Minas Gerais

FOLIA

Carnaval 2023: concurso de escola de samba na Afonso Pena e mais de 112 blocos pelas ruas de BH

Além da festa, evento também é importante ferramenta política e fonte de renda para a cidade

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Concurso das Escolas de Samba de Belo Horizonte acontece entre os dias 20 e 21 de fevereiro - Foto: Amélia Gomes / Brasil de Fato

Em Belo Horizonte, os tambores já estão rufando! A capital mineira, que tem se destacado como um dos principais destinos para o carnaval, espera receber pelo menos 5 milhões de foliões no próximo mês. Após dois anos suspenso, por causa da pandemia, a previsão é que 112 blocos saiam às ruas entre os dias 4 e 26 de fevereiro. Além dos blocos, o concurso das escolas de samba e os desfiles momescos também compõem a programação oficial da festa.

 

Resistência e ancestralidade

O carnaval sempre foi tradição na cidade, mas ganhou fôlego em 2011, com a retomada política da manifestação artística, puxada principalmente pelo movimento “Praia da Estação”, que contestava as limitações impostas pelo então prefeito Márcio Lacerda ao uso do espaço público na capital.

Precursor dessa jornada, o bloco Filhas de Gaby desfila há mais de dez anos pelas ruas de Belo Horizonte. A proposta do grupo é enaltecer os ritmos e a cultura brasileira, com referências clássicas do repertório mineiro, como as canções de Milton Nascimento. Neste ano, o tema do cortejo será “Vermelhou”.


Gaby Aragão: "É um bloco que está sempre ligado à política, aos debates sociais, aos temas do meio ambiente" / Foto: Amélia Gomes / Brasil de Fato

Gaby Aragão, uma das fundadoras do bloco, explica que a preocupação em manter o caráter político da festa é uma das prioridades do grupo. "É um bloco que está sempre ligado à política, aos debates sociais, aos temas do meio ambiente. Essa é a nossa proposta”, pontua. Gaby conta ainda que, além da luta, outro diferencial do bloco é a união com a banda “Os desgarrados”, o que anima ainda mais a festa. Além disso, o Filhas de Gaby conta com um pole dance montado sobre um capô de um fusca, em que músicos, cantores e foliões sobem durante o cortejo.

Um dos blocos mais simbólicos do carnaval de Belo Horizonte é o Angola Janga, inspirado no patrimônio baiano Ilê Aiyê. Alex Teixeira, cantor e produtor do grupo, explica que o bloco nasceu a partir de um incômodo dos foliões Nayara Garófalo e Lucas Nascimento que vivenciaram episódios racistas em outros blocos da capital e convocaram outras negras e negros a construírem outra proposta de organização da festa.


Alex Teixeira, cantor e produtor do Bloco Angola Janga: "O cortejo deste ano promete" / Foto: Amélia Gomes / Brasil de Fato

“O Angola Janga é um projeto social, cultural, pedagógico e também um coletivo de emancipação e de antirracismo para a cidade de Belo Horizonte”, declara Alex. Com a retomada dos ensaios e do carnaval, a expectativa do Angola é de muita festa.  “Logo que a gente voltou com os ensaios no ano passado, foi impossível conter as lágrimas. O cortejo deste ano promete”, anseia.

:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::

Superação e desafios pós-pandemia

Durante a pandemia, as entidades carnavalescas de Belo Horizonte se desdobraram para conseguirem manter viva as manifestações, realizando desde ensaios virtuais a vaquinhas. Em 2022, o desfile de rua foi cancelado nas vésperas da festa, por causa da alta dos casos de covid-19. A edição deste ano e o financiamento das entidades só foram confirmados recentemente.

Além dessas questões, as Escolas de Samba, por exemplo, enfrentam dificuldades estruturais, como a falta de profissionais especializados. “O fato de Belo Horizonte ter ficado durante 12 anos sem carnaval de passarela fez com que nós perdêssemos essa hereditariedade do profissional de carnaval. E isso é uma grande dificuldade que nós temos”, relata Carlos Damasceno, presidente da Escola Canto do Alvorada. “Uma outra grande dificuldade é que o recurso só chega em cima da hora. Não tem como você fazer carnaval com o financiamento chegando a dez dias da festa”, completa.


Produção de fantasias no Canto do Alvorada / Foto: Amélia Gomes / Brasil de Fato

A Canto do Alvorada existe desde 1970 e foi a campeã do último carnaval. Neste ano, a escola prepara um enredo para homenagear os artistas mineiros, celebrando a existência do Palácio das Artes, principal palco da cultura em Minas Gerais. Matheus Gomes, diretor carnavalesco do grêmio, acredita que o tema vai garantir o título de bicampeã para a Escola. “Vai estar tudo grandioso, muito bem-acabado. Vamos apresentar uma escola digna para mineiros”, afirma.

O concurso das Escolas de Samba de Belo Horizonte acontece entre os dias 20 e 21 na Avenida Afonso Pena, no Centro, entre as esquinas da Rua da Bahia e Carandaí. As entidades do Grupo de Apresentação desfilam no dia 20, após o término dos Blocos Caricatos. Já as escolas dos Grupos Especial e de Acesso saem às ruas no dia 21.

Geração de renda

Mais de 16 mil ambulantes estão cadastrados na Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para trabalhar durante a folia. O número é 10% maior do que em 2020. De acordo com a prefeitura, 27% dos cadastros solicitados são de trabalhadores que, pela primeira vez, vão comercializar produtos na festa.

A expectativa dos vendedores é lucrar cerca de R$ 4 mil no período. Aqueles que se cadastraram já podem retirar, até o dia 4 de fevereiro, o crachá de identificação. O uso da credencial é obrigatório durante a folia.

Se programe

Se você está na capital mineira, já pode aproveitar os ensaios dos blocos de rua. Uma dica é o Armazém do Campo, no bairro Barro Preto, que diariamente sedia os eventos.

Para ajudar na programação, voluntários têm organizado planilhas com as informações sobre os desfiles e cortejos. Você pode acessar uma delas neste link.

Edição: Larissa Costa