70 instituições constroem o Portal há dois anos
O Portal do Bicentenário é uma iniciativa interdisciplinar, uma rede educativa que tem o propósito de produzir, editar, fazer curadoria e disponibilizar conteúdos sobre os 200 anos de independência para e com a educação básica, pretendendo reconhecer e fortalecer a autoria daquelas e daqueles que atuam nas escolas brasileiras.
Visamos também, promover o diálogo entre saberes e práticas do ensino superior, de povos tradicionais e de movimentos populares, além de coletivos democráticos de todo o Brasil. Ou seja, somos um portal para vários Brasis!
O Portal vem sendo construído nos últimos dois anos por uma parceria que envolve mais de 70 instituições: grupos de pesquisa, projetos de extensão e de ensino, integrando instituições e sociedades científicas e sociais, universidades federais e estaduais, programas de pós-graduação e departamentos de graduação; sindicatos, a Confederação Nacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras em Educação e movimentos sociais.
Quatro trilhas formativas foram criadas: Independências, Comemorações, Trajetórias e Améfrica. Por elas, traçamos os caminhos propostos para alargar os sentidos desses duzentos anos de Brasil independente.
Independências
Ao caminharmos pela trilha Independências, nos encontramos refletindo sobre o processo histórico da independência do Brasil. Ela é traçada por um conjunto de outros movimentos que lhe dão contexto, que incluem inconfidentes, conjurados e patriotas que acenam para uma conjuntura de crise, rupturas e projetos políticos em disputa.
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Além de descentralizar os espaços deste processo, esta trilha contempla a atuação de outros protagonistas. Surgem no decorrer do caminho, mulheres, escravizados, indígenas, pobres que tomam para si, os múltiplos significados de liberdade e independência e constroem sua própria história à contragosto das autoridades.
Comemorações
A trilha Comemorações nos aguçam outros sentidos. Reinventa-se aqui, o sentido de comemorar, rememorar, abarcando o conjunto de saberes, fazeres, expressões, práticas e seus produtos culturais, que remetem à história, à memória e à identidade nos 200 anos de Brasil. Cinema, arte, cultura e patrimônios fazem parte desta trilha. Aparecem nela também, o uso dos espaços públicos, a constante reinvenção de símbolos, ritos e memórias que constroem as identidades brasileiras.
Trajetórias
Nas Trajetórias encontram-se evidenciadas pessoas, grupos, movimentos populares, instituições, em diferentes tempos e espaços trazendo o debate para as agências desses atores sociais e seus impactos na construção de nosso país. São trajetórias de famílias, indivíduos, coletivos, grupos étnicos, mas também os percursos de agentes não-humanos, como a fauna, flora e ecossistemas que participam da história das regiões. São múltiplos processos e emancipações cotejados nesta trilha.
Améfrica
A trilha Améfrica foi criada por inspiração dos escritos de Lélia Gonzalez. América Latina e África separadas por um oceano e unidas pela diáspora Atlântica, esta trilha que conecta continentes busca oferecer novas perspectivas sobre essas regiões a partir de vivências, experiências e relações estabelecidas entre indígenas, africanos e afrodescendentes.
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Contempla-se aqui as singularidades das outras três trilhas e potencializa a diversidade, as histórias orais e escritas, as inteligências e os conhecimentos dos países da América Latina, Caribe e África bem como suas lutas por emancipação nesses 200 anos de histórias.
Disputa de narrativas
Com os inúmeros materiais didáticos abarcados em nossas trilhas, percebemos a contínua oportunidade de novas produções. Um exemplo disso é que já possuímos materiais encaminhados por professores que experimentaram as sugestões do Portal em sala de aula e compartilharam com a gente estas novas possibilidades. Assim, esses materiais que inspiram novas práticas, quando registradas, tornam-se instrumentos para socialização do exercício docente, ao mesmo tempo em que reconhece e valoriza a autoria didático-pedagógica e intelectual daqueles e daquelas colegas que atuam na educação básica.
Ao percorrer essas trilhas do Portal, uma pluralidade de Brasis entra em cena: negras, negros, indígenas, mulheres, escravizados, pobres, imigrantes, ciganos entre outros subalternos da história são apresentados por meio de materiais didáticos a serem explorados, ressignificados e reconstituídos por professoras e professores no “chão da escola”.
Evidenciamos assim, as experiências, as agências, as formas de luta e resistência desses grupos marginalizados. Disputamos as narrativas desse bicentenário ao destacar os mais diversos sentidos de liberdade e de independência não só nos anos que circundam 1822, mas ao longo da trajetória de construção da nação brasileira e que ainda se faz presente em nossos dias.
Pedro Castellan Medeiro é doutor em História Social na Universidade de São Paulo (USP) e professor da educação básica e membro do Portal do Bicentenário
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
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Edição: Elis Almeida