Pesadelo! Uma nação inteira agredida ao vivo. Cenas estarrecedoras, indignantes. Tristeza profunda. Uma tentativa de golpe de Estado sem precedentes na história brasileira. Vidas colocadas em risco. Roubar, matar e destruir.
“Quando o fascismo vier, virá enrolado em uma bandeira e carregando uma cruz” (Sinclair Lewis, Huey Long). Movidos pelo ódio, uma horda de histéricos criminosos, vestidos com a bandeira do Brasil, depredou as Casas dos três Poderes: Executivo, Legislativo e o Judiciário. Nem patriotas, nem religiosos.
A vergonha imposta por setores da extrema direita bolsonarista aos brasileiros ocupou as manchetes dos principais jornais do mundo. Líderes condenaram veementemente a destruição e reforçaram seu apoio ao presidente Lula da Silva.
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No dia seguinte (9), Papa Francisco, no encontro com o corpo diplomático do Vaticano disse que o ataque terrorista ocorrido no Brasil faz parte de uma tendência “mais ampla do enfraquecimento da democracia e do aumento da polarização política e social. Penso nos vários países da América onde as crises políticas estão carregadas de tensões e formas de violência que exacerbam os conflitos sociais. Penso em particular nos recentes acontecimentos no Peru e, nestas últimas horas, no Brasil”.
A farsa acabou
Nem Família, nem Deus, nem Pátria. O que se viu foi destruição, caos, roubo. Depois de dar inúmeras provas, os fatos revelaram ao mundo a verdadeira natureza do bolsonarismo. Uma sucessão de crimes: quando Bolsonaro homenageou um torturador, deveria ter sido preso. Derrotado nas eleições, começaram a pedir intervenção militar. E, por fim, a sequência de ações terroristas: tentativa de invasão da Polícia Federal (12 de dezembro), tentativa de explosão de uma bomba (24 de dezembro).
Depois do dia 8 de janeiro ninguém mais pode duvidar. Destruição é o projeto. Móveis, objetos quebrados, roubo, fezes e urina, obras de arte danificadas... as cinco facadas no quadro de Di Cavalcante é expressão do ódio à cultura. Vidraças estraçalhadas no Palácio do Planalto. Fogueira ateada no Salão Verde do Congresso. Plenário do STF totalmente destruído. Jornalistas, policiais, trabalhadores agredidos. Pessoas poderiam ter morrido!
É urgente impedir que o terrorismo político se torne o novo normal no Brasil
A barbárie visava atingir o coração do Estado Brasileiro. Foi uma agressão ao Estado e quem deveria defendê-lo se omitiu. A história e a cultura também foram atacadas. A Praça dos Três Poderes, maior símbolo do governo brasileiro, é reconhecida Patrimônio cultural da Humanidade pela UNESCO. A ONU ajudará a recuperar o patrimônio artístico, histórico, cultural e arquitetônico destruído pelos vândalos.
Contudo, a frágil e jovem democracia brasileira resistiu. Ainda resta muita coisa por fazer. Qualquer tentativa de implosão do Estado de direito deve ser enfrentada com rapidez. Não pode ficar por isso mesmo. A Constituição do Brasil tem como um dos seus princípios o repúdio ao terrorismo. Anistia não!
A defesa da Democracia deve ser permanente
Partidos políticos são os guardiões da democracia. Cabe a eles excluir e rejeitar a filiação de radicais extremistas. Figuras autoritárias fogem do controle. Cedo ou tarde, cumprem o prometido. A solidez da democracia depende do cumprimento da Constituição e às instituições do Estado. Quem não respeita, perde o direito de disputar o poder e governar.
Contra a barbárie, é momento de união. Felizmente, o conjunto das instituições do Estado e a sociedade civil reagiram em uníssono. A praga do golpismo bolsonarista foi temporariamente controlada, mas não arrancada. Com o fascismo não há possibilidade de conciliação. É urgente impedir que o terrorismo político se torne o novo normal no Brasil.
Nenhum povo luta pelo que ama destruindo a si próprio
Os responsáveis precisam ser punidos, recompor as instituições e as forças armadas reconduzidas aos quartéis. A resposta precisa ser real se queremos paz.
Atos criminosos são incompatíveis com a fé cristã. “Em toda a casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa!” (Lc 10,5). A violência é radicalmente oposta ao cristianismo. O cristão é promotor da fraternidade.
“Os atos violentos colocados diante do projeto de Deus e da força do Evangelho de Jesus Cristo, expressam um pecado diabólico das forças do mal que buscam incansavelmente neutralizar a democracia e a soberania do povo. Um vínculo obsessivo com o mito, conduziu um grande batalhão de terroristas a depredarem o patrimônio público, arrastando objetos culturais, no desejo primitivo e insaciável de serem únicos, mostrando a veemência e a indiferença cruel dos seus atos antidemocráticos, fundamentados na ignorância constitucional, despedido do saber e da pertença com nuances de um pseudocristianismo. Nenhum povo luta pelo que ama destruindo a si próprio” (Nota oficial da União das Superiores Gerais das congregações brasileiras).
Democracia dá trabalho. Ninguém pode ficar de braços cruzados. O extremismo criminoso deve ser enfrentado diuturnamente. Não há tempo sequer para um cochilo de uma tarde de domingo. Podemos ser assombrados por outro pesadelo. Vigilância!
Élio Gasda é doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faculdade Jesuíta (FAJE). Autor de “Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja” e “Cristianismo e economia”.
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Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
Edição: Elis Almeida