Taxa de desemprego em níveis recordes, volta do país ao Mapa da Fome, desmonte da educação e da saúde pública. Esses são alguns dos fatores que podem ter contribuído para um fato alarmante: a taxa de mortes por “lesão autoprovocada” no Brasil subiu 35%, de 2011 a 2020. Os dados são do DataSUS e apontam ainda que Minas Gerais é o segundo estado do país com a maior taxa de suicídio, ficando atrás apenas de São Paulo.
Cristiane Nogueira, integrante do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), ressalta que as taxas vão na contramão do que o país havia proposto anos atrás, quando se tornou signatário de convenções internacionais que pactuaram pela redução dos casos.
“É um cenário alarmante, que reflete a grave situação do Brasil”, ressalta. “Quando a gente fala em valorização da vida é ter qualidade para viver. Um cenário tão negativo como o que estamos enfrentando tem impacto direto na saúde mental das pessoas. Saúde mental não quer dizer só de condições psíquicas e intrapsíquicas, mas também de condições de vida e relação das pessoas entre si e com o mundo”, completa.
Neste mês, a campanha Setembro Amarelo chama a atenção para o combate aos casos e convida toda a sociedade a entender um pouco mais sobre o tema. Cristiane reforça que o suicídio é um fenômeno multifatorial. Para ela, um enfrentamento efetivo e robusto precisa ser fundamentado em uma política nacional orquestrada com investimentos no setor.
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“Tratar no âmbito individual é muito insuficiente e ineficiente”, explica. A especialista conta que nos últimos anos o país tem enfrentado o sucateamento das políticas de saúde mental. Em Belo Horizonte, por exemplo, em 2021, os Centros de Referência em Saúde Mental (Cersam) tiveram pedidos de interdição movidos pelo Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM), instituição que, durante a pandemia, se alinhou ao presidente e defendeu medidas sem eficácia para tratamento da covid-19.
A nível nacional, a reforma psiquiátrica, que propõe o tratamento antimanicomial, ou seja, em liberdade e no território, assunto que torna o país uma referência internacional, tem sido substituída por incentivos às comunidades terapêuticas, instituições privadas que oferecem internações para pessoas que fazem uso problemático de drogas. “Isso tem um impacto muito negativo na qualidade da assistência que é ofertada à população e também na capacidade dessa assistência”, alerta.
Aumento de opressões prejudica prevenção ao suicídio
Cristiane ressalta também que o aumento de violências contra a identidade das pessoas, seja por sua raça, cor, orientação sexual ou identidade de gênero, contribui para o aumento do sofrimento mental. “Ninguém deveria sofrer pela sua condição de existência, as pessoas têm direito de ser como elas são”, reforça.
A especialista também alerta que é preciso combater a psicofobia, que é o preconceito com o sofrimento emocional. Ela pontua que todas as pessoas estão passíveis de sofrer e adoecer emocionalmente, o que não significa, necessariamente, uma doença ou transtorno mental, mas um momento em que é preciso cuidado e ajuda.
“Se uma pessoa quebrar a perna a gente sabe o tempo que precisa para agir, onde procurar ajuda, o que fazer. Agora, sendo uma questão de adoecimento mental, as pessoas não sabem o que fazer. Há um desconhecimento sobre como e quando agir” exemplifica. Para a especialista, o assunto nunca deve ser tratado como “frescura”. A questão é legítima e faz parte da existência humana.
Procure ajuda
Se você precisa de ajuda, ou conhece alguém que esteja precisando, há atendimentos 24 horas, gratuitos e com profissionais, como o Disque 188. A ligação é gratuita.
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O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, e atende sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat 24 horas, todos os dias. Em Belo Horizonte, o atendimento presencial é feito na Rua Desembargador Barcelos, nº 1286, no bairro Nova Suíça. Para atendimento por chat, e-mail ou para consultar a sede do CVV em sua cidade, clique aqui.
Em Belo Horizonte e na Região Metropolitana também é possível encontrar serviços gratuitos de atendimento psicológico. No Sistema Único de Saúde, o acompanhamento é ofertado nos Centros de Saúde. Os Centros de Referência em Saúde Mental (Cersam) atendem crises e urgências psiquiátricas.
Conheça outros lugares que prestam atendimentos:
Universidades
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a PUC Minas oferecem plantão psicológico gratuito, voltado para a comunidade acadêmica, ou seja, estudantes, professores, técnicos e terceirizados.
Já o Centro Universitário UniBH oferece o atendimento para qualquer pessoa, sendo da comunidade acadêmica ou não. O serviço é realizado por estagiários, acompanhados de profissionais. Para solicitar o atendimento, basta preencher o formulário neste link
Espaço Franciscano
O Espaço Franciscano presta serviço de atendimento psicológico à comunidade geral. Para informações sobre dias e como se inscrever, basta ligar para (31) 3271-3038. O Espaço fica na Avenida Amazonas, 314, sala 310, no Centro, Belo Horizonte.
Núcleo de Acolhida e Articulação da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem
Consultas também são ofertadas no Núcleo de Acolhida e Articulação da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem. Os atendimentos são gratuitos e realizados pela internet, por videochamada. Os agendamentos podem ser feitos pelo WhatsApp, no número (31) 98420-1204.
Edição: Larissa Costa