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Crônica | A vida até parece uma festa

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O primeiro casamento era de um amigo músico. Então, ele pensou que poderia ir vestido mais informal

O fim de semana seria corrido. Ele não queria perder um segundo sequer. Só festas de casamento, eram três. Estava tão preocupado que separou uma roupa para cada ocasião. Como era desorganizado, fez até um mapa com a rota dos caminhos para chegar mais rápido nas festas.

O primeiro casamento era de um amigo músico. Amigo de velha data. Tocaram em muitos lugares chamados de copos sujos. Então, ele pensou que poderia ir vestido mais informal. Uma calça jeans velha de guerra e camisas arregaçadas. Colocou um sorriso na cara e partiu para lá. Chegando, começou a observar que o povo todo estava super arrumado. As mulheres de vestidos longos. Os homens quase todos de ternos chiques. Quando colocou o pé na festa, a mãe do noivo já perguntou:

- Que horas você vai trocar de roupa?

- O quê? Hora nenhuma. Vou ficar com essa mesmo. Lembrando os velhos tempos que tocávamos juntos.

- De jeito nenhum. Vou arrumar um terno para você.

Só que o terno era de um “defunto” bem menor. O terno ficou horroroso nele. A manga ficou perto dos cotovelos. A calça ficou muito curta e naquele estilo pega-frango. Parecia mais um espantalho no dia de Judas. Ele ficou num cantinho a festa toda. Ele fugiu de todas as fotos e filmagens para as redes sociais. Não queria ser ridicularizado pelos amigos no futuro. Saiu feito um piloto de Fórmula 1 da festa. 

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Passou em casa e, muito chateado, pensou:

- No próximo casamento, vou com o meu melhor terno. Foi o que fez. O casamento era no interior. Três horas de viagem.

Já no caminho, começou a sentir calor. Ele não sabia que o casamento era ao ar livre. O casamento foi num sítio muito chique da cidade. Ele chegou todo engomado achando que iria abafar dessa vez. Engano. O calor era insuportável e até o noivo estava de bermuda. Ele não acreditava no que estava acontecendo. A mãe do noivo veio e perguntou:

- Que horas você vai ficar mais à vontade? Que horas vai tirar o terno?

- Hora nenhuma. Não trouxe outra roupa.

- Peraí. Vou arrumar uma roupa mais leve para você.

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Trouxeram uma bermuda enorme em que cabiam duas pessoas dentro e sua canela fina ficou ainda mais à mostra. A camisa era GG e, dentro dela, ele desapareceu. E lhe deram um tênis velho, desbotado, fedorento e uma meia furada.

Ele não acreditava no que estava acontecendo. Parecia alguma praga ou feitiço de alguém. Seus olhos eram fichinha perto dos olhos de Capitu. Ele saiu à francesa, sem se despedir de ninguém. Foi embora e só acordou desses pesadelos na segunda-feira para trabalhar. Nem quis saber do terceiro casamento.

Hoje, ele dá boas risadas daquele fim de semana fatídico. Por uma obra do destino iria se casar, em breve.  Ele prometeu que iria surpreender no traje. Cenas para os próximos capítulos.

Rubinho Giaquinto é covereador da Coletiva em Belo Horizonte.

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

Edição: Larissa Costa