Seu Raimundo murmurou: “cadê a música desses meninos?”
“A música atual está entregue às moscas?”, perguntou seu Raimundo, um grande violeiro do sertão mineiro, que estava encostado numa cerca de arame farpado e conversando com seus cumpadis da roda das toadas. Domingo de manhã não falha. Não importa se faz sol ou chuva, lá estão os velhos amigos para uma boa conversa, cachaça e muita música. Na tenda do Tõe Caninha.
Ele diz que não entende nada que o povo canta ou toca na música moderna. Há uma repetição de palavras monossilábicas. E o povo mais faz gestos que canta. Você não sabe se é música, filme ou propaganda de refrigerante.
Ele fala que não tem preconceito com nenhum estilo de música. Escuta de tudo um pouquinho, que a música pode ser simples, mas tem que ter harmonia, melodia e poesia. Mas seu coração gosta mesmo é das músicas do tempo do onça. Das antigas.
Pro papo não ficar chato e careta, eles voltam a tocar:
- Cumpadi, faz um lá menor aí.
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E o pau volta a quebrar com mais música.
De repente, chegam uma jovem e um jovem na roda e pedem pra cantar uma música. Seu Raimundo cabisbaixo pensa baixinho:
“Eles vão cantar o quê? Sem nenhum instrumento na mão? O menino parece mais um jogador de basquete. Leva jeito pra música não. A menina parece mais uma atriz americana”. Mas deixou a molecada se apresentar.
Eles tiraram da mochila um notebook e uma caixa de som bem pequena. Pediram atenção e mandaram o som. Seu Raimundo murmurou: “cadê a música desses meninos? Fica só num ritmo? Repetindo só uma palavra? Eles fazem mais gesto que qualquer outra coisa”.
A apresentação acabou. Para seu Raimundo, eles fizeram tudo, menos música.
Seu Raimundo, com um tom muito bem-humorado, dá uma risada e diz:
- Nós vai num progresso doido!
Rubinho Giaquinto é covereador pela Coletiva em Belo Horizonte.
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Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal
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Edição: Elis Almeida