Após o episódio que tirou a vida do guarda municipal e dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT) em Foz do Iguaçu (PR), especialistas avaliam que a tragédia é fruto da incitação à violência política por parte de Jair Bolsonaro. Marcelo de Arruda foi assassinado pelo policial bolsonarista José de Rocha Guaranho, durante a comemoração de seu aniversário de 50 anos.
Na madrugada de domingo (10), o apoiador do presidente invadiu a festa, que teve como temática o PT, gritando “aqui é Bolsonaro” e atirou no aniversariante. Em legítima defesa, Marcelo também atirou contra o bolsonarista, evitando que outras pessoas fossem atingidas. Além da esposa, o guarda-municipal deixou quatro filhos.
A polícia ainda investiga se o assassinato de Marcelo teve motivação política. Porém, na avaliação do professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Luiz Quadros de Magalhães, a tragédia é resultado da incitação ao ódio e à violência contra opositores de Bolsonaro.
“Vivemos um processo que pode ser chamado de ‘guerra de afetos’, que é gerada propositalmente com mecanismos sofisticados que gera ódio. Dentro desse contexto, se insere o assassinato de Marcelo Arruda”, avalia.
Ao comentar o ocorrido no Paraná, o presidente afirmou que dispensa “qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores''. Porém, em diversas ocasiões, o pré-candidato à reeleição fez declarações públicas incentivando que seus apoiadores cometessem atos violentos contra pessoas de outro espectro político.
Em 2018, em uma manifestação na cidade de Rio Branco (AC), segurando o tripé de uma câmera para simular um fuzil, Bolsonaro disse “vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre, hein?”. Já em 2016, em entrevista a um programa de rádio, afirmou que “o erro da ditadura foi torturar e não matar”.
Assim como Marcelo, quatro anos atrás, o capoeirista Moa do Katende foi assassinado por manifestar sua posição política, na Bahia. Por declarar voto no Partido dos Trabalhadores nas eleições daquele ano, o mestre de capoeira foi morto com doze facadas por um apoiador de Jair Bolsonaro.
“Essa violência é fruto de uma política deliberada. Quando as pessoas estão mergulhadas no ódio, não há mais racionalidade, não há mais diálogo possível. Isso não é fruto de uma mera polarização. É fruto de uma política específica adotada pelo atual governo de geração de ódio e que tende a aumentar com a proximidade das eleições”, afirma José Luiz.
Em Minas Gerais, também já foram registrados episódios de violência, intimidação, ataques e ameaças cometidos por bolsonaristas contra opositores ao atual presidente. O Brasil de Fato MG relembra algumas dessas situações.
Apoiadores de Lula são atacados com drone
Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, apoiadores de Lula e do pré-candidato ao governo de Minas Gerais Alexandre Kalil foram atacados por um drone durante o lançamento das pré-candidaturas no município. No encontro, os participantes foram surpreendidos quando o aparelho eletrônico despejou em suas cabeças um líquido fétido, de origem desconhecida.
Apontado pela polícia como responsável pelo ataque, Rodrigo Luiz Parreira foi preso na terça-feira (5).
Intimidação em evento
Durante a passagem de Lula por Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, em maio deste ano, apoiadores de Jair Bolsonaro foram até o local de uma manifestação a favor do ex-presidente e intimidaram os manifestantes.
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Durante a discussão, policiais militares chegaram a apontar armas para membros do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em um vídeo divulgado nas redes sociais, é possível ouvir pessoas dizendo “atira”, enquanto os manifestantes afirmam que o protesto era pacífico.
Deputado mineiro ameaça Lula de morte
Em um vídeo divulgado em suas redes sociais, o deputado federal mineiro Junio Amaral (PL) ameaçou Lula de morte. Segurando uma pistola, o parlamentar convida o ex-presidente para visitar sua casa e afirma que está “pronto para um bela e calorosa recepção”.
Manifestantes sofrem atentado
Em novembro de 2021, um grupo que distribuía panfletos no centro de Belo Horizonte, convocando para uma manifestação contra o governo federal, foi atacado por um apoiador do presidente.
Na época, os manifestantes afirmaram que um homem chegou até o local da mobilização gritando “aqui é Bolsonaro” e tentando pegar os panfletos. Quando o apoiador do presidente percebeu que estava sendo filmado, quebrou a tela do celular e agrediu o presidente da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro) de Belo Horizonte.
Jornalista recebe ameaças de morte
No mesmo mês, após a publicação de uma matéria denunciando a operação policial que matou 26 pessoas em Varginha, no Sul de Minas Gerais, o jornalista Marcelo Hailer recebeu ameaças de morte nas redes sociais.
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Em uma das mensagens, um apoiador de Bolsonaro afirma que “queria dar uns oito tiros” no rosto do profissional.
Repórter é agredido
Em março do ano passado, um repórter que fazia a cobertura de uma manifestação em apoio a Jair Bolsonaro na capital mineira, foi agredido. No vídeo, também divulgado nas redes sociais, é possível ver os manifestantes ofendendo o jornalista e tentando expulsá-lo da manifestação. Em determinado momento, apoiadores de Bolsonaro começam a empurrar e desferir tapas e chutes no jornalista.
Edição: Larissa Costa