Nosso povo não deve permanecer no quarto de despejo
No dia 8 de março nós lembramos o Dia Internacional da Luta das Mulheres. Ainda sem resposta, o dia 14 é marcado pelo assassinato de Marielle Franco. Esses e outros fatos mostram que nós, mulheres, não temos o que comemorar, receber flores e permanecer na inércia, acreditando que está tudo bem.
Na verdade, os avanços que temos ainda não são insuficientes e, por isso, manifestamos de diversas formas e lutamos todos os dias. Usamos nossa voz para dizer: parem de nos matar, de nos discriminar e diminuir nossos direitos. Diversos atos pelo Brasil - e pelo mundo - reivindicaram o direito à vida, à saúde, ao trabalho, à liberdade, à igualdade de gênero. Mais que isso, nós precisamos de reparação.
Carolina Maria de Jesus, uma mulher negra, favelada e mãe solo já registrava – a partir de 1955 - o cotidiano dessa vida que levava no “quarto de despejo” e que ainda é a realidade de muitas mulheres no nosso país. Na época, ela já analisava o cenário político, social e denunciava o que ainda é uma realidade hoje: “quem passa fome aprende a pensar no próximo”.
De lá pra cá, o que mudou?
Ainda temos quem viva no “quarto de despejo” e na senzala. São vítimas da fome, da desigualdade, do racismo estrutural e estruturante. Carolina Maria de Jesus, assim como Marielle Franco e outras mulheres que vieram antes de nós, colocam o dedo na ferida e também mexem com a vaidade de parte da sociedade que não quer acabar com o “quarto de despejo”, com a senzala e o navio negreiro.
Isso acontece quando lutamos pelos direitos humanos, das mulheres, dos negros, da comunidade LGBTQIAPN+. Quando denunciamos a violência policial e a militarização das comunidades pobres. Quando defendemos a diversidade e a inclusão social. Marielle Franco teve uma vida transformada em luta e seu assassinato é mais um atentado contra os direitos humanos e à democracia, uma vez que ela foi morta por defender valores fundamentais de uma sociedade justa e igualitária.
:: Receba notícias de Minas Gerais no seu Whatsapp. Clique aqui ::
A violência política existe, tem gênero e raça, pois somos nós, mulheres pretas, que sofremos a maior parte dos ataques. Seja por medo ou covardia, tentam nos parar, nos silenciar e nos colocar em lugares de exclusão na tentativa de não conseguirmos ser o que o povo nos confiou como representação política.
A implementação de uma política de proteção das mulheres é fundamental para garantir que mulheres possam viver com dignidade e segurança, sem medo de sofrer violência ou discriminação. Mas como seguir com esse objetivo de nos defendermos se somos barradas dentro do legislativo? Repito: será medo ou covardia?
Promover a igualdade de gênero envolve trabalhar para eliminar essas desigualdades, criando um ambiente em que todos os indivíduos tenham as mesmas oportunidades e sejam valorizados por suas habilidades e realizações, independentemente do seu gênero. Não podemos permitir que nosso povo volte para a senzala e nem permaneça no “quarto de despejo”. É por isso que março significa a nossa luta, por Marielle, por Carolina e outras mulheres que lutam contra a violência política.
É preciso reparação já!
Andreia de Jesus (PT) é educadora popular, advogada, mãe solo e deputada estadual em Minas Gerais.
--------------
Este é um artigo de opinião e a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.
-----------------------
Leia outros artigos da coluna de Andreia de Jesus.
Edição: Elis Almeida