Celebremos as lutas na alegria e na festa
Por Dário 4e20
A política das ruas é talvez a mais viva expressão de como a democracia se faz realmente pelo dissenso, pela diversidade. Em mais de uma década, essa política dos afetos explodiu em Belo Horizonte ecoada por marchinhas de carnaval. Embalada pelo movimento dos corpos e reivindicando a experiência mágica de viver uma cidade livre, nasce uma folia histórica. E ela voltou.
O carnaval de 2023 em Belo Horizonte foi um marco. Depois de dois anos sem a festa momesca, por causa da pandemia, foram quase 500 blocos cadastrados e mais de 16 mil ambulantes. A expectativa foi superada e 6,5 milhões de foliões ocuparam as ruas, ou seja, o maior carnaval da história da capital mineira.
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Mas, como está aquele "carnaval de rua e de luta" de 2009, que ressurgiu junto com a Praia da Estação como manifestação contra o ex-prefeito Márcio Lacerda?
Está mais vivo e versátil do que nunca!
Naquela época, os blocos surgiram para reivindicar o direito de viver a cidade, enfrentar a gentrificação e a regulamentação excessiva para fazer eventos nas ruas, como o Bloco da Praia. Mas também surgiram para celebrar as ocupações urbanas e os rios esquecidos, como o Tico Tico Serra Copo. Surgiram pela cultura e por uma nova forma de se relacionar com o espaço e tempo na capital mineira.
Agora, 15 anos depois, o que temos é uma variedade enorme de blocos que continuam fazendo jus à frase "carnaval de rua e de luta". É o Angola Janga transformando o centrão em Wakanda, o Seu Vizinho juntando a velha guarda do Serrão com a nova geração do funk, as sapabis manobrando o Truck do Desejo, as minas botando a boca no trombone no Sagrada Profana e o Tchanzinho Zona Norte lutando contra a repressão policial e pelo simples direito de tocar pagode no bairro Primeiro de Maio.
Claro, existem outras centenas de grupos de pessoas colocando suas bandeiras/estandartes na rua e não caberiam neste texto. Mas hoje, vou falar de um deles: o Bloco do Manjericão, do qual faço parte.
Não se faz festa porque a vida é boa, mas pela razão inversa
Inspirado no bloco Segura a Coisa, de Olinda, o Bloco do Manjericão nasceu em 2011, às 16h20 (vulgo 4e20) da quarta-feira de cinzas, quando saiu pela primeira vez. Homenagear a especiaria verdinha foi a forma que a galera achou de burlar a repressão e pautar um debate central, que afeta a vida de todas as pessoas.
Desde então, o bloco antiproibicionista vem abrindo espaço para movimentos sociais ligados à legalização da maconha e à proteção do meio ambiente. Uma das preocupações é sempre fazer o roteiro próximo às áreas verdes, como o Parque do Nado, a Serra do Curral e o Mirante do Taquaril, que já foram rotas para o cortejo.
Celebremos as lutas na alegria e na festa. Como diz Luis Antônio Simas, “não se faz festa porque a vida é boa, mas pela razão inversa”. Nossa resistência é deitar no cimento e ser feliz.
Bom carnaval, Belo Horizonte!
Dario 4e20 é ativista pela legalização da maconha, integrante do Bloco Manjericão, membro do PSOL e do mandato da vereadora de Belo Horizonte Iza Lourença.
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
Edição: Larissa Costa