Em 1968, Fidel declarou como sendo o “Ano do Guerrilheiro Heróico”, em homenagem a Che Guevara
A conclusão da crise dos mísseis tornou tensas as relações entre cubanos e soviéticos. Kruschev não ter consultado Fidel para retirar os mísseis da ilha, deixou o comandante furioso, desejando a independência de Cuba para que fosse definida sua política externa. Em vista disso, Fidel começa a aprovar as revoluções armadas na América Latina, apesar da desaprovação soviética.
Ao fim de 1964, Che Guevara, seu maior confidente, criticou arduamente os partidos comunistas pró-soviéticos da América Latina que, segundo ele, vinham marcando passo na luta revolucionária “Sabemos que a revolução triunfará na América latina e no mundo, mas isso não significa que os revolucionários devam sentar-se nos degraus da porta”, afirmo Che. Em seu discurso na Assembleia Geral das Nações unidas, Che ofereceu o apoio de Cuba para as lutas de libertação do “Terceiro Mundo”.
No começo de 1965, Cuba começa a enviar material de apoio para os movimentos revolucionários na Venezuela e na Argentina. Em janeiro de 1966, Fidel recebeu em Havana a Primeira Conferência Tricontinental, reunindo uma grande quantidade de movimentos revolucionários de mais de setenta países. A URSS esperava que essa Conferência fosse dominada pelos comunistas tradicionais e ortodoxos, ledo engano.
Em 1966, foi declarado o ano da solidariedade em Cuba
Fidel era visto pelos comunistas latino-americanos como um verdadeiro herói, e foi reconhecido como porta-voz da Conferência. Fidel mantinha a tradição de dedicar cada ano do calendário revolucionário a uma meta mais avançada da revolução, tendo proclamado o ano de 1966, como o “Ano da Solidariedade Revolucionária”.
Che Guevara
No ano de 1967, Fidel declara que Che Guevara havia deixado Cuba em uma missão secreta a fim de liderar uma campanha militar em algum lugar da América do Sul, mais tarde, soube-se que seria na Bolívia.
Che junto com seus companheiros, isolados nas montanhas desconhecidas da Bolívia, são denunciados ao exército boliviano por camponeses. Cercados, os cubanos foram feitos prisioneiros. Che leva um tiro de seus aprisionadores. Em 18 de outubro de 1967, Fidel anuncia a morte de Che. “Raramente podemos dizer de um homem, com a maior justiça e com a maior precisão, aquilo que dizemos de Che: que ele foi um exemplo puro de virtudes revolucionárias. Foi um ser humano extraordinário, um homem de extraordinária sensibilidade”, afirmou. Em 1968, Fidel declarou como sendo o “Ano do Guerrilheiro Heróico”, em homenagem a Che Guevara.
Dependência da cana de açucar
Durante os primeiros anos da revolução, a economia política cubana foi hegemonicamente “anti-açúcar”. Fidel se convencia de que o subdesenvolvimento econômico do país era causado pela concentração da economia no açúcar. Essa monocultura, tinha muitas desvantagens; como quase toda a renda do país vinha da exportação do açúcar; qualquer queda no preço internacional provocaria automaticamente, danos econômicos.
Além disso, a colheita do açúcar é sazonal, a maior parte da mão de oba de Cuba permanecia ociosa durante muitos meses do ano. Deste modo, a dedicação da mão de obra rural e do capital à produção de açúcar também limitava o desenvolvimento da indústria, o que significava que Cuba dependia de fornecedores externos para em geral todos os bens manufaturados.
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Como a maioria das fazendas cubanas era usada para o cultivo da cana, o alimento básico tinha de ser importado. Então, o novo governo revolucionário havia tomado a decisão em fazer um esforço para industrializar o país a fim de diversificar a economia. Muita terra própria para o cultivo da cana foi arada para ser utilizada para outras culturas, enquanto que a cana era plantada em solos impróprios.
No ano de 1964, Fidel e demais dirigentes do governo, resolveram desviar seus esforços para a cultura que conheciam melhor: a cana-de-açúcar. Uma instituição pertencente ao governo estabeleceu metas específicas para cada plantação de cana. Fidel anuncia um novo sistema de incentivo para os trabalhadores.
