Uma flâmula que carrega combinações de cores, símbolos e escritas, é usada pelo homem para se identificar como pertencente a um coletivo, seja um grupo pautado por interesses comuns no geral, torcidas de futebol ou uma nação.
Quando utilizada como signo de um país, deve-se sempre ter cautela com a história que a constituiu.
A ciência de Estado vai nos dizer que uma nação é composta por três elementos: o território, a soberania e o povo.
Portanto, a bandeira nacional serve como símbolo para toda nação de forma independente do viés ideológico daquele que a governa. E assim sendo, por óbvio, também não pode, a bandeira, servir como símbolo de segregação do povo, sob pena de comprometer sua própria legitimidade enquanto símbolo, haja vista que viria a desconstituir um dos elementos que constitui o Estado.
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Apesar de tais premissas, a bandeira nacional tem sinalizado, no Brasil, um coletivo específico, tendo adquirido inegável viés político dentro do próprio país.
Essa apropriação por um grupo de pessoas da bandeira como símbolo ideológico, político, quase partidário, afigura sublime reivindicação da autoridade do Estado, de modo a segregar, se separar, daqueles que não ostentam de forma apaixonada e com gritos de ordem – sem “progresso” – a flâmula verde e amarela.
De forma nada sublime, contudo, a ausência de ideias ou ideais dos indivíduos que compõem tal coletivo, é posta às claras, de forma quase pornográfica, chegando a ser melancólica. Onde o ódio e a intolerância fazem morada, a criatividade exteriorizada pela arte é extinta com o enterro da empatia.
Ressalvo dizer que o vazio dá espaço a um maldito eco, que não merece ser chamado de ideia, nem ideal, mas sim de um total esfacelamento cognitivo.
O suposto líder que subtrai do olhar de seus arautos sua própria imagem, se escondendo em um calabouço, ousava utilizar a bandeira nacional como símbolo de seus programas de “governo”. Contudo, aqueles que não se identificam com o proposto pelo pretenso governista, não poderiam ostentar o status de pessoas pertencentes à nação, sendo extraditados simbolicamente do próprio país.
Exacerbado nacionalismo segregador
A história recente ensinou, aos que quiseram aprender, que o exacerbado nacionalismo é segregador.
O fustigado carniçal almirante do caos remonta a imagem do austríaco que com pólvoras inebriantes às traças, cometeu verdadeira carnificina e, mesmo que reprimido, continua assombrando nossa realidade, ocupando o abandonado e sombrio porão instalado na mente daqueles apaixonados que seguem estonteados, ostentando as cores do império pelo Brasil.
Eles dizem, no Brasil, que “nossa bandeira jamais será vermelha” – exceto quando suja de sangue. É curioso, e irônico, quando percebida a cor interna do produto natural que deu origem ao nome do país, o pau-brasil: é vermelha.
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Em sua “releitura”, passou-se a ser dito que a bandeira brasileira é composta por cores correspondentes às principais características geográficas e históricas do país, onde o verde simbolizaria a mata, o amarelo o ouro e o azul o céu.
Contudo, retroagindo a 1820, época que tentam reviver, embora não tenham nela vivido, e que provavelmente nela não sobreviveriam, fato é que o retângulo verde continua representando a realeza Bragança, o amarelo a casa Leopoldina, o azul esférico o território e as estrelas suas províncias.
Nossa bandeira continua sendo símbolo de uma colônia
O rompimento com o brasil-imperial, a abolição da mais longeva constituição do país após sua “independência”, devia ter sido acompanhada da construção de uma bandeira realmente brasileira, cuja história está marcada por muito sangue, sobretudo de escravos, negros e povos originários.
Essa tentativa de ressignificar a bandeira brasileira, fracassou, mas não deixa de retratar uma realidade nacional: a mentalidade da elite branca.
Ademais, como poderia o homem, em sua relação junguiana com os símbolos, conseguir desentranhar um significado tão bruto, sangrento, escravista, elitista, das cores imperiais mantidas na bandeira e lançar novo olhar ao símbolo nacional? Que glória do passado retrata nossa flâmula?
Rodrigo Martins é advogado, especializado em Direito Tributário pela PUC/MG e em Pesquisa e Técnica Legislativa pelo Instituto de Defesa da Cidadania e Transparência e consultor jurídico do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação do Estado de Minas Gerais – SindUTE/MG
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Elis Almeida