Minas Gerais

PRECIOSIDADE

Laércio Vilar, um dos pioneiros do free jazz mineiro, lança álbum visual e documentário

Quatro composições inéditas e entrevistas em vídeo e poesias compõem o projeto Jazz Suburbano

Belo Horizonte (MG) | Brasil de Fato MG |

Ouça o áudio:

A obra poética é resultado de 3 dias de gravação no estúdio Gunga, em Belo Horizonte - Foto: Jazz Suburbano

Um dos mais antigos bateristas de Minas Gerais, Laércio Vilar lança de forma virtual e presencial quatro músicas inéditas no estilo free jazz. De forma improvisada, ao lado de Noca Tourino, na guitarra, e João Bucha, no contrabaixo, nasceram as composições: “Dilúvio de rosas”, “O amanhã de ontem”, “Sempre vida” e “Senha do futuro”, disponíveis no Spotify e YouTube.

A obra foi gravada durante três dias no estúdio Gunga, da Associação de Educação e Cultura Flor do Cascalho, com idealização da Almaz e produção da OM Filmes (MG), em parceria com a Opoente Filmes (SP). Foi realizada por amigos e familiares com recursos oriundos do edital Descentra 2021, da Lei Municipal de Cultura de Belo Horizonte. A gravação também resultou em um documentário sobre o processo criativo dos artistas, além dos vídeos das próprias improvisações, que tiveram Laércio como compositor e diretor musical, e Noca Tourino na construção harmônica e melódica.

 

 

Espaço negro

O projeto Jazz Suburbano imortaliza a singular composição artística de Laércio Vilar, mas também tem o objetivo de realizar uma “reparação cultural” do protagonismo dos artistas negros, que sofrem com a apropriação cultural desde antes da criação do estilo jazz.

“O jazz era uma revolta: toda vez que o negro criava um tema, o branco imitava e fazia sucesso e eles ficavam pobres. Então, eles ficaram sempre mudando o jazz, mudando, mudando, mudando…”, contou Noca Tourino, relembrando a história sistematizada pelo autor Leonard Feather no livro The Biographical Encyclopedia of Jazz, ou A Enciclopédia Biográfica do Jazz, em tradução livre.

Jazz Suburbano é um selo que tem o propósito de proporcionar oportunidade para artistas do cenário jazzístico mineiro periférico, que buscam visibilidade para suas expressões artísticas nas gravações de álbuns solos com financiamentos por meio de um selo de jazz representativo.

"Surge a partir da relação dos produtores de Laercio e a percepção de como a interface entre sujeito, história e território podem iluminar e libertar os trabalhos dos artistas negros, suprimidos pelo processo colonial, localizados muitas vezes nas periferias do Brasil, a fim de mostrar o potencial artístico cultural único expressado hoje por músicos de várias regiões do Brasil, entre tantos outros desconhecidos das novas e velhas gerações do jazz espalhados por aí", afirmam os produtores.

História

Laércio Vilar é um artista belo-horizontino, considerado um patrimônio cultural no estilo free jazz de Minas Gerais desde a década de 1980, quando iniciou a sua trajetória autoral ao lado de parceiros de música como Toninho Horta, Chico Amaral, Marilton Borges, Beto Lopes, entre outros.

O músico passou por problemas quando começou a querer inverter a ordem dos instrumentos no palco. Em toda banda, a bateria é colocada atrás dos outros instrumentos e, junto com o contrabaixo, dá a base da música e por isso recebem o apelido de “cozinha”. Porém, o baterista achava que o fundo do palco não era o lugar onde ele gostaria de tocar para sempre, e que a bateria poderia não só ocupar a frente do palco como protagonizar arranjos.

“A bateria sempre foi um pano de fundo. Antigamente, nem a chamavam de bateria, era ritmista. Sempre foi um instrumento da ‘cozinha’. Mas poxa! É lá que está a fogueira!”, declarou em entrevista ao Brasil de Fato MG, em 2018.

“Eu pus a bateria na frente e fiz a hierarquia com um triângulo no palco. Daí, as chamadas para tocar se escassearam. Foram me cortando. De repente nem casa noturna mais, nem para tocar bolero”, brinca Laércio.

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O músico, de quase 60 anos de carreira, nunca deixou de tocar e praticar, mas ficou fora do cenário belo-horizontino em alguns momentos de sua carreira, que em alguns períodos somaram-se décadas.

O seu retorno, depois do início do seu conjunto de trabalhos na década de 80, se deu em 2010 com lançamento do seu primeiro álbum solo denominado Carnaval Atmosférico e, agora, com o lançamento de quatro músicas pelo selo Jazz Suburbano executado em 2022.

O próximo passo, segundo a vontade do artista, é a produção em áudio e vídeo do seu segundo álbum, o Maternidade Cósmica.

Acompanhe as redes

Perfil do Instagram Laércio Vilar: @laerciovilar

Canal no Spotify: Laércio Vilar

Canal no Youtube: Laércio Vilar

Perfil do projeto: @jazzsuburbano

Edição: Larissa Costa