Minas Gerais

MESQUINHARIA

De acordo com sindicato, RH recomendou que jornalista venda “empadinhas” na Rádio Inconfidência

Governo Zema demitiu os dois trabalhadores mais velhos da casa sem aviso prévio e sem pagamento de fundo de garantia

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Na avaliação do SJPMG, as dispensas são, na realidade, mais um passo no objetivo do governador mineiro de privatizar a operação da rádio. - Foto: @jornalistasdeminas

Em Belo Horizonte, uma manifestação, em frente à sede da Empresa Mineira de Comunicação (EMC), na tarde de quinta-feira (2), denunciou a demissão dos dois mais velhos funcionários da Rádio Inconfidência, a rádio pública de Minas Gerais.

Responsável pela convocação do protesto, o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais (SJPMG) denunciou que os trabalhadores não tiveram aviso prévio, nem receberam o fundo de garantia. Os anos de contribuição com a emissora terminaram sem muitas explicações, restando apenas uma carta de agradecimento.

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Um dos funcionários dispensados foi o locutor e jornalista Ricardo Parreiras, de 95 anos, que apresentava o programa Clube da Saudade, e já possuía 74 anos de casa, sendo o profissional mais antigo. Maria Lúcia Carneiro, de 84 anos, 35 na rádio, trabalhava como programadora musical da emissora. Outros três trabalhadores também foram demitidos.

Além do descaso com os profissionais, Ricardo Parreiras destacou durante a manifestação que a ação do governo de Romeu Zema (Novo) também foi desrespeitosa com os ouvintes da rádio, com os quais o locutor nutre relação há mais de duas décadas.

“Deram um tapa na cara dos ouvintes. É um absurdo tirar do ar um programa que existe há 25 anos e não falar nada com ninguém. Eles merecem respeito. Eu tinha que agradecer, falar, me despedir. Mas não me deram essa oportunidade”, lamentou o jornalista.

A presidenta do SJPMG, Alessandra Mello, informou que o sindicato irá produzir, junto a Ricardo Parreiras, seu programa de despedida, que deve ir ao ar nas plataformas digitais da entidade na próxima semana.

A falta de tato com Maria Lúcia foi ainda mais chocante. Em um áudio obtido pelo sindicato, é possível ouvir o setor de recursos humanos (RH) da empresa recomendando que a profissional venda “empadinhas” na emissora.

Autoritarismo

Outro profissional demitido foi Miguel Rezende, que era coordenador da frequência AM da rádio. Para ele, as demissões foram autoritárias e representam mais um ataque ao patrimônio mineiro, promovido pelo governo do estado.

“É uma coisa afrontosa. Vai acabar com o patrimônio imaterial de Minas Gerais. A Rádio Inconfidência é uma bandeira do estado. Esse governo não tem moral para mexer nem com a rádio nem com a Rede Minas”, comentou durante a manifestação.

Na avaliação do SJPMG, as dispensas são, na realidade, mais um passo no objetivo do governador mineiro de privatizar a operação da rádio.

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“A Inconfidência tem hoje em sua folha 60% de funcionários indicados pelo governo Zema. Os demais, que são concursados, são alvos constantes de ataques pelo comando da empresa, que não cumpre a legislação trabalhista e vem sendo alvo de diversos processos na Justiça”, critica o sindicato em nota.

Argumento mesquinho

Desde o ano passado, a demissão dos cinco funcionários vem sendo programada pelo governo Zema. O motivo é um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), que não assegura estabilidade a servidores não concursados cinco anos antes da promulgação da Constituição Federal de 1988.

No final de 2020, a rádio lançou o Programa de Desligamento Voluntário (PDV). Na época, o SJPMG já havia denunciado que o objetivo era demitir cerca de 40 funcionários de seu quadro.

“Discriminatório, o PDV não abrange todos os funcionários e tem como alvo principal os funcionários mais idosos da rádio. Além de preconceituoso, o PDV quer demitir funcionários que são verdadeiros patrimônios do rádio mineiro”, alertou o sindicato, em nota publicada na ocasião do lançamento do programa.

Outro lado

Procurado pela reportagem, o governo de Minas afirmou em nota que acatou o entendimento adotado pelo STF e que a decisão foi tomada por uma “obrigação jurídica”. 


 

Edição: Larissa Costa