Patrícia Melo, candidata a deputada estadual, foi agredida por um bolsonarista no dia 7 de setembro
“Nossas armas estão nas ruas, é um milagre, elas não matam ninguém. A fome está em toda parte, mas a gente come, levando a vida na arte”. Assim cantava Cazuza, autor da música Milagres, ao lado de Denise Barroso e Frejat, nos anos 1980. E hoje, em pleno século 21, a canção é mais atual do que nunca.
As “armas”, nesse caso, são a cultura, educação, liberdade... que, nos dias de hoje, continuam tão distantes da realidade brasileira. Elas não matam ninguém. Mas, para quem está hoje como regente deste país, a arma que mata é naturalizada. A arma da crueldade, da intolerância, que esparrama medo. Diversidade? De forma alguma. Todos têm que pensar igual.
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E para quem pensa diferente, ou mesmo para quem simplesmente está exercendo seu pleno direito democrático de trabalhar, fazer campanha, ir e vir, as armas que estão aí matam e machucam. Prova disso é a morte do petista Marcelo Arruda, durante sua festa de aniversário, e a morte de outro petista no Mato Grosso, Benedito Cardoso dos Santos.
Violência política com quem pensa diferente
A realidade na terra mineira Uberaba não se mostrou muito diferente. Não houve morte, mas houve violência política. No dia 7 de setembro, a candidata a deputada estadual pelo PT Patrícia Melo foi agredida no calçadão da Rua Arthur Machado. Assim como os assassinos de Marcelo e Benedito, o agressor de Patrícia defende a candidatura do atual presidente da República, que naturaliza a violência contra negros, mulheres, comunidade LGBTI+, além de preconceito religioso, e muito mais.
Patrícia foi vítima de um cidadão defensor de Bolsonaro, que inclusive depredou o boneco do ex-presidente Lula e agrediu a ela e à sua equipe com palavras de baixo calão, além de ter tirado um estilete ameaçando a todos. “Não podem nos intimidar dessa forma, e não vão”, garantiu Patrícia.
O rapper e assessor da candidata Johnny Black estava presente no momento e tentou proteger Patrícia. “Tentei segurar o agressor e argumentar que temos que respeitar as divergências, sem agressões. Somos de paz e só queremos realizar nosso trabalho”, pontua.
Patrícia Melo registrou boletim de ocorrência na Polícia Militar. Sua assessoria jurídica solicitou as imagens do Olho Vivo para proteção da candidata. “Ele saiu alegando que tinha marcado nossos rostos e que iria nos pegar. Temos que nos preservar”, disse Patrícia.
Moradores de Uberaba se solidarizam
Para Jorge Bichuetti, a agressão contra Patrícia Melo foi um ato covarde de violência. “Infelizmente, a violência cresce estimulada pelo fascismo, pela cultura do ódio, pela paranoia de uma proposta política que é uma contínua negação do amor, da paz e do bem comum”, avalia.
“Minha solidariedade a todos que viveram esse drama. As forças da morte temem o canto da vida. Tentam matar a esperança. Sem medo de ser feliz, precisamos fazer a alegria e os sonhos vencerem o medo, o arbítrio, o desgoverno”, completa Jorge.
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Ao saber do que aconteceu em Uberaba com a Patrícia, a educadora Abigail Bracarense também se solidarizou. “O quadro preocupante de violência no país emerge do terreno fértil de uma profunda desigualdade social em que um grande contingente de pessoas, que não usufrui dos direitos básicos da cidadania, sai de uma situação de invisibilidade e de indiferença para a condição de alvo preferencial de preconceitos enrustidos estruturalmente na sociedade brasileira”, acredita.
Ela lembra que o atual governo opta pela “não estabilização da política” com vistas à instalação de um governo autoritário, explorando essas fragilidades estruturais. “Para tanto, incentiva a violência e o faz verbalmente, cultuando a tortura, promovendo e incentivando o uso de armas. O pesadelo da violência é intencional”, avalia Abigail.
Pituca Ferreira é jornalista e contribui com o NaRua
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
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Edição: Larissa Costa