divorciado em dezembro de 1954.

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Fidel, Raúl e outros dezoito prisioneiros do ataque a Moncada, são soltos no dia 15 de maio de 1955. O grupo decide continuar lutando junto, no “Movimento 26 de Julho”. Fidel, começa a escrever artigos em jornais atacando o regime de Batista e discursando em várias manifestações. No entanto, para seu desgosto encontrou os partidos de oposição gravemente desunidos. Além disso, sua vida particular era motivo de preocupação, pois ele já não exercia sua profissão, pois era sempre vigiado pela polícia, além é claro, de temer ser assassinado pelos agentes de Batista. Em vista disso, toma a decisão de deixar Cuba.

México

Em 7 de julho de 1955 ele chega ao México, prometendo voltar no próximo ano para Cuba: “Como um seguidor de Martí, penso que chegou a hora de assumir os próprios direitos, não de pedi-los; conquistá-los, não implorar por eles. De tais viagens, ou não se tem retorno, ou se retorna com a tirania decapitada aos pés”.

Nos dezessete meses passados no México, sua vida e de seus companheiros não foram fácil. Os cubanos quase não tinham dinheiro, eram muito perseguidos pelas autoridades mexicanas, além de viverem sob constante ameaça de expulsão do país. Fidel, na esperança de melhorar a situação financeira do grupo, consegue dinheiro emprestado e embarca de trem para os EUA. Lá ele passa sete semanas, visitando emigrantes cubanos em Nova Iorque, Filadélfia e Miami, onde promove reuniões e discursos. Com isso, consegue arrecadar milhares de dólares para sua causa. No entanto, ele e os outros homens, continuavam a ganhar de dia o que comiam à noite. Para imprimir o manifesto que anunciava a formação do Movimento 26 de Julho, ele teve até que penhorar seu casaco.

Treinamento

No ano de 1956, os preparativos para a invasão de Cuba estavam encaminhados. Compraram armas e tinham treinamento com um veterano da Guera Civil espanhola. À noite eles estudavam o Manifesto e trabalhos de José Martí.

Após um mês de treinamento na Cidade do México, eles se mudam para uma fazenda fora da cidade. Lá eles marcham durante quinze horas, atravessam rios, escalam montanhas e passam à noite no chão da floresta. Aprenderam e ensaiaram a guerra de guerrilhas, como atacar e confundir o inimigo, como se retirar quando pressionados e como fazer emboscadas bem-sucedidas.

Dois homens se destacaram na preparação e assumem papel de liderança da guerrilha. Ernesto Guevara, um médico argentino, apelidado de “Che”, ele encontrou Fidel em julho de 1955 e ficou impressionado com a sua fé decidida, além da disposição dele arriscar a própria vida pela causa cubana. O segundo homem era Camilo Cienfuegos, que trabalhava em um restaurante na Califórnia, assim que ele ouviu a promessa de Fidel de deflagrar uma guerra de libertação em Cuba, deixa o emprego e vai se juntar ao grupo.

A militância de Fidel atraía um grande número de adeptos em Cuba. Gritos ecoavam e apoiavam o Movimento 26 de Julho. Os protestos coincidiram com uma greve nacional, de mais de meio milhão de trabalhadores dos canaviais. A Cuba de Batista já não era mais a mesma.

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Em novembro de 1956 Fidel recebe 40.000 dólares do ex-presidente Prio Socarrás. Esse dinheiro foi usado para comprar a embarcação Granma, um velho barco bem castigado pelo tempo. Pouco tempo depois a polícia mexicana, em colaboração com a polícia secreta de Batista, tomam de assalto o quartel-general de Fidel, confiscando todas as armas e prendendo mais de vinte e cinco homens. Fidel temendo essas investidas, decide antecipar a data do desembarque em Cuba. Em 25 de novembro, ele e seus homens amontoam-se no Granma, tendo início a difícil viagem de volta à Cuba.

Desembarque em Cuba

No dia 2 de dezembro de 1956 o Granma aporta algumas milhas longe do destino, na Província de Oriente. Infelizmente o levante ocorrido em 30 de novembro em Santiago, organizado pelo Movimento 26 de Julho que já se encontrava em Cuba, foi esmagado. Então, os militares alertados sobre a chegada de Fidel, localiza o grupo usando de um avião, enquanto rumavam para a praia. Fidel e seus homens rapidamente entram nas matas da ilha, tendo que abandonar grande parte de seus suprimentos na praia.

Começam então, adentrar a mata seguindo sem comida e água por três dias. No dia 5 de dezembro, um fazendeiro local os delata às tropas do governo. Quando eles param para descansar em um canavial, são cercados pelos soldados que abrem fogo. Pelo menos vinte homens de Fidel morreram nessa emboscada. Alguns se entregaram e são mortos, outros foram levados para julgamento, alguns poucos escaparam em pequenos grupos. Fidel com dois sobreviventes se escondem dos soldados do governo durante vários dias. Assim começa sua perigosa viagem para a segurança das montanhas da Sierra Maestra, caminhado só à noite, protegidos pela escuridão. Durante o dia eles se escondiam e descansavam, não comiam nada, além do açúcar da cana madura que encontravam.

Sierra Maestra

No dia 17 de dezembro, Fidel e seus dois companheiros alcançam a fazenda isolada de Ramón Pérez, um camponês cujo irmão se aliara ao Movimento 26 de Julho meses antes. Alguns membros sobreviventes do Granma, como Raúl Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos são encontrados pelos companheiros. Apenas dezessete dos oitenta e dois guerrilheiros conseguem chegar à Sierra Maestra. Fidel diz: “Estamos nas Sierras. Os dias da ditadura estão contados”.

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No Natal de 1956 Fidel e seus companheiros põem-se a caminho para estabelecer a base de um campo militar no Pico Turquino, a 2.600 m, a montanha mais alta de Cuba, região mais selvagem e mais pobre da ilha. Os moradores da região, a maioria analfabetos, aos poucos começaram a confiar naqueles estranhos. Venderam-lhes mantimentos e facilitaram o acesso a água.

La Plata

Em 15 de janeiro de 1957, Fidel e seu exército guerrilheiro tomaram o caminho de La Plata, um posto militar isolado. À noite, protegidos pela escuridão, eles abrem fogo e atacam o quartel. Após uma hora de luta os soldados se rendem, apenas dois haviam morrido, cinco são feridos e três capturados. Doze fuzis, uma metralhadora e cerca de mil cargas de munição são apreendidas. Fidel, apesar de alguns guerrilheiros sugerirem que os prisioneiros fossem executados, os liberta, mas sem armas e diz que isso ensinaria às tropas do governo que poderiam salvar suas vidas. “Só os covardes e os assassinos matam um inimigo que já foi capturado. O exército rebelde não pode utilizar os mesmos métodos da tirania contra a qual lutamos”.

La Plata foi a primeira vitória militar dos guerrilheiros.

Fidel, com essa vitória mostraria ao país que os guerrilheiros estavam vivos e lutando na Sierra Maestra. Mais homens viriam a se juntar ao exército de Fidel, além de mais duas mulheres, as guerrilheiras Celia Sánchez e Vilma Espin, engenheira química, que mais tarde viria a ser companheira de Raúl Castro.

                                              

Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG).

 

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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.

Edição: Elis Almeida