Artista, produtor cultural e bibliotecário, Fred Catarino utiliza a metodologia “faça você mesmo” para elaborar projetos sobre a história de movimentos culturais da capital mineira. A iniciativa tem o objetivo de preservar e difundir a memória cultural da cena underground de Belo Horizonte. Com pouco orçamento financeiro, Catarino utiliza softwares gratuitos e a ajuda de amigos para realizar seu trabalho.
Inspirado no movimento punk, o “faça você mesmo” se distancia da lógica empresarial da música e, portanto, “obriga” os artistas a produzirem seus próprios sons e registros. Segundo Catarino, o método pode ser aplicado em diversas áreas que envolvam cultura, arte e memória.
“É possível experimentar essa forma de elaborar projetos culturais em diversos nichos. Acredito que essa ideia é inspiradora. Qualquer meio cultural que você tenha interação, permite conhecer vários elementos e gerar uma documentação importante, que vai apresentar parte de um período de movimentação daquela cena”.
Inspirações
Durante sua graduação, Fred Catarino trabalhou no Acervo Curt Lang, que reúne uma diversidade documental do musicólogo teuto-uruguaio Francisco Curt Lange. Segundo o artista, o trabalho de resgate da música erudita, realizado pelo musicólogo, o inspirou a acumular memórias e arquivos da cena musical punk belo-horizontina.
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“O trabalho dele serve de pesquisa para profissionais do Brasil todo. A maneira com que ele fez o resgate e a documentação gerou um amplo registro. Eu trabalhei no acervo por dois anos e me inspirou muito”, comenta.
A cena punk de BH
A história do Heavy Metal e da cultura Punk em Belo Horizonte é relevante nacional e internacionalmente. Na década de 80, bandas como Sepultura, Sarcofago e Ataque Epiletico foram reconhecidas. O movimento foi responsável por incluir elementos musicais, estéticos e levantar bandeiras políticas.
Fred Catarino acredita que essa movimentação se perpetua e que documentá-la é significativo.
“Isso continuou, entre os anos 2000 e 2010. Eu tento construir parte da memória desse período mais recente de BH. Trazer uma narrativa dentro deste contexto, para essa cena, é bastante importante”.
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O artista acumula produções literárias, audiovisuais, fotográficas e televisivas, nas quais socializa parte da história da cena underground de BH, utilizando seu acervo pessoal de documentos, registros e vivências.
Anti conservadorismo
Fred relata que a cena alternativa do heavy metal e do punk teve grande influência da luta contra a ditadura militar no Brasil. Portanto, o artista acredita que resgatar a memória e história cultural da cena é também valorizar um grito político contra o conservadorismo.
“Eu sempre tive uma relação com a movimentação punk, anarco punk e heavy metal. E é uma cultura que sempre falou de temas como anti homofobia e anti capitalismo. A gente sempre trouxe uma postura de tentar transformar a sociedade contra essas mazelas”, comenta o artista, fazendo referência ao atual cenário político do país.
Edição: Ana Carolina Vasconcelos