Aumento do próprio salário em 298%, privatização de estruturas da saúde pública, extinção de fundação educacional voltada para jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade, redução de impostos para locadoras de veículos e relativização da gravidade dos atos golpistas em Brasília. Essas são apenas algumas das medidas e posturas que Romeu Zema (Novo) tentou emplacar em seus 100 primeiros dias de gestão.
Com base ampliada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), o início do segundo mandato do governador foi marcado por uma relação mais próxima ao parlamento e pela tentativa de aprovar medidas impopulares na Casa.
Para o deputado federal por Minas, Rogério Correia (PT), a condução de Zema pode ser caracterizada como “ruim e sem planejamento”.
“As demandas populares, como políticas de moradia, melhorias no sistema educacional, melhoria nos serviços públicos e nos salários dos servidores, no sistema de saúde e o combate à fome, não são atendidas”, avalia o deputado.
Ele acredita que, ainda que as prioridades de Zema nesses 100 dias estejam em consonância com a política econômica e social desenvolvida em seu primeiro mandato, o governador assume a segunda gestão com tom mais explícito de “arrogância”.
“É um governo que julga, por ter vencido a segunda eleição, que não precisa adotar medidas nas áreas sociais, nem de infraestrutura. Ele espera que apenas os ataques que ele faz ao Partido dos Trabalhadores e à oposição possam sustentar, a partir do ódio, algum tipo de popularidade”, comenta Rogério Correia.
Governador aumentou o próprio salário em 298%
O deputado também avalia que, por exemplo, ao defender o reajuste de seu próprio salário e que o Novo passasse a utilizar recursos do fundo partidário, práticas antes criticadas pelo governador, Zema está mostrando à população mineira “quem ele realmente é”.
“Se no passado ele fazia um discurso, mesmo que demagogo, de que sequer teria salário, hoje a máscara caiu definitivamente e a vergonha na cara não existe mais”, conclui Rogério.
Enquanto a base de Zema aprova na ALMG um aumento estratosférico para o governador e seu secretariado, ao longo de toda a gestão do Partido Novo em Minas, nenhuma categoria do funcionalismo público foi atendida em suas reivindicações salariais.
Na realidade, além de argumentar que o Estado “não possui pote de ouro”, o governo de Minas penaliza trabalhadores e sua representação sindical que reivindicam melhores condições.
O exemplo mais emblemático é o dos profissionais da educação. Além de não pagar o piso salarial dos professores, que hoje possuem vencimento básico de R$ 2.350,49, Romeu Zema judicializou uma greve realizada pela categoria, culminando em multa milionária e no bloqueio das contas do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE/MG).
Na Assembleia de Minas, a base aliada do governo ainda tenta aprovar um projeto de lei que reduz impostos e perdoa dívidas de locadoras de veículos. A principal beneficiada da proposta seria a Localiza, do grupo de Salim Mattar, que também foram os principais doadores de campanha de Zema.
Estado mínimo
Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), Jairo Nogueira, a intenção demonstrada pelo governador é de fazer do estado um laboratório de implementação do projeto político e ideológico do Partido Novo e projetar seu próprio nome no cenário nacional.
“É o empresariado entrando em todos os setores de Minas. Zema quer transformar o Estado naquilo que ele e o Novo acreditam ideologicamente, que é o Estado mínimo, para tentar ser o candidato da direita nas eleições presidenciais de 2024”, avalia o sindicalista.
Com o projeto de lei 358/2023, que trata sobre a reforma administrativa, aprovado em primeiro turno na ALMG e aguardando a votação em segundo, o governo buscou facilitar a entrada de Organizações Sociais (OS) privadas em áreas como a saúde, a educação e a segurança pública.
As mudanças ainda devem trazer impactos nas políticas ambientais, ao facilitar a concessão de licenciamento a grandes mineradoras, e na política de segurança alimentar e nutricional, ao extinguir diretoria da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese/MG) responsável pela área.
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A reforma administrativa de Zema também cria a Secretaria Estadual de Comunicação e vincula a Empresa Mineira de Comunicação (EMC), responsável pela Rede Minas e pela rádio Inconfidência, à nova pasta.
Os trabalhadores temem que as emissoras, conhecidas como patrimônio cultural do estado, sejam transformadas em canais de propaganda do governo. Os 100 primeiros dias de mandato do governador também foram marcados por demissões na EMC e censura de artistas.
Nesse curto período de tempo, o governador ainda empenhou esforços para pautar as vendas do metrô de Belo Horizonte e da CeasaMinas, articuladas na gestão de Jair Bolsonaro.
Edição: Elis Almeida