Matar é o que os militianos têm feito desde o início do governo; só na pandemia foram mais de meio milhão de pessoas se considerarmos que, estatisticamente, 3 em cada 4 pessoass poderiam ter sido "salvas" por políticas de Estado sérias e continuadas.
Como disse a Laura Erber, é preciso que nos articulemos contra isso rapidamente e, eu diria, independentemente dos resultados das eleições. Eles e elas não matam "por causa" do militiano mor: matam porque pensam/sentem que podem e que devem matar "o Outro".
Há tempos tenho defendido que devemos articular os serviços e coletivos da educação e ciência, da saúde, da cultura e da assistência nos territórios para a reconstrução do país e para a proteção da vida. Urge que façamos e avancemos nisso!
Os poderes de governar as vidas e de aceitar "o Outro" não estão, como nunca estiveram, concentrados em Brasília.
Assim como a convocatória e autorização do Presidente são relativas, ainda que variáveis importantes nesse momento, também o é a questão da impunidade. Uma pessoa que todos conhecem e em público assassina "o outro", não está preocupada, de antemão, com a condenação, ou pelo menos não seria a perspectiva de punição que suspenderia o gesto. Ou seja, punir é fundamental, mas estruturalmente, não nos tirará do atoleiro em que nos metemos. Em que nos meteram.
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Como mostram os trabalhos bem sucedidos com "pessoas em conflito com a lei" em razão de atos violentos, é preciso representar, simbolizar, palavrear a violência para evitar que o gesto violento ocorra.
É preciso devolver às novas gerações, na escola e pela escola, ainda que não apenas, a experiência e o exercício cotidiano de outras formas de dizer, de expressar, de conhecer, de entender, de simbolizar, enfim, de representar o mundo que lhes foram usurpados pela razão iluminista e pelas suas formas de conhecimento de nós mesmos, do mundo e da escola.
É preciso que a escola e a educação cultivem novamente o compasso da dança, o ritmo da música, as iluminuras do cinema, as cenas do teatro, as cores das artes plásticas e que abra espaço para todas as artes, para as potencialidades de simbolização dos corpos, em toda a sua plenitude e em todas as nossas diversidades.
É preciso que recuperemos nossas capacidades, juntos com as crianças e os jovens, de simbolizar o horror, palavrear o medo e representar as perversidades nuas e cruas de que somente o humano é capaz.
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Somente assim seremos capazes de elaborar os fantasmas e os monstros que nos paralisam e devoram os nosso melhores e mais generosos sonhos. Somente assim estaremos, de fato, construindo uma educação e uma escola que sejam contemporâneas de nosso tempo e preparem, com as especificidades que lhe são próprias, as novas gerações para os gestos amorosos, solidários, altruístas, de acolhimento e empatia que, também, somente o humano é capaz.
E, desgraçadamente, no mundo da educação, que é onde atuo, há um crescente esvaziamento das possibilidades dos sujeitos escolares representarem, simbolizarem e palavrearem a violência a não ser pela razão pragmática.
Precisamos recuperar, na escola e fora dela, essas possibilidades outras de simbolizar o horror que só as ARTES, o AMOR e a POLÍTICA nos possibilitam.
Luciano Mendes de Faria Filho é professor da UFMG e integrante do Portal do Bicentenário.
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
Edição: Elis Almeida