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Otavinho, seu Juca, Eugênia, seu Jurandir e a ameaça comunista

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Seu Jurandir tem uma Belina ano 1976, cheia de arames, é seu ganha-pão

Otavinho tem pouco mais de 40 anos. Herdou a imobiliária do pai, o dotô Otávio. Vive da renda de pelo menos meia dúzia de apartamentos, deixados pelo pai.

Anda num VW Gol com dez anos de uso, IPVA atrasado e pneus carecas.

A imobiliária do pai foi engolida pelos Air Bnb e Quinto Andar da vida. Mas, o escritório continua com duas mesas e quatro cadeiras, além de um computador obsoleto.

Seu Juca tem 80 e poucos anos. Tem fala de latifundiário, jeito de latifundiário e já foi latifundiário. O latifúndio, que um dia existiu, foi engolido pela conurbação - onde foi uma fazenda, hoje é área urbana da Região Metropolitana de BH, onde alfaces, tomates e batatas dependem da entrega que chega do Ceasa num caminhão barulhento e poluidor.

Eugênia está a beira dos 50 anos. Era auxiliar de serviços gerais na imobiliária de Otavinho. Sob a justificativa de contenção de gastos foi demitida. Teve uma atitude louvável ao pegar o FGTS e o seguro-desemprego e investir num curso de cuidadora de idosos. Continua trabalhando, vestindo branco e fazendo plantões intermináveis na casa de gente complicada e rabugenta. Não os idosos, mas os filhos que não conseguem respeitar os pais, carentes, e os empregados, aos quais jogam todas a responsabilidades.

Seu Jurandir tem uma Belina ano 1976, cheia de arames e gambiarras. É seu ganha-pão. A Belina tem um bagageiro no teto, onde carrega uma escada. Seu Jurandir foi aconselhado pelo genro e virou MEI. É um mix de encanador, pedreiro e eletricista. Muito bom, mas apregoa seu anti-petismo aos brados.

É óbvio que os nomes foram trocados. Mas, já convivi e, de vez em quando convivo mui educamente, com eles. À exceção de Otavinho, que é um ogro sem argumentos ou qualquer capacidade de entabular um raciocínio lógico (infelizmente discutimos...) aos demais três tenho compaixão.

Não são fascistas, nem golpistas. Mas todos, sem exceção, acham que eu sou uma "ameaça comunista".

Espero ter argumentos, paciência e sabedoria para continuarmos dialogando.

Sigamos!

Heraldo Leite é jornalista desde 1986 com passagens pelo Hoje em Dia e O Tempo. Fui assessor de Comunicação da Prefeitura de Ouro Preto e atualmente sou assessor de Comunicação de entidades de representatividade de aposentados, pensionistas e idosos

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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

 

Edição: Elis Almeida