Minas Gerais

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Deputados federais mineiros não votam de acordo com a religião que dizem seguir, mostra estudo

“Vimos que é possível quem se diz defensor da vida, votar a favor da liberação de venenos”, afirma pesquisador

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Imagem: - Fabio Rodrigues Pozzebom

Um estudo demonstrou que a maioria dos deputados federais mineiros, que se declaram pertencentes a alguma religião, não votaram em matérias importantes de acordo com sua confissão religiosa. “Nós encontramos evangélicos e católicos votando favoráveis a medidas desumanas e anti-cristãs", explica o coordenador da pesquisa.

O levantamento, realizado pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos (NESP) da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, analisou o perfil religioso dos parlamentares mineiros e a forma como votaram em sete projetos relevantes: a reforma da previdência, a ampliação da posse de armas em propriedades rurais, o Projeto de Lei (PL) da grilagem, a autonomia do Banco Central, a desestatização da Eletrobrás, a PEC dos precatórios e o PL do veneno.

60% dos que se declaram católicos votaram favoráveis a quatro ou mais das proposições

“Todos esses são projetos muito importantes com implicações sobre a vida da gente e que consideramos inadequados a um pensamento cristão. Nós queríamos saber se a identidade religiosa dos deputados e senadores fez o sujeito votar a favor ou contra interesses da população”, explica Claudemir Francisco Alves, coordenador da Assessoria de Monitoramento dos Poderes Públicos do NESP.

O estudo analisou o perfil de 55 deputados federais e quatro senadores mineiros, em exercício e fora do exercício. Destes, 35 se declaram católicos, 11 evangélicos, dois cristãos, um espírita, dois sem religião e sete sem informação. Destaca-se que nenhum dos parlamentares se declara pertencente a religiões de matriz africana.

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Ao analisar como os deputados votaram nas sete matérias consideradas relevantes pela pesquisa, observa-se que 60% dos que se declaram católicos e 72% dos que se declaram evangélicos votaram favoráveis a quatro ou mais das proposições.

Os dois que se consideram “cristãos” foram favoráveis à maioria das propostas. Um dos que se declaram “sem religião” votou “sim” para seis proposições e o espírita votou favorável a todas as propostas.

Ao analisar os dados, os pesquisadores concluíram que, a partir do perfil religioso dos parlamentares, não era possível prever como eles votam. Desta forma, a questão religiosa não seria, necessariamente, determinante para os deputados decidirem seu voto.

“Tudo isso nos leva a concluir que o fato dos deputados se auto definirem como membros de uma confissão religiosa não o leva a votar em total coerência com a confissão religiosa que ele professa. Você vê pessoas que se declaram cristãs, mas que votam em questões que prejudicam à sociedade”, argumenta, Claudemir.

Católicos não se orientam pelos posicionamentos da CNBB

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem se posicionado publicamente em relação a diversos assuntos relevantes para a sociedade brasileira. Diante da conjuntura nacional, a entidade compara as proposições apresentadas por alguns governos à Doutrina Social Cristã.

Quanto à flexibilização de regras para a posse de armas, por exemplo, a CNBB se declarou contrária, “inspirada no mandamento bíblico ‘não matarás’”. Em relação à reforma da previdência, os bispos afirmaram que a medida “escolhe o caminho da exclusão social”. A entidade também rechaçou a privatização da Eletrobrás e o PL do veneno.

Ainda assim, a maioria dos deputados federais mineiros que se declaram católicos votaram favoráveis a mais de uma das propostas criticadas pela CNBB.

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“Uma coisa se destaca no estudo que fizemos. É a existência de parlamentares eleitos em nome de uma denominação mas com total indiferença na aplicação prática da doutrina que ele diz seguir. Então é possível alguém que se diz defensor da vida, votar a favor da liberação de venenos na comida das pessoas e do uso de armas”, explica Claudemir.

Eleições

Na avaliação do pesquisador, a proximidade das eleições torna ainda mais relevante a realização do estudo. Segundo ele, muitos candidatos se apresentam à população como se representassem determinado seguimento religioso

“Nós temos visto várias propagandas de pessoas que se dizem ‘homens e mulheres de Deus’. Observamos nos últimos quatro anos que muitos, e às vezes os mesmos candidatos, na prática tiveram um comportamento que ignorou a confissão religiosa e defenderam ideias que contribuem para o aumento da violência e do desamparo social”, conclui.

Edição: Elis Almeida