Mesmo repudiando os atos violentos e antidemocráticos promovidos por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) em Brasília, Romeu Zema (Novo) afirmou que, pessoalmente, não acredita que o ex-presidente seja responsável pelas ações que depredaram as sedes dos três poderes da República. O governador de Minas falou ainda, em entrevista ao J10, da GloboNews, que “gosta muito” do candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais.
A declaração foi dada após reunião de Lula (PT) com os governadores, que debateu medidas para conter as manifestações golpistas de quem ainda não aceitou o resultado das urnas. Na tarde desta terça-feira (10), o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União (TCU) pediram o bloqueio de bens de Bolsonaro.
Os órgãos solicitaram que a medida também seja aplicada ao governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e ao ex-secretário de Segurança, Anderson Torres. Nos últimos dias, Zema também deu declarações criticando o fato do ministro Alexandre de Moraes afastar Ibaneis do cargo, decisão que ele considera “arbitrária” e “precipitada”.
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
Diferentemente do governador de Minas, lideranças partidárias, cientistas políticos e organizações populares e sindicais acreditam que falas e ações do ex-presidente contribuíram de forma a incentivar as posturas assistidas no último domingo. Entre elas, destaca-se a apologia à violência, os ataques ao sistema eleitoral brasileiro e a defesa aberta de que o país deveria viver uma guerra civil.
Diferença entre atos golpistas e 2013
Durante a entrevista, Zema ainda fez um paralelo entre os atos antidemocráticos e as manifestações de 2013. Segundo ele, “muitas vezes uma multidão perde o controle daquilo que faz”.
O posicionamento do governador está em consonância com o de Bolsonaro que, além de comparar as horas de vandalismo em Brasília com as jornadas que reivindicavam redução nas tarifas do transporte público, associou as ações golpistas aos atos contra a Reforma da Previdência, organizados pela esquerda em 2017.
Na avaliação de Valéria Morato, presidenta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) de Minas Gerais, a comparação é um equívoco. Ela enfatiza que, ainda que as manifestações de 2013 tenham sido influenciadas por setores que buscavam desgastar o governo Dilma, a maior parte das pessoas que se mobilizaram defendiam uma pauta democrática.
“Mesmo tendo sido impulsionadas pela direita, que já via ali uma possibilidade de atacar o governo Dilma, o movimento de 2013 tinha uma pauta legítima, que era o passe livre nos ônibus”, argumenta.
Esquerda luta por pautas constitucionais
Sobre as manifestações de 2017, a sindicalista destaca que não houve casos de depredação do patrimônio público e tinham como objetivo lutar pela garantia do direito à aposentadoria.
“Todas as nossas manifestações têm pautas que atingem diretamente o povo brasileiro. Não tem que haver comparação entre ações golpistas, terroristas e contra o resultado de uma eleição legítima e democrática com atos que defendem e reivindicam direitos e a democracia”, argumenta.
Valéria ainda lembra que, em um dos protestos pacíficos contra a Reforma da Previdência, os manifestantes foram recebidos pela Polícia Militar do Distrito Federal com balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.
Para ela, outra marcante diferença entre o ato golpista e as manifestações de esquerda, é que as últimas costumam sofrer forte repressão policial, o que, na avaliação da sindicalista, não aconteceu no último domingo.
Dirigente nacional do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organização que tem em seu histórico centenas de atos pacíficos reprimidos pela polícia, Sílvio Netto destaca que os protestos convocados pela esquerda têm a tradição de reivindicarem a garantia de direitos constitucionais.
“Ao longo de sua trajetória, os movimentos populares se mobilizam pela garantia de direitos previstos na Constituição Federal. A luta por reforma agrária, por exemplo, é uma luta constitucional”, explica Sílvio Netto.
Para ele, além do anseio golpista e do ataque à democracia, os atos promovidos por apoiadores de Bolsonaro também representam a busca desse grupo pela manutenção de privilégios.
“Temos a convicção de que eles tentam impedir que a gente supere a fome, a falta de moradia, de educação e de saúde. A grande diferença entre as lutas promovidas por nós e as promovidas por eles é que, se por um lado nós lutamos por direitos, eles lutam por privilégios”, conclui o dirigente do MST.
Edição: Larissa Costa