Uma declaração de Romeu Zema (Novo), que minimiza o papel da Secretaria de Assistência Social, fez com que o Conselho Estadual de Assistência Social de Minas Gerais (Ceas) emitisse um comunicado público e um pedido de retratação do governador do estado.
Em reunião com lideranças religiosas, no dia 18 de julho, o chefe do executivo mineiro afirmou que a secretaria “só fornece aquilo que o corpo pede”, enquanto igrejas e pastores evangélicos “fornecem aquilo que a alma necessita”.
No documento, divulgado na sexta-feira (22), o Ceas afirma que a declaração de Zema demonstra falta de compromisso com as políticas públicas de assistência social e menosprezo aos profissionais da área.
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“A Política de Assistência Social fornece oportunidade, fornece caminhos, fornece estratégias, fornece instrumentos com os quais mineiras e mineiros possam superar as suas vulnerabilidades com autonomia, preservando a sua liberdade. Ela é direito, não é favor”, afirma.
Interesse eleitoral
Pré-candidato à reeleição, Zema busca ampliar o apoio de eleitores evangélicos. Além do pastor e presidente da Igreja Batista da Lagoinha, Márcio Valadão, participaram da reunião com o governador líderes de mais de 20 igrejas evangélicas.
Na nota pública, o Ceas enfatizou que a assistência social, como política pública de seguridade social, é um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988 e, portanto, “não é objeto para oportunismos em anos eleitorais”.
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Leia a nota completa:
NOTA PÚBLICA E PEDIDO DE RETRATAÇÃO
A assistência social, como política pública de seguridade social, vem passando por profundas transformações a partir da Constituição de 1988. O Sistema Único da Assistência Social (SUAS), instituído pela Política Nacional de Assistência Social (PNAS) em 2004, foi criado em Lei em 2011, com a aprovação da Lei nº 12.435, que alterou dispositivos da Lei nº 8.742/93 – Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) e garantiu no ordenamento jurídico brasileiro inúmeras conquistas efetivadas ao longo desses anos.
A LOAS concretizou as diretrizes da Constituição Federal e reorganizou a Política de Assistência Social brasileira, assegurando a primazia da atuação do Estado na provisão de serviços, benefícios, programas e projetos. A aprovação da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, em 2009 - (TNSS), padronizou em nível nacional os objetivos, as provisões e as formas de oferta dos serviços socioassistenciais.
A aprovação da Norma Operacional Básica - Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH SUAS), cujo um dos objetivos é a padronização das carreiras do SUAS, por meio de diretrizes nacionais, para a implementação de ações específicas, têm como fim a qualificação e valorização dos trabalhadores atuantes no SUAS e, ainda, impactos diretos para a qualidade dos serviços e benefícios ofertados no SUAS.
Esses destaques indicam uma amplitude dos resultados alcançados pela Política de Assistência Social e apontam para um novo momento do SUAS. Mas tudo isso foi desconsiderado pelo então Governador de Minas Gerais Romeu Zema, que numa fala desrespeitosa , em uma reunião com pastores, tem a “plena convicção, que as igrejas, vocês pastores, conseguem desempenhar um trabalho que é muito além do que a nossa Secretaria (de Assistência Social) faz. É uma Secretaria, que muitas vezes, que só fornece aquilo que o corpo pede.”
A escancarada ignorância de conhecimento técnico, a falta de cotejo nas palavras, a ausência de urbanidade com o trato com a coisa pública, são claramente perceptíveis nessa fala que fragiliza todo o trabalho construído desde 1996 neste Estado, pioneiro na construção da política de assistência social.
A Política de Assistência Social fornece OPORTUNIDADE, fornece CAMINHOS, fornece ESTRATÉGIAS, fornece INSTRUMENTOS com os quais mineiras e mineiros possam superar as suas vulnerabilidades com AUTONOMIA, preservando a sua LIBERDADE. Ela é DIREITO, não é favor. Ela é DIREITO, não é moeda de troca. Ela é DIREITO, não é objeto para oportunismos em anos eleitorais. Ela é DIREITO. Ela é DIREITO, e não se pode menosprezar e desfazer do trabalho de toda uma política pública, que está articulada em todo o território nacional, em prol de um espúrio apoio político-eleitoral.
Nesse sentido, este Conselho Estadual de Assistência Social, órgão máximo de proteção da política de assistência social no estado de Minas Gerais, reafirma o caráter público e de direito da assistência social, reservado a todo aquele que dela necessite e enquanto necessite, EXIGINDO, do Senhor Governador, IMEDIATA RETRATAÇÃO PÚBLICA pela fala repugnante, que enfatiza a sua falta de compromisso e conhecimento com a política pública de assistência social, menospreza os trabalhadores da Subsecretaria de Assistência Social - SUBAS e ignora os esforços empenhados por nós conselheiros e afronta a autoridade institucional deste Conselho.
Belo Horizonte, 22 de julho de 2022.
Conselho Estadual de Assistência Social de Minas Gerais – CEAS-MG
Edição: Larissa Costa