O imóvel que abriga a Casa de Jornalistas e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) é de 1946. Nesses mais de 70 anos de história, casa recebeu o lançamento de diversas entidades, como o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE) e da filial mineira do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese).
Alessandra Mello, presidenta do sindicato, relembra que durante a ditadura militar a casa era ponto de encontro da resistência mineira. Na sede, eram organizadas, por exemplo, campanhas para custear e orquestrar o retorno de militantes exilados, entre outras atividades políticas. Por isso, a entidade sempre era atacada pela repressão.
“Picharam as paredes com os dizeres: Comando de Caça aos Comunistas. Jogaram bombas, destruíram nosso telhado. É uma entidade de resistência, por isso é sempre alvo desses tipos de ataques”, pontua a dirigente.
No entanto, o prédio está com graves problemas estruturais e precisa de uma reforma emergencial. Para resolver a situação, o sindicato e a Casa de Jornalistas lançaram em setembro uma campanha de financiamento coletivo.
O principal problema são as infiltrações. O telhado, que nunca foi reformado, está com 30% da sua estrutura comprometida e por isso precisa ser substituído. As infiltrações estão em toda a casa, desde a fachada, passando pelo hall principal, escritório e até mesmo no mural de ex-presidentes da entidade.
“Todos que conhecem o sindicato e a Casa de Jornalistas sabem da sua importância para a cidade e para o estado”, reforça o diretor do sindicato, Marcelo Freitas.
Por defender trabalhadores, sindicato está com contas bloqueadas
Além da reforma emergencial no prédio, a campanha também visa garantir recursos para o sindicato, que desde julho está com as contas bloqueadas por uma determinação judicial. A entidade entrou com um recurso cobrando hora extra e outros direitos trabalhistas de uma empresa, mas perdeu a ação e agora tem que arcar com os custos processuais patronais.
Alessandra Mello relata que a situação é impacto direto da reforma trabalhista aprovada pelo governo Temer, que fragilizou a proteção dos trabalhadores em ações como essa. “Hoje, a gente sabe como começa um processo trabalhista, mas nunca sabe como vai terminar ”, avalia a sindicalista.
Intimidações em série
Além dos retrocessos trabalhistas, os jornalistas de Minas Gerais também vêm enfrentando uma série de ataques políticos. Por isso, juntamente com a campanha de financiamento, a entidade lançou o “Pacto pelo fim da violência contra jornalistas e em defesa da democracia e da comunicação pública”.
O documento foi assinado por diversos candidatos que concorreram nas eleições de 2022. A carta-manifesto segue disponível para partidos, coletivos e entidades que desejem demonstrar seu apoio à categoria, que nos últimos anos sofre com uma escalada da violência.
Em 2020, no ápice da pandemia e dos ataques de Jair Bolsonaro contra a categoria, apareceu uma pichação na área hospitalar, no Centro de Belo Horizonte, com os dizeres “jornalista bom é jornalista morto”.
No ano seguinte, um repórter fotográfico foi agredido durante uma cobertura a uma manifestação em defesa de Jair Bolsonaro. O caso foi julgado e o único autor identificado do crime foi punido e obrigado a se retratar publicamente com o profissional e a categoria.
Em julho deste ano, a entidade organizou um ato cobrando justiça pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips. A manifestação pacífica que acontecia dentro da sede da entidade sofreu uma intimidação da polícia militar de Minas Gerais.
Além disso, na última semana uma exposição organizada pelo jornalista Carlos Barroso, foi censurada na Assembleia Legislativa do estado após críticas de deputados bolsonaristas. A exposição será retomada, desta vez sediada na Casa de Jornalistas. A atividade está sendo organizada pelo sindicato e será divulgada em breve.
Serviço:
Campanha “Casa de Jornalista, a casa da democracia”
Valor: É aceita doação de qualquer quantia
Meta inicial: R$ 40 mil
Mais informações estão disponíveis aqui
Edição: Larissa Costa