Minas Gerais

RETROCESSO

MG: Reforma Administrativa leva licenciamentos para Feam e fragiliza gestão ambiental

Especialistas argumentam que proposta não tem embasamento técnico e pode causar danos à população e ao meio ambiente

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |
Entre as propostas está a atribuição das competências do licenciamento ambiental para a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) - Foto: Reprodução/ Omar Feire/ Imprensa MG

Aprovado em primeiro turno na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o projeto de lei 358/2023, que trata sobre a reforma administrativa proposta pelo governo de Romeu Zema (Novo), pode representar retrocessos na política ambiental do estado.

Entre as propostas de mudanças feitas pelo governador está a atribuição das competências do licenciamento ambiental para a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam). Até então, a responsabilidade é da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), que passará a responder apenas pela fiscalização.

Licenciamento ambiental passará para Fundação, favorecendo mineradoras

Na avaliação de ambientalistas, a medida tem como pano de fundo a intenção do governo de acelerar a autorização para empreendimentos que podem gerar danos à população e ao meio ambiente. Além disso, os críticos à proposta argumentam que não houveram estudos técnicos que justifiquem a mudança.

“O que os servidores querem é que haja um aprofundamento técnico para que não tenhamos impactos ambientais no futuro e nem sobreposição de decretos. Por exemplo, se ficar alguma lacuna, o governador poderia fazer decretos sem passar por avaliações de especialistas”, destaca Regina Pimenta, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos do Meio Ambiente no Estado de Minas Gerais (Sindsema).

Quando o PL ainda estava em discussão nas comissões da ALMG, os servidores da Feam endereçaram uma carta ao parlamento mineiro questionando a proposta. No texto, eles afirmam que a fundação é colocada como “alvo” pela gestão de Zema, com o objetivo de “abafar os escândalos ocorridos no licenciamento ambiental”.

Eles argumentam que, neste momento, para melhorar a gestão ambiental de Minas não é preciso mudanças nas estruturas, mas a superação de “comportamentos lesivos e abusivos ao meio ambiente”.

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Em artigo publicado no Brasil de Fato MG, a deputada estadual Bella Gonçalves (Psol) alerta que a medida pode tornar ainda pior o processo de fiscalização da atuação de mineradoras no estado.

“A fiscalização de barragens acontece de forma insatisfatória, mas seria reduzida a pó caso a Feam seja sobrecarregada com o licenciamento ambiental e as intensas pressões dos empresários aliados de Zema”, avalia a parlamentar.

A reforma ainda propõe a criação de uma diretoria específica na Feam para temas que envolvam mineração e indústria. Nas redes sociais, a deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) avaliou que, na realidade, o objetivo da medida é “a priorização de licenciamentos ambientais” e atender aos interesses das mineradoras e do empresariado mineiro ligado à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

A medida ainda prevê a transferência de competências do Instituto Estadual de Florestas (IEF) para a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). Uma das mudanças mais criticadas é que a secretaria passe a cuidar das florestas plantadas.

Uma das prioridades do governo de Minas, a reforma aguarda votação em segundo turno na Assembleia Legislativa.

O que diz o governo

Confrontado com as preocupações sobre os impactos do PL 358/2023 na gestão ambiental, a secretária de Estado de Meio Ambiente, Marília Carvalho, afirmou em audiência pública na ALMG, no final do mês passado, que a administração direta deve ser responsável pelo planejamento da política pública e a indireta pela execução.

Por isso, segundo ela, o licenciamento ambiental deve ficar sob responsabilidade da Feam e a fiscalização fica a cargo da Semad.

Edição: Elis Almeida