Minas Gerais

COMPORTAMENTO

WhatsApp: estabelecer limites e praticar o bom senso é fundamental para a saúde mental

Para psicólogo, disponibilidade ininterrupta promovida pela tecnologia aumenta o cansaço e o estresse

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
A ampliação do uso do WhatsApp trouxe o fim das fronteiras entre os ambientes privado e público - Foto: Marcello Casal Jr / EBC

Uma das heranças deixadas pela pandemia da covid-19 foi o uso exacerbado das redes sociais, sobretudo do WhatsApp. Com o isolamento social, a ferramenta se tornou indispensável, seja para os estudos, trabalho ou mesmo para a relação cotidiana com família e amigos.

Entretanto, a disponibilidade ininterrupta, ou seja, a obrigação de estar o tempo todo online, o hábito de responder imediatamente todas as mensagens que chegam e ainda a expectativa de que todas as pessoas devam se comportar assim, tem se tornado prejudicial à saúde mental.

O psicólogo Samuel Silva, especialista em terapia analítico-comportamental, ressalta que o uso ilimitado das redes sociais trouxe uma distorção sobre a lógica humana de funcionamento. Com isso, segundo ele, a tendência é acreditar que o comportamento das pessoas deve ser igual ao das tecnologias: instantâneo.

“Isso impacta drasticamente em um aumento nos níveis de cansaço, sobrecarga, estresse e ansiedade”, reforça.

Limite entre trabalho e vida social é fundamental

A ampliação do uso do WhatsApp também trouxe outro impacto: o fim das fronteiras entre os ambientes privado e público, e de marcadores cotidianos, como o início e o fim do horário de trabalho.

Incomodado com a situação, o servidor público Paulo Henrique Santos, por exemplo, adotou o uso de dois números de WhatsApp, um para assuntos profissionais e outro de uso pessoal.

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“Se alguém entra em contato comigo fora do horário de trabalho, o aplicativo dispara uma mensagem avisando que naquele momento eu não estou disponível”, explica.

Atualmente em regime híbrido (remoto e presencial), o trabalhador acredita que a atitude foi fundamental para romper com a rotina imposta pela pandemia. “Eu me conscientizei para não sofrer com essa ‘síndrome de ultradisponibilidade’. Assim, eu consigo administrar melhor meu tempo de trabalho, de lazer e de estudos”, afirma.

Desumanização da sociedade

O psicólogo Samuel alerta ainda que é preciso uma atenção coletiva para os rumos do uso das tecnologias. Ele teme que, caso não haja uma reflexão crítica sobre a situação, o comportamento pode levar a uma desumanização da sociedade.

“Corremos o risco de passar a acreditar que a tecnologia é que comanda o nosso processo social. E que a lógica humana é mais devagar, é falha, nos espelhando cada vez mais no funcionamento das tecnologias. Isso nos desumaniza, compromete nossa criatividade, identidade, nossa forma de relacionar, trabalhar e de estar no mundo”, alerta.

Edição: Larissa Costa