Depois das eleições vem aumentando o número de surtos psicóticos de bolsonaristas
João Cezar de Castro Rocha, professor da UERJ, acredita que o bolsonarismo, em dissonância cognitiva coletiva, está em choque com a realidade.
Antes das eleições difundiam a possibilidade de estas serem fraudadas na forma eletrônica de votação; que as forças armadas não iam aceitar os resultados adversos a Bolsonaro nas urnas. Logo em seguida à eleição de Lula espalharam que as forças armadas iam dar o golpe e garantir a continuidade de Bolsonaro no poder executivo da República; que com apoio do Exército, Bolsonaro havia prendido o ministro Alexandre de Morais, o que causou êxtase entre os manifestantes; que auditores argentinos tinham constatado que Bolsonaro havia vencido com 61% dos votos.
Sem nenhum senso de ridículo, os fãs de Bolsonaro o chamam de mito. Nada mais prejudicial à verdade que a mitificação de pessoas e coisas. Os mitos são líderes que anulam as personalidades dos liderados fanáticos, que passam a venerar e acreditar nas inverdades do líder.
Para João Cezar, essa parte da sociedade se revela imatura porque acredita que o líder é uma representante de Deus. Acreditaram, por exemplo, no que ele disse durante a pandemia de covid-19, que a hidroxocloroquina, medicamento para verme, era eficaz no tratamento do tal vírus.
Freud, no livro “Psicologia das massas e análise do ego”, diz que as hordas urbanas são reminiscências da pré-história, que colocam os líderes no lugar dos pais ausentes ou fracassados. Solitários, os indivíduos pensam de um jeito e em grupo de outro, como se estivessem embriagados.
O que os indivíduos da turba compartilham é a ilusão de serem amados ou odiados pelo líder, justamente este que não ama ninguém. Filhos, ex-esposas e esposa, ministros, altos funcionários e correligionários de Bolsonaro são obrigados a aceitar a submissão a ele sob pena de rompimento sumário.
Ainda conforme Freud, o discurso do mestre cria e mantém a ilusão e torna dependente a massa sectária, na forma de ideias e inverdades. O discurso do mestre infunde nos liderados a ideia de conspiração. Na noite de 30 de outubro, logo após o resultado das eleições, já havia “caminhoneiros” bloqueando estradas com apoio de populares. Havia, portanto, um movimento secreto tramando o episódio. A turba segue e faz o que determina o pastor às ovelhas. Essa simbologia de rebanho de sectários inconscientes, também, aparece na análise de Freud.
Bolsonarismo: retorno aos tempos medievais
O bolsonarismo, espelho do trumpismo, atua em oposição ou reação à modernidade que superou a forma mítica, ilusória e mágica, pela ciência e pela lógica como forma de conhecimento. Portanto, um retrocesso aos tempos medievais e reminiscência dos homens das cavernas.
Neste momento é importante recapitular a obra de George Orwell intitulada “1984”, publicada em 1956. Nela o personagem Winston é um funcionário público em um governo de regime ditatorial, que foi treinado para falsificar documentos e mentir para satisfazer ao ditador.
Em uma sala de torturas, foi perguntado a ele quantos são 2 + 2. Ele deu a resposta certa, mas a ordem do mandatário era que 2 + 2 fossem 5. Winston foi torturado até aceitar que 2 + 2 é igual a 5, mas tempos depois foi executado com conspirador do regime. Esse é o sentido do negativismo. Os enunciados científicos são rejeitados e só é aceito o que deseja o líder ou o mandatário, o que for bom para a sua imagem.
Quantas vezes Bolsonaro determinou a maquiagem de dados científicos nos órgãos estatísticos, com demissão de cientistas nas áreas de meio ambiente, saúde, educação e eleições? Tentou até intervir em órgãos que fazem pesquisas eleitorais.
Quantas pessoas foram assassinadas por bolsonaristas por denunciarem e discordar das mentiras? No fundo, os sectários de Bolsonaro desejam que todos os seus oponentes tenham o mesmo destino que teve o Winston, de George Orwell, na obra “1984”; como ficou visível no ato de Carla Zambeli, alucinada, de arma em punho, tentado matar Luan Araújo, no dia 29 de outubro de 2022.
Depois das eleições vem aumentando o número de surtos psicóticos de bolsonaristas, a exemplo do indivíduo que ameaçou Dom Vicente Ferreira, bispo auxiliar de Belo Horizonte.
Antônio de Paiva Moura é professor de História, aposentado da UEMG e UNI-BH. Mestre em História pela PUC-RS.
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
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Edição: Elis Almeida