Centenas de manifestantes, entre trabalhadores, sindicalistas e integrantes de movimentos populares, participaram de um protesto, na quinta-feira (11), em defesa da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e contra o desmonte da estatal. A manifestação ilustra o sentimento da maioria dos mineiros, conforme apontou a pesquisa DataTempo, divulgada no último dia 3.
O levantamento revela que 62,9% dos eleitores de Minas Gerais ouvidos pelo instituto são contra a privatização das estatais mineiras, sobretudo da Cemig. A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig) e a MGS Administração e Serviços também figuram entre as prioridades dos eleitores do estado.
Na avaliação do economista e pesquisador em desenvolvimento social Weslley Cantelmo, o dado é reflexo da memória da população sobre os avanços alcançados em Minas após a estatização de serviços básicos, como o saneamento. A Cemig e a Copasa, por exemplo, têm menos de cem anos.
“Me chama a atenção a resiliência no imaginário da população sobre o papel das estatais em virtude da fortíssima propaganda despolitizante de caráter neoliberal, liberal que foi feita nos últimos anos", pontua.
Consultoria internacional para descreditar Cemig
Cantelmo ressalta que um desses exemplos, é a falta de investimentos e até mesmo o sucateamento praticado nos últimos anos nas estatais mineiras. Para o especialista, entidades como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) poderiam ter sido importantes protagonistas para fomentar o desenvolvimento no estado, se houvesse interesse do governo.
A crítica é endossada por Emerson Andrada, coordenador geral do Sindicato dos Eletricitários de Minas Gerais (Sindieletro). O sindicalista ressalta que, entre as inúmeras denúncias apontadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Cemig, a comissão também revelou que a gestão da empresa e o governo contrataram uma consultoria estrangeira para minar a credibilidade da estatal com a população.
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“Essa consultoria fez um desenho para o governador do que ele precisava fazer para privatizar a Cemig. E nesse desenho está apontada a necessidade de mudar a percepção da população acerca da qualidade do serviço que a empresa presta”, denuncia o dirigente.
Andrada explica que, após a orientação, diversas ações orquestradas foram executadas dentro da empresa com esse objetivo. “Do que eu estou falando? Atrasos de meses na compra de transformadores, conectores, cabos, insumos básicos para manutenção da rede elétrica e para garantir serviços de qualidade para a população”, comenta.
Soberania em risco
A defesa das estatais mineiras é garantida pela Constituição Estadual, que prevê a obrigatoriedade de um referendo popular para a venda das empresas, além do aval de um terço dos deputados estaduais. No entanto, a entrega desses patrimônios à iniciativa privada sempre foi prioridade da gestão de Romeu Zema (Novo).
Atualmente, o governador tenta aprovar a venda de empresas por meio do Regime de Recuperação Fiscal, firmado com o governo federal.
Postura contraditória
A pesquisa DataTempo aponta ainda que entre os eleitores mineiros que declaram voto em Lula (PT) para presidência e em Alexandre Kalil (PSD) para o governo do estado, 75,2% e 70,4%, respectivamente, são contra as privatizações. Já entre aqueles que indicam intenção de voto em Jair Bolsonaro (PL) e em Romeu Zema (Novo), a defesa das estatais é de 36,5% e 29%.
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O candidato à reeleição no estado se mantém na liderança das pesquisas de intenção de voto em Minas Gerais. Na avaliação de Weslley Cantelmo, o comportamento contraditório do eleitor mineiro com relação à reeleição de Zema e a defesa das estatais, tem influência significativa das campanhas defendidas pelos gestores municipais.
“Zema conseguiu estabelecer boa relação com os prefeitos, porque o governo Pimentel acumulou alguns atrasos no repasse da parcela municipal do ICMS e o ele [Zema] conseguiu sanar esses atrasados", explica. “Isso porque ele conseguiu na justiça em função de uma ação no Supremo Tribunal Federal, de suspensão das parcelas da dívida do Estado com a União”, completa.
Na avaliação do especialista, também é característico do eleitor mineiro em primeiro turno focar nas propostas e nos posicionamentos dos candidatos ao executivo nacional, para no segundo turno se dedicar sobre o pleito estadual.
Edição: Larissa Costa