Minas Gerais

ELEIÇÕES 2022

Artigo | Qual o tamanho da esquerda, direita e do centro hoje? Qual terá em 2023? O que fazer?

Hoje, a esquerda tem somente 24% da Câmara dos Deputados, a direita 50%. Lula terá de buscar alianças, mas é perigoso

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Geraldo Magela - Agência Senado

Esperamos e fazemos campanha para que dê Lula-lá já no primeiro turno, ou, mais tardar, no segundo.

Mas e o Congresso? E a governabilidade de Lula?

Hoje, a esquerda tem somente 24% da Câmara dos Deputados. O PT tem 56 deputados. Com os demais partidos, PSB, PDT, PC do B, PSOL, Rede, PV, somam-se 121 deputados de esquerda, 23,6% da Câmara. Isso com a boa vontade de se considerar que todo o PDT e PV, por exemplo, são mesmo de esquerda.

No Senado, a esquerda é ainda menor: os 7 senadores do PT, 4 do PDT, 1 do PSB e 1 da Rede dão à esquerda o total de 13 senadores, ou seja, 16% daquela casa legislativa.

Na Câmara, predomina atualmente a direita. Direita mesmo, nem é Centro não, somam, 254 deputados, 49,5% da Casa. O que se poderia chamar de "Centro" tem 138 representantes, 26,9%.

Já no Senado, esse "centro" (não confundir com "centrão") predomina: com 47 representantes (58%), enquanto a "direita-direita-mesmo" tem 21 (26%).

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Com somente 24% da Câmara e 16% do Senado a esquerda, sozinha, não consegue nada, não resiste a nada, passa até emenda constitucional, com seu quórum de 2/3 de aprovação. E não consegue propor quase nada.

Perspectivas

Este ano, a bancada da esquerda deve aumentar, principalmente na Câmara - inclusive porque o Senado só vai se renovar em 1/3 de sua bancada. Mas acho difícil que a esquerda consiga maioria. 

Em 2010, quando Lula terminou seu 2º mandato, com aprovação de 9 em cada 10 brasileiros, a esquerda teve seu melhor desempenho no Legislativo federal. O PT elegeu 86 deputados (mas seu recorde foi 2002, quando elegeu 91), e, junto com outros partidos, a esquerda tinha 179 deputados (35% da casa). Lula fez sua sucessora, Dilma, mas ela só levou no 2º turno.

A questão é que Lula é maior não apenas que o PT, mas que a própria esquerda, em geral.

E isso nem é uma questão do sistema político brasileiro e suas inegáveis distorções, como o número excessivo de partidos, dos quais muitos são meras legendas de aluguel.

É uma questão da penetração mesmo da esquerda dentro da sociedade brasileira.

Esquerda e sociedade brasileira

A esquerda brasileira é expressiva, tem, por baixo, 25% da população, talvez mais, uns 30, 35%. É uma presença expressiva, repito, na vida brasileira.

Sinceramente, nunca acreditei, nem no momento da Lava Jato e do golpe em Dilma Rousseff, ou da eleição do Bozo, que a esquerda brasileira ia "acabar". Ou que sua principal expressão político-partidária, o PT, ia "morrer". Como uma partido com o enraizamento social do PT, com o número de filiados e militantes, com a presença que tem nas organizações e associações por todo país (por mais que estas estejam em baixa), iria "morrer" assim, de uma hora pra outra?

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A "morte" do PT sempre foi mais um "pensamento desejoso" de seus inimigos da direita (e até mesmo de uns da esquerda, como o insuportável Safatle) que uma perspectiva real.

Mesmo com toda essa expressividade, porém, a esquerda não é majoritária na sociedade brasileira. Pode vir a ser, com certeza, mas no momento não é.

Uma reportagem do site Congresso em Foco traz uma tentativa de prognóstico da Queiroz Assessoria para o Legislativo em 2022. A projeção prevê que o PT faça em torno de 64 deputados, podendo, no quadro mais otimista, chegar a 81.

É crucial a esquerda, os movimentos populares, se fortalecerem

Ou seja, na melhor das hipóteses, as esquerdas, como um todo, se aproximariam da situação de 2010, quando tinham pouco mais de um terço da Câmara.

É insuficiente para Lula contar só com elas.

Lula terá de buscar alianças fora da esquerda.

É inevitável, porém é claramente perigoso.

Comitês populares de luta

E para que fique menos perigoso é crucial a esquerda, os movimentos populares, se fortalecerem, como já escrevi no artigo sobre os Comitês Populares de Luta.

Eles são necessários não somente para a eleição e posse de Lula, mas para a governabilidade, num país em que parte da sociedade - não só mas especialmente em seus estratos de renda mais alta - está fascistizada e presa na arapuca da realidade paralela que a indústria da desinformação da extrema direita criou.

Vamos comemorar - merecidamente! - a vitória de Lula, e espero que no primeiro turno! Mas não podemos nos desmobilizar, porque ainda tem muito trabalho pela frente!

Rubens Goyatá Campante é doutor em sociologia e pesquisador do CERBRAS e da Escola Judicial do TRT-3ª Região

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* Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

Edição: Elis Almeida