Sensível ao modelo de educação que as juventudes em situação de vulnerabilidade socioeconômica vivenciam, em 2013, o Levante Popular da Juventude – movimento social que propõe organizar jovens das periferias, escolas e universidades em torno das pautas que atravessam a nossa vida –, iniciou a construção de uma série de experiências de cursinhos populares.
Tal feito se deve a uma de suas bandeiras de luta, de que a juventude trabalhadora deve ocupar o seu lugar no processo de democratização do ensino superior no Brasil, que ainda está longe de ser concluído.
Foi em Minas Gerais que essas experiências político-pedagógicas de formação de jovens para o ingresso na universidade ganharam corpo. Desde então, os cursinhos se multiplicaram pelo Brasil, o que se tornou um dos trabalhos com mais visibilidade do movimento. E, em 2017, foi criada a Rede de Cursinhos Populares Podemos+, que hoje nos seus cinco anos de história, de luta e de resistência tem auxiliado as filhas e filhos da classe trabalhadora a acessarem o ensino superior.
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A criação da rede marca um momento histórico, representado pelo protagonismo juvenil na luta para enfrentar os inúmeros desmontes e cortes na educação, crescentes desde o golpe que interrompeu o governo de Dilma Rousseff para instaurar um ultraliberalismo no Brasil, de reformas antipopulares e de austeridade no investimento público, sobretudo, no ensino básico, nas políticas de cultura e no ensino superior, setor que concentra grande parte da produção científica brasileira.
Resistência pelo Brasil afora
Experiências como a Rede Podemos + são exemplos vivos de resistência de uma juventude que não foge à luta pela conquista de uma educação pública, universal e de qualidade, que contemple os sonhos e as realidades sociais das juventudes de todo o Brasil.
A Rede de Cursinhos Podemos+ parte da compreensão de que a luta pela educação é elemento fundamental para a construção de uma vida digna para as juventudes brasileiras. Além de Minas, há iniciativas no Rio Grande do Sul, no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, na Bahia, em Alagoas, em Pernambuco, na Paraíba, no Ceará, no Maranhão, em Goiás, no Pará, em Roraima, no Amazonas e no Mato Grosso.
Atualmente, em Minas, contamos com quatro experiências de cursinhos populares e aulões pré-Enem, que acontecem em Belo Horizonte, Juiz de Fora, São João Del Rei e Teófilo Otoni.
O Levante defende a construção de um projeto popular de sociedade e, para isso, aposta na educação popular para a edificação desse projeto, uma vez que as perspectivas dessa concepção educativa confluem com o trabalho de base, horizonte das ações político-pedagógicas do movimento.
A partir das experiências, não só de cursinhos nos diversos estados brasileiros, como também de bibliotecas populares, cursos de escrita acadêmica – com foco na permanência de jovens ingressantes no ensino superior –, o movimento também auxilia na formação de educadores populares conscientes de seu lugar social, de seu papel como agente transformador da sociedade e de praticantes de processos educativos mais democráticos e plurais.
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A articulação entre educação popular e o movimento social Levante Popular da Juventude constitui-se como essencial, uma vez que significa reconhecer a relação entre luta e educação na formação crítica dos sujeitos envolvidos no processo da construção dos cursinhos. Nesses espaços, são cultivados valores, como a coletividade, além da reivindicação de pautas que tocam a vida das juventudes das classes populares, as formas de luta e de ação na resolução de problemas locais e também gerais.
A rede tem se mostrado como uma ferramenta construtora do projeto popular, por compreender a educação na perspectiva de que a identidade, a classe e a cultura são processos indissociáveis na conscientização sobre si, sobre o outro e sobre a ação dos jovens – e de todos – no mundo, para a produção de pedagogias da transformação.
Ao lado de Paulo Freire e de educadores e educadoras populares do Brasil de hoje, a juventude tem provado que, com organização e ação concreta de mudança de vida, nós podemos tudo, nós Podemos+. Por isso, comemoramos os primeiros cinco anos de existência e lançamo-nos na construção dos que ainda virão.
Gabriel Teodoro é professor da Universidade do Estado de Minas Gerais, militante do Movimento Brasil Popular e membro da equipe nacional da Podemos+.
Lorrana Nascimento é mestranda em Educação, educadora popular do cursinho Edson Luís, militante do Movimento Brasil Popular e do Levante Popular da Juventude, e membro da equipe nacional da Podemos+.
Wesley Messias é artista, educador popular no cursinho Padre Giovanni Lisa, militante do Levante Popular da Juventude e membro da equipe Nacional da Podemos+.
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Larissa Costa