Essa nova estratégia teve algum problema desde o seu início. Com exceção de 1965, o primeiro ano, as metas de produção nunca foram atingidas. As cifras de 1966 e 1969 foram inferiores àquelas das colheitas pré-revolucionárias. A produtividade caiu visivelmente. Os trabalhadores com empregos e salários seguros tinham pouco incentivo para trabalhar com mais empenho, ou por mais horas, apenas por causa dos apelos revolucionários.
Fidel subestimou as dificuldades de operação de uma complexa economia planificada. Muitos erros de investimento e planejamento ocorreram, um exemplo claro, foram as cem máquinas de cortar cana, importadas da URSS em 1965, sendo por muito descartadas, pois o equipamento e a maquinaria nova muitas vezes ficavam paradas por várias semanas, devido à falta de mecânicos especializados.
Em 1969, Fidel anunciou uma corajosa e nova tarefa: a quebra do recorde na produção de cana, estimando uma colheita de dez milhões de toneladas para o ano de 1970. “A safra se tornaria um padrão pelo qual seria possível avaliar a capacidade da revolução”, afirmou. Essa safra daria a Cuba muitas e necessárias divisas; o que faria com que a fé popular fosse restaurada na revolução.
Relações entre Cuba e a URSS melhoraram à partir de 1970
Mais de um milhão de trabalhadores de outros setores da economia, junto com cem mil soldados do Exército, foram cedidos para a indústria do açúcar. Infelizmente, o resultado do final da colheita, não foi o esperado; foi de 8,5 milhões de toneladas, é bem verdade que foi um recorde mundial, mas ficou aquém da meta estabelecida. Os custos abalaram a economia de Cuba; os recursos e o pessoal, desviados para a produção do açúcar provocaram uma queda na maioria dos outros setores da economia.
Apoio aos movimentos revolucionários no mundo
No entanto, as relações entre Cuba e a URSS melhoraram e muito, durante a década de 1970. Em 1972, a URSS prorrogou o pagamento da dívida de Cuba até a década de 1990, concordando em fornecer novos créditos para a importação de maquinaria, petróleo e alimento.
Fidel passa a se concentrar no desenvolvimento de boas relações com os países da região. Há o estabelecimento de novas relações diplomáticas com a Argentina, Colômbia, Peru e Venezuela; bem como alguns países do Caribe. Em 1975, a Organização dos Estados Americanos (OEA) volta a aceitar Cuba como membro. Mas, os EUA continuavam com seu embargo comercial. Apesar disso, Cuba estava emergindo de seu isolamento político.
Fidel continuava a ajudar os movimentos revolucionários no mundo, enviando cerca de quinze mil soldados para Angola em outubro de 1975, lutando contra grupos apoiados pelos EUA e África do Sul e apoiando governo pró-soviético. Em 1977, mais tropas cubanas foram enviadas à África, unindo-se às forças soviéticas para ajudar o governo etíope a esmagar uma revolta separatista.
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A Revolução Cubana tornou-se um modelo para os revolucionários do Terceiro Mundo. Por exemplo, na revolução nicaraguense de 1979, tornando-se como Fidel chegou a afirmar, “o segundo território livre das Américas”. Em seu discurso em Manágua ele lembrou que o ditador Anastasio Somoza, pediu aos invasores da Baía dos Porcos que voltassem com alguns fios de sua barba; então Fidel esboçou um sorriso. “Ao invés dos fios, decidi trazer a barba inteira”, brincou.
Porta voz do dos países do “Terceiro Mundo”
Sua voz cresce como porta-voz dos interesses do “Terceiro Mundo”, exercendo o cargo de Presidente do Movimento dos Países Não-Alinhados (organização reunindo quase todos os países do “Terceiro Mundo”). Sediando em Cuba, em agosto de 1985, uma grande conferência hemisférica sobre o problema da dívida externa nos países da América Latina.
A dívida externa da América Latina, nos meados dos anos de 1980, ultrapassava a marca dos 700 bilhões de dólares, portanto, metade da dívida do “Terceiro Mundo”. Na Conferência, Fidel argumentou que essa dívida não poderia e não deveria ser paga, pois grande parte dessa dívida teria sido emprestado para ditaduras repressivas que usavam o fundo para propósitos corruptos e não para o bem comum.
Antonio Manoel Mendonça de Araujo é professor de Economia, conselheiro do Sindicato dos Economistas de Minas Gerais (Sindecon) e ex-coordenador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED-MG)
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
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Edição: Elis Almeida