A vereadora de Belo Horizonte Duda Salabert (PDT) e a dirigente nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) Manuela D’Ávila denunciaram, na segunda-feira (1), que voltaram a receber ameaças de morte.
Mesmo separadas por mais de 1,7 mil quilômetros, uma na capital mineira e outra em Porto Alegre (RS), especialistas avaliam que os casos não devem ser analisados isoladamente.
Para Bruna Camilo, mestre em Ciência Política e doutoranda pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, as ameaças a Duda e a Manuela são parte de um contexto mais amplo e estrutural de violência contra as mulheres que ocupam espaços na política.
“Sempre as mulheres foram violentadas politicamente. Seja quando não tínhamos o direito de votar e sermos votadas ou pela desqualificação da presença feminina nos espaços de poder, nos relegando a uma esfera privada na qual realizamos o trabalho não remunerado”, explica Bruna, que também é militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM).
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Ainda que os ataques às mulheres que se desafiam a ocupar os espaços públicos não tenham começado nos dias de hoje, acredita-se que eles têm se intensificado.
No caso de Duda, além de afirmar que a vereadora “vai perder a sua vida”, o agressor também fez ameaças aos familiares da parlamentar. Já nas mensagens enviadas a Manuela, a filha de seis anos e a mãe da jornalista também foram ameaçadas.
Na avaliação de Bruna, a intensificação da violência está relacionada ao atual cenário político do país. Para ela, a postura do presidente Jair Bolsonaro (PL) autoriza e incentiva os ataques contra as mulheres.
“A gente tem um governo que legitima a violência contra as mulheres, contra as pessoas negras e contra a população LGBTI+. Quando existe um discurso que vem de uma autoridade e legitima diversas violências, como é possível proibir? Os agressores passam a ser resguardados por aquela fala”, enfatiza a cientista política.
Em 2014, quando ainda era deputado federal, Bolsonaro relativizou a gravidade do crime de estupro e afirmou que não estupraria sua colega de mandato Maria do Rosário (PT) por ela ser “muito feia”.
Dados da pesquisa Equidade de Gênero na Política, realizada pelo DataSenado, junto ao Observatório da Mulher contra a Violência, demonstraram que, nas eleições de 2020, três em cada dez candidatas sofreram descriminação por serem mulheres.
Outros casos
Além de Duda e Manuela, outras mulheres da política mineira também denunciam que enfrentam cotidianamente ameaças e outras formas de violência.
A deputada estadual Andréia de Jesus (PT) em março deste ano recebeu ameaças de morte. Na mensagem, enviada à parlamentar pelas redes sociais, o agressor afirma que iria matá-la e a chama de “aberração, macaca fedorenta, cabelo de esponja de aço, Marielle cover, favelada”.
A deputada petista denunciou o caso pouco tempo depois de deixar de ter escolta. A parlamentar era acompanhada pela Polícia Militar devido a outro episódio de ameaças, ocorrido em novembro de 2021. Na ocasião, Andreia recebeu uma mensagem que dizia que “seu fim vai ser igual ao da Marielle".
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Já Margarida Salomão (PT), prefeita de Juiz de Fora, município da Zona da Mata mineira, foi ameaçada após ter decretado lockdown na cidade devido à pandemia de covid-19. A medida foi tomada em março de 2021, período de intensificação da contaminação do vírus, no qual os órgãos de saúde orientavam o fechamento dos municípios.
Para a mestra em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais Esther Maria Guimarães, as agressões são uma resposta ao papel que as mulheres cumprem no enfrentamento ao atual modelo de sociedade.
“Quando essas mulheres acessam os espaços de representação, especialmente aquelas que se constroem a partir das lutas populares, elas fissuram o padrão histórico de organização do poder em que homens brancos dominam e utilizam a representação política para gerir seus próprios interesses”, explica.
Militante do Movimento Brasil Popular, Esther acredita que, ao ocuparem os espaços da política, as mulheres contribuem para colocar em xeque a atual estrutura de poder. “Os homens brancos e representantes do capital se veem verdadeiramente ameaçados e reagem com a velha violência misógina que também vitima mulheres nos espaços domésticos”, conclui.
Edição: Larissa Costa