A aceitação mais importante é aquela que acontece dentro de casa. Esse é um dos resultados da pesquisa “Nós que mudamos, eles não”, do demógrafo Samuel Araújo Gomes da Silva, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Tese que, pela excelência e ineditismo, venceu o Grande Prêmio de Teses UFMG e o Prêmio Capes de Tese 2022.
No estudo, chama a atenção a relevância das famílias na aceitação da sexualidade de seus filhos durante a infância e a adolescência, períodos em que muitos traumas acontecem. “As famílias ainda não conseguem tratar sexualidades diferentes da heterossexualidade como uma possibilidade desde cedo”, comenta Samuel.
O estudo analisou o risco de depressão e fatores que podem interferir na saúde mental da população lésbica, gay e bissexual de Minas Gerais. Entre as conclusões, está que o risco de depressão entre esse grupo é expressivamente maior do que na população em geral.
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Entre os mineiros, 83% relatam não ter tido episódios de depressão ao longo da vida, de acordo a Pesquisa Nacional de Saúde. Por outro lado, apenas 37% de lésbicas, gays e bissexuais declararam nunca terem tido episódios de depressão, segundo a Pesquisa Manas, utilizada no estudo.
Entre gays, lésbicas e bissexuais de 18 a 24 anos episódios de depressão já estiveram presentes na vida de 43% deles, segundo apurou a pesquisa.
“O risco de depressão é o que mais me impactou”, conta Samuel. “Essa população está exposta a um risco infinitamente mais alto de depressão, sendo maior para mulheres e pessoas mais jovens. Isso nos conta que esses riscos são sociais e estão ligados à independência financeira, ao processo do desenvolvimento da identidade e à autonomia para poder viver e falar abertamente”, reflete.
O poder da aceitação
Com as respostas de 754 pessoas lésbicas, gays e bissexuais de Minas Gerais, o estudo elencou fatores centrais que influenciam na saúde mental dessa população, sendo uma das mais importantes a forma como a família responde à sexualidade do indivíduo.
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Segundo o estudo, há o reconhecimento de que houve muitos avanços na sociedade. No entanto, a ideia que prevalece é de que “tudo bem ser lésbica, gay ou bissexual, mas não na minha família”, nas palavras de Samuel. A comunicação da sexualidade aos pais é um momento de medo e de receio, porém, a aceitação é algo almejado.
“A família tem um papel decisivo”, conta o demógrafo. “Ela é o primeiro ambiente de socialização. Normalmente, quando a gente está falando de estigma e preconceito, está falando de uma quebra de expectativas da família em relação àquele indivíduo. Essa quebra de expectativas é rapidamente entendida e traduzida em rejeição”.
Edição: Larissa Costa