Ao que parece, dia 1 de janeiro de 2023, a democracia brasileira tão ameaçada no último período, retomou seu curso primordial ao efetivar a vontade popular de 30 de outubro de 2022, cujo pleito eleitoral deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva.
Essa vitória foi marcada pelo afeto como contraponto fundamental diante do discurso raivoso e de ódio provocado pelo ex-presidente da república.
De fato, o ex-presidente representa um período nefasto da nossa história e seria execrável que ele entregasse a faixa-presidencial. Haja visto que faltou compreensão do que seriam atos republicanos e democráticos durante esses quatro anos na presidência. Nas eleições se posicionou como algoz e vilipendiou a democracia por incontáveis vezes. Com esse histórico, não tinha legitimidade para cumprir o protocolo da passagem da faixa. Não sendo à toa a sua fuga vergonhosa 48h antes de encerrar seu mandato. Bolsonaro não combina com a democracia.
Celebração e aquilombamento
Só havia lugar para a celebração no cenário de afeto construído pelas organizações sociais e por aqueles e aquelas que respeitam o exercício democrático. Uma celebração cuja maior simbologia aconteceu na subida da rampa do Planalto e na passagem da faixa-presidencial.
A multidiversidade, a pluralidade, o respeito à natureza foi o motor motriz da passagem da faixa. Foi símbolo da potência do povo brasileiro que tomou para si as rédeas da construção do seu destino naquele momento. Um ato radical de autonomia e soberania.
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Para alguns críticos conservadores da política pode parecer somente uma alegoria, no entanto, este feito tal como uma corrente elétrica foi sentida por aqueles e aquelas que há anos lutam e desafiam a invisibilidade e o silenciamento.
Uma ação simbólica profunda cujo caráter de aquilombamento sacudiu mentes e corações daquela multidão presente e dos milhões de espectadores que assistiam em suas casas: um presidente emocionado, credibilizado pelas instituições públicas e ovacionado pelo povo.
Havia um frenesi de como se desenvolveria esta parte do cerimonial, sobretudo, uma torcida que fosse a própria ex-presidenta Dilma Rousseff a realizar este feito. No entanto, a escolha por um agrupamento de pessoas com trajetórias de vidas tão bonitas fez com que o momento se tornasse histórico e único.
Um marco que sinaliza para o mercado para quem será a sua atenção básica. Além disso, posiciona o povo nessa disputa do poder na retomada do Brasil para todas e todos.
Para o presidente Lula é fundamental garantir a soberania alimentar do povo brasileiro sendo inadmissível um brasileiro não ter quatro refeições diárias. Entretanto, de 2003, data da posse do primeiro mandato, para 2023, surgiram outras demandas basilares e fundamentais que não se descola do “matar a fome”. Novas demandas que queremos junto a garantia do direito à alimentação saudável, o que inclui equiparar as condições de vida de pessoas negras e povos originários no Brasil.
Tarefa árdua
Pelo que vimos com a negociação no Congresso Nacional da PEC da Transição, não será nada fácil a aprovação de medidas populares e a retomada de direitos retirados com as reformas da previdência, trabalhista e ambientais.
De fato, sustentar uma coalizão no presidencialismo é uma tarefa árdua, ainda mais se tratando do histórico brasileiro, que demonstram que pactuações demandam habilidade, barganha e recursos financeiros, sendo esse último sinônimo de muitos escândalos nacionais.
Esse modelo de produção e reprodução da política institucional brasileira conserva interesses de alguns setores da sociedade. Portanto, como bem sinalizou o presidente, temos que cobrar, reivindicar e incidir politicamente sem deixar de ocupar o governo, as ruas e as redes.
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A posse presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva quebrou alguns protocolos. Uma mulher negra catadora de material reciclável colocou a faixa presidencial em um operário fabril nordestino, que se torna o único presidente na república a exercer três mandatos presidenciais.
A democracia brasileira respira depois de um período agonizante! É tempo novo! Ano Novo! E vamos à luta 2023! Democracia para sempre!
Andreia Roseno (Makota Kinanjenu) é assistente Social, Pesquisadora do Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
Edição: Elis Almeida