Com a chegada do inverno e o aumento da contaminação com doenças respiratórias, também cresceu a busca por pediatras nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de Belo Horizonte. Porém, a realidade encontrada por quem procura atendimento é de desassistência.
Ao todo, a capital mineira possui nove UPAs, distribuídas em suas regionais. Porém, uma decisão da Secretaria Municipal de Saúde concentrou o atendimento pediátrico em apenas três unidades: a do Barreiro, da Oeste e da Norte.
Carla Anunciatta, presidenta do Conselho Municipal de Saúde de BH (CMSBH), informou ao Brasil de Fato MG que a situação é caótica. “Não tem pediatras em número suficiente para atender à demanda. As mães estão peregrinando sem encontrar atendimento. Muitas não têm condições de se deslocar, o que causa sofrimento para mulheres e crianças”, explica Carla.
Profissional desvalorizado
Salários baixos, péssimas condições de trabalho e sobrecarga fazem parte da realidade dos profissionais de saúde. Na avaliação de Carla, esse cenário é um dos principais responsáveis pela falta de pediatras na rede pública da capital mineira.
“Eles trabalham exaustivamente. Não dá tempo de se alimentar, de ir ao banheiro. A situação está péssima tanto para os profissionais quanto para os usuários”, enfatiza.
Segundo informações do Comitê de Enfrentamento ao Conselho Regional de Medicina no Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte, apenas na UPA Norte, 14 pediatras pediram demissão desde o início do mês de junho deste ano.
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Ao Brasil de Fato MG, um servidor da enfermagem da unidade, que prefere não se identificar por medo de represálias, denunciou que o assédio moral sofrido pelos profissionais também é decisivo para que eles abandonem o cargo.
“O gerente da UPA Norte é extremamente assediador, com vários problemas, principalmente com pediatras. Ele instiga os pais a reclamarem. Para agilizar o atendimento, ele coloca várias crianças com os responsáveis na porta do consultório, gerando uma violência”, relata.
O servidor conta ainda que nem mesmo o horário de trabalho dos profissionais é respeitado.
“O gerente ignora o horário de intervalo e interrompe a alimentação do pediatra. Às vezes, o médico tem que ficar depois do plantão. Mesmo assim, o pagamento de hora-extra é muito demorado e nem sempre acontece”, concluiu o enfermeiro.
Falta de política
Ainda que o problema não seja de agora, na avaliação do Conselho Municipal de Saúde o agravamento da situação se deve também ao fato de a Secretaria Municipal de Saúde não oferecer soluções.
“Não tem uma política de recursos humanos consistente que dê conta de resolver esse problema. Estão chamando profissionais, mas eles não assumem o cargo. Além disso, não existe uma política de acolhimento para os usuários. Poderiam colocar enfermeiras ou outros profissionais para fazer o primeiro atendimento e encaminhar as pessoas com dignidade”, enfatiza Carla.
Nomeada em março deste ano, a escolha de Cláudia Navarro para comandar a gestão da saúde pública na capital mineira foi muito criticada por trabalhadores e usuários do Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte.
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Um dos motivos é a vinculação da médica ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM-MG), entidade que ela presidiu entre 2018 e 2020. Atualmente, o CRM-MG é alinhado ao Conselho Federal de Medicina (CFM), que tem se posicionado publicamente favorável às medidas adotadas por Jair Bolsonaro na condução da saúde pública.
O outro lado
Procurada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde informou que contratou 104 médicos “generalistas, que também podem atender o público infantil” e que “todos os pacientes que chegam às unidades são acolhidos”.
Quanto às denúncias de assédio moral, o órgão alerta que as ocorrências devem ser “informadas eletronicamente para fins de análises quantitativa e qualitativa e desenvolvimento de estratégias de enfrentamento”.
Edição: Larissa Costa