Um estudo, realizado pelo movimento Nossa BH, demonstrou que, mesmo localizados na mesma bacia, a do Cercadinho, bairros da capital mineira possuem profundas desigualdades sociais.
Sistematizando informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da base de dados da Prefeitura de Belo Horizonte, o coletivo produziu mapas que evidenciam diferenças do perfil da população, considerando gênero e raça, acesso à renda, garantia de mobilidade e a condições de vulnerabilidade nos territórios da bacia.
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Os dados foram apresentados a membros da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a moradores da região, na quarta-feira (14). Entre os que chamam mais atenção, um deles demonstra que, em média, a renda por habitante do setor mais rico da bacia, o bairro Belvedere, é 74 vezes maior que a do setor mais pobre da região do Cercadinho, o Ventosa.
Coordenador do projeto, Marcelo Amaral conta que o objetivo dos mapas não é apenas destacar a existência das desigualdades, mas também demonstrar como elas se desdobram nos espaços da cidade e provocar a discussão sobre políticas públicas.
“Não tem nenhuma grande novidade em trabalhar indicadores ou colocar isso num mapa. A grande vantagem desse tipo de instrumento para a sociedade civil é contribuir para pautar políticas públicas”, afirma.
Raça e gênero
No setor mais rico da bacia do Cercadinho, a proporção de mulheres negras é de apenas 2%. No setor do bairro Palmeiras, um dos mais pobres, a proporção de negros e negras é de 93%.
Para o movimento Nossa BH, os dados chamam a atenção para a necessidade de discutir desigualdades e pensar políticas públicas que ajudem a superá-las considerando questões de raça e gênero.
Engenharia com viés social
Uma das motivações para elaboração do mapa das desigualdades da bacia do Cercadinho é um projeto de saneamento ambiental, desenvolvido pela prefeitura. A iniciativa pretende contribuir para a criação de um parque na região, para a preservação da área.
Marcelo afirma que, além da prefeitura, o projeto articula mandatos de vereadores, lideranças da região do Cercadinho e arquitetos. Para contribuir, o coletivo foi convidado a apresentar o mapa.
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O coordenador do movimento Nossa BH destaca que viu o convite como uma oportunidade para demonstrar que não é possível realizar o saneamento ambiental de uma região, sem conhecer as diferenças sociais que existem no território.
“Queremos que o projeto, que poderia ser tocado apenas como um projeto de engenharia, busque uma sensibilidade social. Não é apenas resolver o problema da inundação, mas é tratar da população que está ali”, argumenta.
Marcelo acredita que é necessário chamar a população do território para construir junto. “Tem que dar voz à comunidade. Quando você pensa na escala de uma bacia, você precisa envolver, convidar, ouvir e pensar soluções em conjunto com os moradores”, conclui.
Edição: Larissa Costa