Araticum, pinha do cerrado, bruto, ata, cabeça de nego. Se você é do cerrado brasileiro ou já passou pelo bioma, certamente conhece esse fruto. Mas é no sul de Minas Gerais que ele dá identidade a uma cidade. Estou falando de Paraguaçu e, lá, esse fruto é conhecido como Marolo.
"Paraguaçu, ao longo da história, sempre teve essa relação cultural com o Marolo. Houve épocas que os paraguacuenses eram chamados de “maroleiros. O povo não gostava, achava ruim", conta Gilmara Aparecida de Carvalho, fundadora da Associação Terra do Marolo.
Foi a partir de 2007, com o projeto “Marolo: um fruto, várias ideias”, uma parceria dos produtores de marolo com a Câmara Municipal, que a alcunha de “maroleiros” começou a mudar em Paraguaçu.
"Aí, passou-se o tempo e surgiu a “Festa do Marolo”... Fabricações e tudo isso envolvendo o marolo, hoje o pessoal tem honra, tem orgulho de ser chamado de “maroleiro”, lembra Carvalho. Segundo ela, a relação do município com a fruta ficou tão forte que foi nesse contexto que surgiu a ideia de uma fundação, justamente para fortalecer ainda mais esse vínculo.
"Hoje a preocupação em plantar marolo, em ter mais produtos no mercado, em fazer receitas diferentes foi despertando a curiosidade de outras pessoas, então hoje tem o pessoal que produz mudas… Nós temos uma associação que se preocupa em cuidar das coisas do marolo, tanto da parte cultural, quanto da parte ambiental, essa parte do comércio do fruto. Então, hoje, qualquer um paraguaçuense, residente em Paraguaçu, fica feliz de ser chamado de “maroleiro”, complementa.
Em Paraguaçu, o marolo virou até livro, lançado em 2017 pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural do município. “Marolo: um fruto, várias ideias!” também foi disponibilizado em versão e-book, que pode ser baixado aqui gratuitamente. Carvalho, inclusive, é uma das autoras, juntamente com Luciana Menezes de Carvalho e Saulo Adauto Palhão.
A planta é nativa do cerrado brasileiro, principalmente nos estados de Minas Gerais (MG), Mato Grosso do Sul (MS) e São Paulo (SP). Geralmente plantada em campos abertos, é uma árvore que pode atingir de seis a oito metros de altura, e pode ter cor de polpa branca, amarela ou rosada. E, apesar de ainda não ter ampla pesquisa sobre os seus benefícios, já se sabe que faz muito bem à saúde.
A nutricionista Jaciara Lopes destaca um estudo da Universidade Federal de Lavras (UFLA), município próximo a Paraguaçu.
"Fizeram uma pesquisa e viram que eles é fonte de potássio, de magnésio e de fibras, E esses alimentos vão ajudar no funcionamento do intestino, nas câimbras, além disso ainda tem o ferro, o cálcio. Ainda são poucos estudos, mas o que tem, mostra que é fonte desses minerais", explica.
Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Católica de Goiás (UCG) também observou que o marolo possui antioxidantes e ajuda na prevenção de doenças degenerativas.
A florada do Marolo começa no mês de novembro e o auge da produção começa na segunda quinzena de março e vai até a primeira quinzena de abril. A origem do nome “Marolo” é do tupi e significa “fruta mole”. E, por ser uma fruta de fácil manejo, pode ser consumida de várias maneiras: in natura ou transformada em outras delícias.
"Eles congelam a polpa e o ano inteiro tem polpa para ser vendida para fazer os produtos pelo pessoal que faz sorvete, 'trem' de padaria, tudo. Eles já guardam essa polpa, os produtores rurais também. Já conservam essa polpa para ser utilizada durante o ano, nas mais variadas receitas, destaca a fundadora da Associação Terra do Marolo
De acordo com a nutricionista Jaciara Lopes, o congelamento para consumo fora de estação é uma excelente ideia. "Quando a gente congela, consegue manter todos os nutrientes. A gente pode estar consumindo esse fruto tanto em forma in natura, o próprio fruto, ou também a partir de sucos, sorvetes, bolos, rocamboles, biscoitinhos seco", orienta.
Ainda há muitos capítulos da história desse pedaço das Minas Gerais em que o marolo pode aparecer. Mas, uma coisa pode ser afirmada com certeza: a fruta já é protagonista na identidade e no bem viver de Paraguaçu..
"A valorização do fruto ampliou-se, né, o que que ele pode trazer de novas receitas, de novos produtos. O pessoal permanece no ambiente do cerrado, que o pessoal está plantando e as pessoas vão entendendo o valor desse fruto para o município, ressalta Carvalho.
"Paraguaçu é conhecida como a terra do marolo, eu acredito que por conta disso muitas coisas ainda podem ser descobertas sobre esse fruto, a fim de estar ajudando também nessa área da alimentação, para conhecer melhor os benefícios e para a gente conseguir, através dele, dessa história, de Paraguaçu com esse fruto, desvendar mais coisas", acrescenta Lopes.
Edição: Douglas Matos