Sem nenhum aviso prévio ou consulta à comunidade, 108 crianças, de 0 a 5 anos, estão sendo remanejadas da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Pedro Lessa, na Pedreira Prado Lopes, periferia de Belo Horizonte.
A notícia, dada às vésperas do fim do ano letivo, colocou mães, pais, professores e trabalhadores em alerta. “A nossa preocupação é a escola não voltar no ano que vem ou a maioria das crianças ficarem sem a educação”, destaca a dona de casa Joice de Carvalho.
A preocupação não é em vão. De 2014 a 2016 a Emei Pedro Lessa ficou de portas fechadas. O motivo era o mesmo de agora, interdição do local para obras de contenção de uma rocha que fica na encosta da unidade. A instituição só foi reaberta após uma ocupação organizada pelas mulheres da Pedreira.
Na semana passada, a comunidade escolar foi surpreendida com a chegada de maquinários e avisos sobre uma obra no local, novamente para a contenção da rocha. A professora Carla dos Santos, que já foi remanejada três vezes da Emei Pedro Lessa, sabe bem os impactos que os deslocamentos causam ao processo pedagógico e questiona a falta de informação e transparência do poder Executivo.
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“A gente quebra o nosso trabalho, quebra nosso projeto, nossas expectativas de melhoria, de formação. A equipe se quebra também e a gente não está querendo que isso aconteça mais. Estamos sem saber como será o futuro aqui”, afirma a trabalhadora.
Comunidade quer diálogo
De acordo com os moradores, uma das sugestões apresentadas pela prefeitura é que a própria comunidade procure uma instituição que possa substituir a Emei durante as obras. No entanto, o líder comunitário Robson da Costa explica que não há outro local possível e que a mesma solução inviável foi proposta pela prefeitura no caso da escola Carlos Góes, também interditada para obras.
“Isso está sendo feito sem nenhuma discussão com a comunidade, nenhum lugar de fala para as lideranças, nem para os pais e mães das crianças. A gente até entende a necessidade [da obra], mas da maneira como ela está sendo conduzida não vamos aceitar de maneira nenhuma”, declara o morador.
Reabertura foi conquistada com luta
Valéria Borges, coordenadora do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), entidade que esteve à frente da ocupação da escola em 2016, questiona o argumento da prefeitura. Ela relembra que, para a reabertura da Emei, foram realizados estudos técnicos de estabilidade da rocha, elaborados pela Universidade Federal de Minas Gerais.
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A militante também destaca que o processo está sendo conduzido da mesma forma como aconteceu em 2014, sem a participação dos moradores. No entanto, dessa vez a comunidade não permitirá o fechamento da instituição sem uma solução que esteja de acordo com os interesses dos moradores.
“A prefeitura precisa tratar a gente da Pedreira e de outras favelas como pessoas com dignidade, que merecem respeito. Nossas crianças merecem a mesma dignidade que qualquer outra”, desabafa. “Aqui, na nossa comunidade, tudo tem sido com muita luta. Tudo tem sido com muito suor”, completa a moradora.
O que diz a prefeitura
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte informou que está se reunindo com a comunidade para “avaliar um melhor local próximo a Emei Pedro Lessa, de forma que não prejudique o deslocamento de famílias e estudantes durante as intervenções", afirma em documento.
Edição: Larissa Costa