Minas Gerais

Coluna

Crônica | Urucubaca

Imagem de perfil do Colunistaesd
"O seu advogado lhe deu uma boa notícia: vamos processar o Estado e, enfim, você terá sorte na vida" - Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil
Dessa vez, a urucubaca passaria bem longe dele

Ele era o dito azarado padrão. Já fizera novena. Não deu certo. Já fizera jejum numa igreja evangélica. Já fizera despacho na esquina do futuro. Já fizera tudo que poderia fazer para tirar essa ziquizira da sua vida. Já pulara 100 ondas na entrada de ano, aconselhado por um guru charlatão. Já fizera promessa para um monte de santo. Nada funcionou. O homem era azarado pra caramba. E bota azar nisso.

Já na maternidade, ele foi trocado. Descobriu depois de anos que sua família “verdadeira” era totalmente diferente da família pela qual foi criado. Sofreu ao pensar na vida que poderia ter tido e não teve. Além de tudo, foi a causa das brigas eternas do seu pai e sua mãe por não se parecer com ninguém da família de ambos. Seu pai chamava sua mãe de Capitu.

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

Quando começou a namorar, foi outro azar. Das gêmeas da rua, o coitado acabou se casando com a mais histérica, nervosa e consumista. A mulher era uma barraqueira daquelas. Qualquer coisa já rodava a baiana. Não tinha um minuto de sossego em casa. A mulher era uma chave de cadeia, diziam as más-línguas do bairro.

Como seu nome era popular, foi preso por engano por anos por um crime que não cometeu. Até descobrir que não era o criminoso, comeu o pão que o diabo amassou na prisão. Pagou todos os seus pecados e mais algumas coisas.

Quando saiu da prisão, o seu advogado lhe deu uma boa notícia: vamos processar o Estado e você receberá uma indenização milionária. Enfim, você terá sorte na vida. Ele nem acreditava, pois era um azarado contumaz. Mas acreditou no advogado. E deu um sorriso. Dessa vez, a urucubaca passaria bem longe dele, comentavam todos no seu aniversário, com muito samba, picanha e cerveja.   

Rubinho Giaquinto é covereador pela Coletiva em Belo Horizonte.

--

Leia aqui mais crônicas da coluna de Rubinho Giaquinto.

Edição: Elis Almeida